Cibercrime: falsas convocatórias policiais são a nova moda
Desde a pandemia da Covid-19, e com os consequentes confinamentos, que as denúncias de cibercrimes passaram de 193 casos para 2124.
Desde a pandemia da Covid-19, e com os consequentes confinamentos, que as denúncias de cibercrimes aumentaram em flecha. Os 193 casos de 2019 passaram para 2124, dados reportados até final de dezembro de 2022.
“As denúncias de cibercrimes recebidas pelo Gabinete de Cibercrime da PGR têm vindo a duplicar de ano para ano, em termos médios. Em 2022, foram recebidas 2.124 denúncias, quando em 2021 foram 1.160. O que mostra um aumento de 73,58% face ao ano anterior. Foram, em média, 177 denúncias mensais, sendo 359 foram encaminhadas para abertura de inquérito (mais 84%)”, diz o relatório divulgado pela PGR.
O documento, divulgado pela Procuradoria-Geral da República, denuncia que estamos perante casos de “phishing, burlas online, burlas com páginas “falsas”, burlas de venda e arrendamento de casas, defraudações na utilização de vendas online e em aplicações de MBWay, burlas com criptomoeda, burlas em relações pessoais, burla invocando pagamentos em falta, fenómeno conhecido como “olá mãe, olá pai” no Whatsapp, falsos telefonemas da Microsoft, falsas convocatórias policiais, ataques informáticos (ransomware e acesso ilegítimo), divulgação de dados privados e fotografias íntimas, discurso de ódio online, crimes contra a honra e contra a propriedade intelectual”.
O fenómeno novo que as autoridades registaram em 2022, “ganhando relevante intensidade, que se manteve ao longo de todo o ano”, passa pela expedição de milhões de mensagens, para destinatários indiscriminados com falsas convocatórias policiais. Ou seja, mensagens com documentos anexados, simulando ser uma espécie de notificação judicial, referindo que o destinatário é suspeito de diversos atos relacionados com abuso sexual de crianças. “Ao mesmo tempo, o destinatário é advertido de que, sendo alvo de uma investigação criminal, a mesma pode ser encerrada mediante um pagamento de uma quantia monetária. Caso o destinatário responda a esta mensagem, solicitando instruções para o pagamento, em resposta é facultado um NIB, para onde deve ser efetuada uma transferência – em geral, na ordem dos dois a três mil euros”, explicou o gabinete de Lucília Gago. Porém, o MP considera que este tipo de burla é bastante “rudimentar”, tal como os documentos anexos.
“Os nomes de autoridades nacionais não se afiguram, em geral, verosímeis. Porém, a verdade é que têm persistido, sendo sinalizadas com regularidade, o que indicia que os agentes do crime acabam por obter algum retorno desta atividade”. Durante o ano de 2022 foram recebidas 224 denúncias deste tipo de crime, o que significa que, numericamente, este fenómeno de cibercrime é o segundo mais frequente, sendo apenas ultrapassado em dimensão pelo phishing.
O tipo de crime mais reportado no ano passado foi o phishing, num total de 358 casos. Os mais dominantes foram aqueles em que os autores tentaram obter dados de acesso a cartões e a contas bancárias.
Outro dos fenómenos criminosos que mais motivou denúncias em 2022, num total de 84, foram as fraudes relacionadas com plataformas de vendas online e com a aplicação de pagamentos MBWay, que no ano passado atingiu muitas vítimas. Seguiram-se as burlas relacionadas com investimentos em criptomoedas, que mais do que duplicaram, tendo sido registadas 94 participações.
A burla conhecida por “olá mãe, olá pai”, que se traduz na abordagem por parte dos agentes criminosos a vítimas através da rede social WhatsApp, com o propósito de os convencer de que são os seus filhos e perderam o respetivo telefone, estando a utilizar um número provisório. O processo acaba sempre em pedidos de realização de transferências bancárias a favor de terceiros. Refere-se que este fenómeno surgiu em setembro de 2022 e em quatro meses foram recebidas 65 queixas e os pagamentos solicitados variaram entre os 750 euros e os 4 mil euros.
As denúncias respeitantes a crimes informáticos, ou cibercrimes em sentido estrito, recebidas pela linha do Gabinete Cibercrime representaram em 2022 “um conjunto significativo, tendo por vezes grande repercussão pública e mediática”, tendo “uma boa parte destas denúncias relatado ataques de ‘ransomware'”.
Destaca-se que em julho de 2022 “foi recebido um número excecional de denúncias, por ter sido identificada uma campanha criminosa específica que se dirigiu a muitas vítimas. Durante todo o mês foram recebidas 281 denúncias, correspondentes a 13,2% do total anual (2124). Nesse mesmo mês de julho foram remetidas para investigação 134 denúncias (correspondentes a 37,3 % do total das remessas do ano, que foram 359). De entre elas, 127 corresponderam a denúncias respeitantes ao fenómeno específico que se referiu, enquanto as restantes 232 respeitam a diversos fenómenos criminógenos”.
As burlas online relacionadas com vendas através de diversas plataformas, burlas com páginas “falsas” da internet e burlas no mercado imobiliário, sobretudo relacionado com arrendamento de casas de férias, estudantes e estrangeiros, são outras queixas que deram entrada no Gabinete Cibercrime, que contabilizam ainda burlas em relações pessoais e burla invocando pagamentos em falta.
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