Despedimento de presidentes é “disrupção indesejável” em fase crítica da TAP, defende Sitema
Uma mudança de gestão numa altura em que o plano de reestruturação não está concluído "não é o ideal", diz o presidente do Sindicato dos Técnicos de Manutenção de Aeronaves (Sitema).
O presidente do Sindicato dos Técnicos de Manutenção de Aeronaves (Sitema), considerou, em entrevista à Lusa, que a saída do presidente do Conselho de Administração e da presidente executiva da TAP “é uma disrupção indesejável” numa fase crítica da companhia.
“É uma disrupção indesejável numa fase tão crítica da empresa, mas é um ato que decorre das conclusões da IGF [Inspeção-Geral de Finanças], pelo que aceitamos o facto”, afirmou Jorge Alves, em entrevista à agência Lusa. Para o responsável sindical, uma mudança de gestão numa altura em que o plano de reestruturação não está concluído “não é o ideal”, porém, “se as condições não estavam reunidas para sustentar esta posição até ao fim do processo, não havia outro caminho”.
Na segunda-feira, o ministro das Finanças, Fernando Medina, e o ministro das Infraestruturas, João Galamba, anunciaram que a IGF tinha encontrado falhas graves no processo de rescisão negociado entre a TAP e Alexandra Reis, que recebeu uma indemnização de meio milhão de euros para sair da companhia aérea, por incompatibilidades com a presidente executiva, Christine Ourmières-Widener. Na sequência das conclusões da IGF, o Governo decidiu demitir a presidente executiva e o presidente do Conselho de Administração, Manuel Beja, alegando justa causa.
Quanto ao nome apontado pelo Governo para substituir os dois responsáveis, Luís Rodrigues, que transita da SATA, acumulando os dois cargos na TAP, “em princípio” até à privatização da companhia aérea, segundo João Galamba, o Sitema considerou que “as boas provas dadas no passado, enquanto CEO [presidente executivo] neste ramo, trazem algum otimismo”.
Já questionado sobre a privatização, Jorge Alves referiu que “desde que seja feita com os devidos preceitos, garantindo que a mais-valia que a TAP representa para o país esteja salvaguardada”, o sindicato não tem “nada contra”. No entanto, ressalvou, espera que “o Governo tenha a sensibilidade” de acautelar os interesses dos trabalhadores, durante o processo, “nomeadamente auscultando os sindicatos na elaboração do caderno de encargos” para a venda da companhia.
O presidente do Sitema disse ainda à Lusa que a falta de técnicos de manutenção de aeronaves profissionais na TAP, que tem perdido trabalhadores para a concorrência, põe em causa a normalidade da operação no verão. “O número de técnicos existente neste momento já tem dificuldade em dar resposta à operação nesta fase mais calma, pelo que será muito complicado garantir a normalidade numa fase tão exigente para as companhias aéreas no verão”, afirmou Jorge Alves, em entrevista à agência Lusa.
Segundo o dirigente sindical, a TAP conta atualmente com 800 técnicos de manutenção de aeronaves (TMA), que continuam a sair para outras companhias aéreas que oferecem melhores condições. Depois de ter perdido 50 TMA para outras companhias aéreas, em 2022, a TAP informou, em 25 de janeiro, numa comunicação interna a que a Lusa teve acesso, que tinha fechado um acordo com o Sitema e o Sindicato dos Trabalhadores da Aviação e Aeroportos (Sitava), com o objetivo de criar as condições para reter aqueles profissionais, e que inclui alguns “ganhos acrescidos”.
Ainda assim, segundo Jorge Alves, “as condições oferecidas pelas empresas concorrentes são de tal forma superiores, que, mesmo com o plano de retenção, as pessoas continuam a sair”. De acordo com o Sitema, para fazer face às necessidades, a TAP precisa de contratar “pelo menos, mais 200” TMA, mas, apesar de os concursos de recrutamento para o verão estarem abertos, “o número de candidaturas é ínfimo”.
O principal obstáculo à contratação, referiu, são “as condições remuneratórias muito abaixo da média do mercado”. Quanto à possibilidade de a TAP vir a recorrer novamente à contratação externa, através dos chamados contratos ACMI (sigla inglesa para avião, tripulação, manutenção e seguro), para garantir a operação de verão, o Sitema vê a hipótese “com maus olhos”.
“Esta empresa está a desperdiçar o seu valioso know-how [conhecimento] para contratar serviços de qualidade inferior ao seu padrão, com custos mais elevados”, vincou Jorge Alves.
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