Peso e salário estão numa relação séria.

Os estudos acumulam~se e não é preciso procurar muito para as conclusões surgirem: as mulheres ganham menos do que os homens, em geral, e em particular, apenas por serem o que são. Mulheres.

Já perdemos a conta aos títulos de notícias que adivinham as razões das desigualdades de género. Ou serei só eu? Os estudos acumulam~se e não é preciso procurar muito para as conclusões surgirem, como por magia, com um mero clique no Google. As mulheres ganham menos do que os homens, em geral, e em particular, quando desempenham tarefas equivalentes, por serem o que são. Este fator agrava-se quando se acrescentam camadas como etnicidade, por exemplo.

As razões destas discrepâncias são evidentes e incontestáveis: as mulheres ganham menos do que os homens por uma mera questão biológica. São mulheres. E isso, ainda que possa, nesta altura da história, não definir o percurso e o acesso à educação básica que lhes — nos — permite ser mais letradas e com mais formação, em média, do que os homens, vai, a médio prazo, garantir-lhes um acesso com um bónus de discriminação apenas de género. Por serem mulheres, terão menores probabilidades de chefiar uma empresa, um departamento, ganhar mais do que os seus colegas mesmo que desempenhem papéis de igual relevância nas empresas, e assim continua.

De acordo com números da CGTP, no 4.º trimestre de 2022 o diferencial de salários entre homens e mulheres chegava aos 16%, “mesmo tendo aquelas, em média, níveis de habilitação mais elevados (por exemplo, 61% dos trabalhadores com ensino superior são mulheres)”.

Não queria entrar em 2023 a falar sobre estes mesmos temas sobre os quais troquei opiniões convosco durante o ano passado. Porém, esta semana dei de caras com este artigo. Num especial que preparou com “artigos do Natal”, a revista The Economist traça uma linha direta entre o peso das mulheres, o acesso que têm a progredir na carreira e, consequentemente, a forma como o seu peso parece variar numa relação inversa ao valor do seu salário. Ou seja, quanto mais magras, maiores os seus rendimentos.

Sim, hoje venho falar-vos da “economia da magreza“. A revista intitula o artigo com a seguinte frase “É racional para as mulheres ambiciosas tentarem tanto quanto possível serem magras. Isso é uma tragédia”. O artigo começa por rever historicamente a relação entre o peso (o indicador que usam, no caso, é o IMC) e o income (que engloba níveis de riqueza e salário) em euros.

A conclusão é que a evolução desta linha tem demonstrado enormes mudanças: se, há algumas décadas, as pessoas mais ricas eram, por norma, as mais pesadas — por, logicamente, terem mais dinheiro disponível, podiam alimentar-se de forma mais reforçada) –, há 20 anos esta relação inverteu-se. Hoje, no mundo que conhecemos, quando mais dinheiro disponível, maior probabilidade de as pessoas serem magras. O estudo aponta a leitura dos números para uma evidência: esta relação inversamente proporcional entre o income e o peso é muito mais verificada no caso das mulheres, sublinhando o crescimento de fenómenos como a gordofobia, que conduz a estigmas contra as pessoas com peso a mais, que aumentaram de forma intensa nos últimos anos.

Ser magra não é só desejável socialmente como, explica a revista através da leitura dos números, aporta uma maior probabilidade de salários superiores, progressão de carreira e reconhecimento. “É economicamente racional para todas as pessoas dedicar tempo à educação porque tem claros retornos no mercado de trabalho e para futuras progressões. Da mesma forma, parece ser economicamente racional para as mulheres perseguir a magreza. A obsessão pela quantidade e tipo de comida ingerida e por aulas de exercício físico da moda são investimentos que trazem retornos, ao contrário de no caso dos homens”.

Só faltava esta camada “adiposa” para compor um ramalhete de discriminação, verdade? Mais grave ainda: de acordo com inquéritos que a The Economist refere, raparigas de apenas seis anos reconhecem as expectativas sobre elas para serem magras. “A tragédia”, escreve a revista, “é não haver maneira de fugir”.

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