Americanos “sentam-se” no pódio das exportações de mobiliário
Indústria portuguesa aproveita “viragem” dos EUA para marcas europeias e problemas na Ásia para recorde nas exportações. Setor emagrece margens e espera "envelope” do PT2030 para investir dez milhões.
Com um crescimento “muito significativo” nas compras a Portugal, na ordem dos 27%, os Estados Unidos da América (EUA) ultrapassaram a Alemanha no terceiro lugar da lista dos melhores mercados externos para a indústria portuguesa do mobiliário. A progressão nos negócios realizados do outro lado do Atlântico contribuiu para um novo recorde nas exportações do setor em 2022, a rondar os 2.000 milhões de euros, 8% acima do anterior valor máximo, registado um ano antes da pandemia.
“Trata-se do maior mercado mundial e assistiu-se a uma viragem desse mercado para as marcas europeias devido aos problemas de fornecimento da Ásia e à aposta de um maior número de empresas portuguesas nesta geografia, muitas delas com estratégia de crescimento muito sustentadas para os diferentes estados americanos”, justifica Gualter Morgado, diretor executivo da principal associação do setor (APIMA), em declarações ao ECO.
No topo da lista de melhores destinos para o mobiliário português — perspetivado como um cluster, inclui indústrias como o mobiliário, a colchoaria, os têxteis-lar, a cutelaria, a cerâmica, a iluminação e a tapeçaria –, estão França (quota de 33%) e Espanha (25%). Seguem-se os EUA (6,24%), a Alemanha (5,38%) e o Reino Unido (5,11%), segundo os dados oficiais compilados a partir das estatísticas de comércio internacional publicadas pelo INE.
Assistiu-se a uma viragem desse mercado [dos EUA] para as marcas europeias devido aos problemas de fornecimento da Ásia e à aposta de um maior número de empresas portuguesas nesta geografia.
Enquanto “o mercado alemão é mais volátil, devido à forma como as centrais de compras influenciam o negócio, devido à escala que têm no mercado”, o britânico continua a “demonstrar variações muito inconstantes devido ao brexit”. Perante os “condicionamentos” logísticos e legais causados pela saída da União Europeia, o porta-voz da APIMA descreve que “algumas empresas inglesas abriram novas empresas no espaço comunitário para contornar as dificuldades geradas pelo processo de exportação”.
Sem dispor ainda de informação estatística sobre as quantidades vendidas no estrangeiro ao longo do último ano, o dirigente associativo reconhece que “a inflação [teve] influência direta no valor recorde obtido com as exportações”, que, em termos homólogos, aumentaram 12% no ano passado. No entanto, ressalva que “o crescimento registado é superior ao valor da inflação e explica-se igualmente pela retoma dos certames e pela penetração em novos mercados” internacionais.
Já questionado sobre a progressão dos preços das matérias-primas e a passagem desses custos adicionais para os clientes, Gualter Morgado admite que “face ao significativo aumento dos preços das matérias-primas, a indústria foi obrigada a rever em alta os valores praticados”. No entanto, acrescentou o mesmo responsável, “não o fez na mesma proporção, emagrecendo as margens praticadas, de modo a conseguir manter e suportar os clientes no período pós-pandemia”.
À espera de “envelope” para investir dez milhões
As exportações representam cerca de 80% do volume total de negócios do cluster do mobiliário e afins. No ano em que superou em 8% o anterior valor máximo nos negócios fora do país, registado em 2019, pré-pandemia, o mercado nacional “revelou-se estável, com uma diminuição no mobiliário doméstico e uma retoma do setor hoteleiro, fruto de renovações e da construção de novos hotéis” no país.
Já 2023 arrancou com dezenas de fabricantes portuguesas a participar em algumas das principais plataformas comerciais da Europa, como a Maison & Objet, em Paris, e a Intergift, em Madrid. Agendadas para o primeiro semestre deste ano estão ainda viagens até Milão (Salone del Mobile), Nova Iorque (ICFF) e Colónia (IMM). Ao nível da promoção, os industriais vão fechar a primeira fase do ano com o Portugal Home Week, classificado como o maior evento nacional de promoção da Fileira Casa, marcado para 15 e 16 de junho na Alfândega do Porto.
Ao abrigo do chamado mecanismo extraordinário de antecipação de verbas do PT2030, a Associação Portuguesa das Indústrias de Mobiliário e Afins, presidida por Joaquim Carneiro, apresentou um projeto no valor de dez milhões de euros, que contempla ações nas principais plataformas internacionais, seja feiras em ações presenciais, seja em plataformas digitais, centrando a sua estratégia de crescimento na Europa, Médio Oriente, América do Norte e na Ásia.
O secretário de Estado da Economia, Pedro Cilínio, já admitiu que as candidaturas ainda estão a ser avaliadas e que só em maio haverá uma decisão e, em caso de sucesso, as verbas começarão a ser pagas. No caso da APIMA, descreve o diretor executivo, foram “antecipadas as necessidades” e todas as ações estão “cobertas” até junho. Ainda assim, alerta Morgado, a aprovação deste novo projeto “urge devido aos compromissos que [tem] de assumir para assegurar a presença nos certames do segundo semestre e do próximo ano”.
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