Fabricantes de mobiliário denunciam especulação no preço das matérias-primas

Industriais do mobiliário relatam casos de fornecedores com stock para vários meses a “inflacionar preços de forma significativa” e artificial. Faturação recorde em 2022, mas com volume pré-pandemia.

O diretor executivo da Associação Portuguesa das Indústrias de Mobiliário (APIMA) denuncia aquilo que considera ser um “manifesto aproveitamento” de algumas empresas no abastecimento das fábricas deste setor, “justificando um claro alargamento de margens com a inflação generalizada da economia”.

“No caso do cluster do mobiliário e afins, temos relatos de que alguns fornecedores de matérias-primas, muitos deles com stock para vários meses, estarão a inflacionar de forma significativa os preços, provocando dificuldades adicionais às nossas empresas, confrontadas com um cenário verdadeiramente dramático”, diz Gualter Morgado, em declarações ao ECO.

Gualter Morgado, diretor executivo da APIMAAPIMA

No último ano, os industriais registam “aumentos generalizados dos custos dos materiais mais relevantes” para este cluster, concentrado nos concelhos de Paredes e Paços de Ferreira. Com “evidentes variações em função do produto, a subida de preços é transversal”. Por exemplo, o valor dos aglomerados disparou mais de 40% (dependendo da escala das empresas, este crescimento poderá ser ainda maior) e o custo das madeiras subiu na ordem dos 30%.

Temos relatos de que alguns fornecedores de matérias-primas, muitos deles com stock para vários meses, estarão a inflacionar de forma significativa os preços, provocando dificuldades adicionais às nossas empresas.

Gualter Morgado

Diretor executivo da APIMA

“Ainda não sentimos qualquer decréscimo de valores, embora existam sinais de uma potencial estabilização deste ritmo contínuo de aumento. Nestes materiais, em específico, a expectativa não é positiva, dado que os principais mercados extracomunitários de origem destes produtos eram, precisamente, a Rússia, a Ucrânia e a Bielorrússia, pelo que apenas o final do conflito poderá permitir essa retoma”, indica Gualter Morgado.

Sérgio Tavares, diretor de compras do Grupo Polisport, reconhece já ter ouvido “manifestações de receio de estar a acontecer” esse armazenamento de matérias-primas que levam os preços a ser “irracionalmente inflacionados de forma artificial a reboque de motivos como a escalada do preço da energia”. Ainda assim, o gestor do grupo líder mundial no fabrico de cadeiras para a mobilidade infantil em bicicleta refere que “à data de hoje, perante a incerteza que se vive, [parece-lhe] bem mais sensato ninguém arriscar produções para stock”.

Já ouvi manifestado o receio de isso estar a acontecer. (…) Mas à data de hoje, perante a incerteza que se vive, parece-me bem mais sensato ninguém arriscar produções para stock.

Sérgio Tavares

Diretor de compras do Grupo Polisport

Entre janeiro e agosto de 2022, as exportações deste cluster industrial, que integra o mobiliário, a colchoaria, os assentos e outras atividades complementares, aumentaram 9% em relação ao período homólogo, atingindo os 1,28 mil milhões de euros. A tendência é de crescimento transversal nos principais mercados de exportação, com destaque, entre os cinco principais, para o aumento das vendas registado neste período para os EUA (31,5%) e para o Reino Unido (17%).

Faturação recorde com volume pré-pandemia

A menos de um mês do final do ano, a estimativo dos empresários é de fechar 2022 com um valor recorde de vendas ao exterior, superando os níveis pré-pandemia. Em termos de volume, o porta-voz da associação criada em 1984, que tem sede no Porto e conta com perto de 250 associados, acredita que acabará “alinhado” com o ano de 2019, que tinha sido o melhor de sempre. Porém, “face ao efeito da inflação, a faturação deverá atingir valores mais elevados” do que os 1,9 mil milhões de euros exportados antes da pandemia.

Cluster industrial integra mobiliário, colchoaria, assentos e outras atividades complementares

“Os efeitos da pandemia, do conflito da Ucrânia e do abrandamento da economia têm vindo a fazer-se sentir de forma diferente nas várias geografias. Se na Europa observamos uma estagnação do consumo de mobiliário, na Ásia registou-se um ligeiro decréscimo, com o mercado norte-americano a ser o único que cresceu ligeiramente”, relata Gualter Morgado. Aliás, os EUA já têm o estatuto de terceiro mercado de exportação deste cluster, apenas superados por França e Espanha.

E quais são as perspetivas para o negócio em 2023? “A incerteza é a nota dominante neste momento, mas prevemos que a fileira mantenha uma performance similar à do início de 2022, nos primeiros meses do ano. Há alguns sinais positivos, que nos levam a acreditar que o segundo semestre trará potencial de crescimento em alguns mercados. A expectativa é de que o consumo não aumentará de forma homogénea em todo o mundo, mas que consigamos estar bem posicionados junto dos mercados que acelerarão mais rapidamente nesta retoma”, responde o diretor executivo da APIMA.

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