Fórum para a Competitividade não exclui recessão em 2023
Como "o ano de 2023 está rodeado de uma elevada incerteza, tanto poderemos ter uma recessão na economia portuguesa como um crescimento muito modesto", conclui o Fórum para a Competitividade.
O Fórum para a Competitividade estima que no quarto trimestre de 2022, a economia terá tido uma variação em cadeia entre -0,1% e 0,2%, a que corresponde uma variação homóloga entre 2,8% e 3,1%. Mas o ministro das Finanças já afastou a hipótese de o Produto Interno Bruto ter registado uma contração nos últimos três meses do ano. O economista Pedro Braz Teixeira rejeita que Portugal esteja a convergir com a União Europeia e admite a possibilidade de uma recessão em 2023.
Fernando Medina, na conferência de imprensa conjunta com os ministros da Economia e do trabalho, na passada sexta-feira, revelou que no quarto trimestre deste ano não haverá uma recessão, ao contrário do que muitos economistas anteciparam. Nessa mesma conferência, o responsável pela pasta das Finanças anunciou ainda que afinal Portugal vai crescer 6,8% este ano e não 6,5% tal como está inscrito no Orçamento do Estado para 2023. Mas, apesar de esta revisão em alta ter impacto no desempenho da economia no próximo ano, as previsões do Governo só serão atualizadas no Programa de Estabilidade que será apresentado em abril.
A atividade do quarto trimestre “está sob dois efeitos contraditórios”, justifica a nota de conjuntura do Fórum. “Por um lado, a desaceleração generalizada, com fontes externas (abrandamento da economia europeia e mundial) quer internas (subida das taxas de juro, inflação); por outro, houve pacotes de ajuda às famílias e às empresas, que terão contrariado aquelas tendências”.
Em relação ao conjunto do ano, o Fórum antecipa que o “PIB deverá ter crescido entre 6,6% e 6,7%, acima das previsões de há um ano, em torno de 5,5%”. Mas ressalva que “este aparente bom resultado decorre do facto de o nosso país estar mais atrasado na recuperação da pandemia, pelo que deve ser considerada uma boa notícia por maus motivos”.
Apesar do forte crescimento em 2022, o Fórum para a Competitividade recorda que, “entre 2020 e 2022, Portugal terá crescido anualmente apenas uma décima acima da União Europeia”. “O que, de maneira nenhuma pode ser confundido com convergência, porque a este ritmo iríamos demorar muito mais de cem anos a convergir”, sublinha Pedro Braz Teixeira na nota de conjuntura de dezembro. O economista do Fórum sublinha ainda que Portugal desceu “para um dos últimos lugares da UE”.
“Dado que o ano de 2023 está rodeado de uma elevada incerteza, tanto poderemos ter uma recessão na economia portuguesa como um crescimento muito modesto“, prevê o economista. No Boletim de Económico de outubro, o Banco de Portugal reviu em alta as previsões de crescimento para este ano de 6,3% para 6,7% e voltou a atualizá-las no Boletim de dezembro, no qual antecipa um crescimento de 6,8% em 2022. Mas depois, “a economia portuguesa abranda em 2023, para 1,5%, expandindo-se a um ritmo próximo de 2% em 2024 e 2025”. Já o Conselho das Finanças Públicas apontava para um abrandamento de 1,2% em 2023.
O Fórum para a Competitividade considera que “enquanto em 2022 a política orçamental estimulou o crescimento económico, em 2023 o mais provável é que suceda o oposto”.
Na nota de conjuntura, Pedro Braz Teixeira sublinha que 2023 será mais difícil: “O FMI considera que um terço do mundo (e metade da UE) deverá entrar em recessão em 2023, que deverá ser um ano mais duro do que 2022. Os EUA, UE e China estão a desacelerar em simultâneo, o que agrava o cenário. Pela primeira vez em 40 anos, a China deverá crescer abaixo da média mundial, passando de motor a lastro para o crescimento global”.
Em Portugal, “é provável uma nova queda dos salários reais em 2023, com a subida dos salários nominais a não conseguir acompanhar a subida dos preços, que deverão subir cerca de 6%”, antecipa o Fórum. Quebra essa que, “associada a uma também provável queda do emprego, deverá contribuir para uma grande moderação do consumo privado, que tem crescido em parte devido à diminuição da poupança, um processo que deverá estar a chegar ao limite”.
Por outro lado, as “perspetivas para o investimento são negativas, dada a evolução esperada da procura, da subida das taxas de juro e dos diferenciais de crédito” e as exportações “estão muito condicionadas pelo enquadramento externo em deterioração e pelo facto de a recuperação do turismo estar concluída, perdendo-se este elemento adicional de crescimento”, prevê a entidade.
“Assim, dado que o ano de 2023 está rodeado de uma elevada incerteza, tanto poderemos ter uma recessão na economia portuguesa como um crescimento muito modesto“, conclui o Fórum para a Competitividade.
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