Gomes Cravinho desconhecia “problema fiscal” do sócio em empresa imobiliária
João Gomes Cravinho alega desconhecer o "problema fiscal" de Marcos de Almeida Lagoa, sócio na empresa imobiliária Eurolocarno, e alega ter uma participação de 20%, sem funções de gestão.
O ministro dos Negócios Estrangeiros, João Gomes Cravinho, esclareceu esta segunda-feira que desconhecia o problema fiscal do sócio, Marcos de Almeida Lagoa, membro da sociedade imobiliária Eurolocarno.
Em declarações prestadas em Bruxelas, na Bélgica, o ministro dos Negócios Estrangeiros avançou ser sócio da empresa em questão desde 2015, embora tenha sublinhado que nunca deteve responsabilidades de gestão, dado que controla uma participação de 20%.
“Vim a saber ontem que um dos sócios tem problemas de natureza fiscal. Desconhecia por inteiro. Esses problemas nada têm a ver com a empresa e muito menos comigo”, esclareceu Gomes Cravinho. Adicionalmente, o ministro dos Negócios Estrangeiros avança que, “desde a entrada no Governo”, detém uma participação de 20%, ao invés de uma participação maioritária, “como se chegou a dizer”.
Questionado quanto à relação com Marcos Lagoa, Gomes Cravinho admitiu conhecer o empresário “há muitos e muitos anos”, mas referiu não ter conhecimento dos seus problemas com a justiça. “Nunca soube de nenhum problema judicial ou fiscal que ele pudesse ter”, reiterou.
“Queria desde já esclarecer que é inteiramente difamatória a associação a uma pessoa que era um antigo proprietário da empresa que foi adquirida”, prosseguiu o ministro dos Negócios Estrangeiros, que garantiu dirigir-se futuramente ao parlamento “para responder a todas as perguntas”.
Almeida Lagoa, que continua a ser sócio de João Gomes Cravinho na sociedade imobiliária Eurolocarno, foi um dos 11 arguidos no Processo dos CTT, em 2012, um caso que provocou 13,5 milhões de euros de prejuízo aos Correios. Em causa esteve o negócio de venda de dois edifícios dos CTT.
Um dos edifícios em questão, nomeadamente em Coimbra, terá sido vendido por 14,8 milhões de euros a um fundo de investimento imobiliário que, no mesmo dia, revendeu o imóvel por 20 milhões. Marcos de Almeida Lagoa foi condenado por fraude fiscal e ordenado a pagar 20 mil euros ao Estado, após o responsável pelo fundo ter sido considerado suspeito de receber uma comissão por parte dos gestores da então empresa pública.
Segundo notícia avançada no passado domingo pela CNN Portugal, o ministro dos Negócios Estrangeiros é sócio maioritário de uma empresa que partilha com um sócio que já foi condenado por fraude fiscal. Adicionalmente, a empresa em causa foi fundada por um outro empresário que esteve envolvido num dos maiores negócios imobiliários feitos em Portugal nos últimos anos, lesando o fundo de resolução do Novobanco em 260 milhões de euros.
“Não gostei nada mesmo de ser acusado de mentir, muito menos de mentir ao parlamento. Não há nenhuma mentira naquilo que eu disse”, disse ainda sobre o custo das obras no antigo Hospital Militar de Belém estava a derrapar.
Na sexta-feira o jornal Expresso noticiou que João Gomes Cravinho foi informado em março de 2020 de que o custo das obras no antigo Hospital Militar de Belém estava a derrapar. O chefe da diplomacia disse que vai explicar, “em pormenor”, o processo no Parlamento, adiantando que em março de 2020 a resposta à pandemia da covid-19 era “a prioridade absoluta”.
Neste caso, André Ventura acusou o ministro dos Negócios Estrangeiros de “mentir deliberadamente” ao parlamento num debate sobre investigações na Defesa e pediu a sua demissão.
Relativamente ao novo questionário do Governo a candidatos a governantes, o ministro dos Negócios Estrangeiros disse esta segunda-feira que já fez um rápido “exercício mental” olhando para as 36 perguntas do novo questionário e que não tem “dúvida nenhuma” de que responderia “sem problemas”.
“Eu já fiz muito rapidamente o exercício mental olhando para as perguntas. Não tenho dúvida nenhuma de que posso responder a esse questionário sem problemas”, declarou, quando questionado, em Bruxelas, sobre se estaria disponível a responder ao questionário, recentemente criado pelo Governo, embora este se destine apenas a futuros secretários de Estado e ministros, e não a governantes já em funções.
(notícia atualizada às 18h00)
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