Líder da Caixa antevê subida dos juros “gerível” para as empresas

Paulo Macedo relativa impacto dos juros nas empresas e estima que bancos ainda só terão completado “1.000 ou 2.000” pedidos de renegociação dos créditos à habitação apresentados pelas famílias.

O presidente da comissão executiva da Caixa Geral de Depósitos (CGD) confia que, para as empresas, a variação de 2% a 2,5% registada nas taxas de juro é apenas “um custo que acresce a todos os outros”, lembrando os aumentos muito superiores, em termos percentuais, que tiveram de suportar nos últimos meses nas despesas com transportes, energia ou matérias-primas.

“Não digo que [a escalada das taxas de juro] não afeta as empresas, mas face à proporção dos custos que têm, o seu volume total de custos é um valor gerível”, sublinhou Paulo Moita de Macedo, durante uma intervenção no primeiro Encontro Fora da Caixa de 2023, que se realiza esta terça-feira num hotel de Vila Nova de Gaia.

Já no caso dos particulares, admite que a preocupação é “maior”, pois as prestações da casa já aumentaram e as famílias “poderão ainda ter mais dificuldades” se as taxas continuarem a subir. Ainda assim, mesmo avisando não poder falar por todos, a “sensibilidade” diz-lhe que os bancos em Portugal “terão alguns milhares de pedidos de reestruturação, mas feitos e concretizados haverá 1.000 ou 2.000”.

Os bancos em Portugal terão alguns milhares de pedidos de reestruturação, mas feitos e concretizados haverá 1.000 ou 2.000.

Paulo Moita de Macedo

Presidente da comissão executiva da Caixa

“Ainda se está a aguardar muita informação das famílias. Há muitas famílias que querem aguardar para saber como vão evoluir as taxas de juro. Este é um problema sobretudo da classe média porque a classe baixa não teve possibilidades de se ter endividado para comprar uma casa”, justificou o líder do banco público.

Paulo Macedo sublinhou ainda que “a questão para as empresas e para os particulares é qual vai ser a evolução das taxas de juro”. “Se a inflação ficar controlada, poderão aumentar mais um pouco e depois estabilizar. Outra coisa é se inflação não estiver controlada – e aí aumentos muito significativos das taxas de juros afetarão as empresas e as famílias”, completou.

Mais grandes empresas e menos zombies

Na mesma intervenção sobre “tendências macroeconómicas e novos desafios”, o presidente da CGD lamentou ver em Portugal uma “atitude negativa em relação às grandes empresas” e alertou que é preciso “reduzir as empresas zombies, que não conseguem crescer e cumprir com as suas obrigações económicas e encargos, mas “também não desaparecem”, protagonizando uma “competição desleal” com as empresas cumpridoras.

No capítulo dos custos de contexto, Paulo Macedo aproveitou para apontar o dedo à morosidade da justiça em Portugal, notando que “ainda hoje se estão a resolver casos de créditos de grandes empresas que foram concedidos na crise de 2007 e 2008”. “Ainda estão nos tribunais a aguardar decisões, recursos, liquidações, insolvências, despachos finais. De facto, é algo em que precisamos de agir mais depressa”, resumiu.

Por outro lado, o antigo ministro da Saúde no governo liderado por Pedro Passos Coelho pediu mais atenção ao tema da governance, incluindo o exercício de fit and proper, lembrando os casos recentes que afetaram os governos no Reino Unido e em Portugal. Frisou que uma governance adequada permite “enquadrar” temas relacionados com qualificações ou conflitos de interesse e, sobretudo, como lidar com eles. “Conflitos de interesses há sempre. A questão é como são analisados e mitigados. Não é só essencial entre sócios e em conselhos de administração, mas para a organização, como um todo”, concluiu o gestor.

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