Moldes travam “despiste” nas exportações ao fim de quatro anos

Retoma do setor automóvel, que pesa 80%, interrompe ciclo negro iniciado em 2017, em que perdeu um quarto do negócio. Fábricas de moldes empregam 10.400 pessoas e faturam mais de 600 milhões de euros.

Depois de quatro anos consecutivos a perder negócio, a indústria portuguesa de moldes interrompeu em 2022 este ciclo prolongado de quebras nas exportações, que representam 84% do total da produção, avaliada em 605 milhões de euros. “Estamos a crescer novamente”, desabafa Nuno Silva, vice-presidente da CEFAMOL, a associação de um setor que continua a ocupar um lugar de destaque (8.º no mundo e 3.º na Europa) entre os principais fabricantes de moldes para injeção de plásticos.

De acordo com os dados facultados ao ECO, as vendas ao exterior, num total de 87 países, ascenderam a 505,4 milhões de euros no ano passado, ficando 1,4% acima do registo de 2021. Apesar de ter conseguido estancar as perdas, esta indústria constituída atualmente por quase 500 empresas, concentradas sobretudo nas regiões de Oliveira de Azeméis e da Marinha Grande, está ainda 25% abaixo do máximo histórico verificado em 2017, quando exportou 671,8 milhões de euros.

Foi em meados da última década que as construtoras automóveis começaram a ter “algumas dificuldades de rentabilidade” e a reestruturar a oferta, reduzindo o número de modelos. “Para nós não importa muito se fazem 10 ou 100 milhões de um veículo; desde que exista um novo modelo, temos trabalho”, lembra Nuno Silva, que desvaloriza a subida das importações de 142,3 milhões para 161 milhões de euros no ano passado.

Foi também nessa altura que surgiu o escândalo com a Volkswagen, relacionado com a falsificação de resultados de emissões poluentes em motores a diesel, e que várias marcas começaram a agrupar-se, num movimento de concentração. A par da “concorrência asiática muito feroz, essencialmente do mercado chinês”, tudo isto fez com que a indústria nacional ficasse “com muito menos trabalho e que os preços descessem drasticamente no mercado”.

As marcas europeias e americanas começaram a tomar medidas para não ficarem tão dependentes dos mercados asiáticos. Ainda estão é na fase de quererem produzir cá com o preço da Ásia, e isso é muito difícil.

Nuno Silva

Vice-presidente da Associação Nacional da Indústria de Moldes

Esse movimento já foi travado? O porta-voz da CEFAMOL acredita que sim, perspetivando um novo crescimento na ordem dos 3,5% no final deste ano. É que a concorrência chinesa ainda está a lidar com a maior dificuldade no fornecimento, em virtude da pandemia, e a indústria automóvel, que pesa quase 80% no volume de negócios do setor, “está novamente a crescer, incluindo em número de modelos e de projetos colocados no mercado”.

“Para nós, não é importante se é elétrico ou híbrido. Interessa é que existam modelos novos porque todos eles têm peças. É evidente que os modelos elétricos têm menos componentes, mas a diferença para nós, para o plástico que é usado, não é assim tão grande”, salvaguarda Nuno Silva. Por outro lado, as marcas europeias e americanas “começaram a tomar medidas para não ficarem tão dependentes dos mercados asiáticos”. “Ainda estão é na fase de quererem produzir cá com o preço da Ásia, e isso é muito difícil”, acrescenta.

A lista de melhores mercados externos para os moldes made in Portugal continuou a ser comandada pela Alemanha, pela Espanha e pela França. O vice-presidente da associação setorial, que é administrador executivo da Moldit – sediada em Oliveira de Azeméis, a produtora de moldes e plásticos de injeção pertence ao grupo Durit, emprega 300 pessoas e fatura cerca de 30 milhões de euros por ano –, antecipa que este trio vai manter esse nível de representatividade. Porém, é nos Estados Unidos e no México, que têm uma quota muito mais reduzida, que mais está a crescer.

Para um setor que tem “um nível de poder baixíssimo sobre os clientes da indústria automóvel” e que aposta na consolidação empresarial para equilibrar os argumentos negociais, outro dossiê em cima da mesa é o da maior diversificação no que toca às indústrias para as quais trabalha. Nuno Silva sublinha ao ECO que esse esforço não é passar [o peso do automóvel] de 80% para 60% ou para 50%, que é muito difícil”, mas “conseguir mais 2% ou 3%” nos outros setores.

“Não há mercado suficiente. Enquanto no automóvel temos peças para um modelo e, passados três anos, já estamos a fazer para outro do mesmo segmento e da mesma marca, quando se faz um molde para uma embalagem ou para uma cadeira de bebé, normalmente esse molde trabalha anos a fio. Há uma dinâmica de rotação muito menor”, explica o gestor.

Por outro lado, continua, é preciso que a indústria “não se fique exclusivamente pela produção do molde, mas que seja integradora e cresça na cadeia de fornecimento, a montante e a jusante”. “É muito importante participar no desenvolvimento do produto, na engenharia do produto. E depois na produção, nomeadamente de plásticos. Hoje temos cada vez mais empresas a fazer injeção, exatamente para resolver esse problema. Essa é a solução para este não se tornar num setor meramente subcontratado”, adverte Nuno Silva.

Nuno Silva, vice-presidente da CEFAMOL

Empregando cerca de 10.400 pessoas, a escassez de mão-de-obra é também um “tema difícil” para a indústria de moldes quando precisar de crescer, até porque “um colaborador qualificado demora, no mínimo, cinco anos a começar a produzir com qualidade”. Sendo o nível de qualificação dos trabalhadores “altíssimo”, as fábricas de moldes “trabalham com salários muito acima daquilo que é a prática da indústria em Portugal”.

Já numa fase como a que atravessou nos últimos anos, em que o mercado emagreceu fortemente com a reestruturação da indústria automóvel e depois com a pandemia de Covid-19 e com o início da guerra na Europa, as empresas “sofreram muito”, mas optaram por fazer “um grande esforço para manter os seus quadros – porque se os perderem, depois vão demorar muito tempo a recuperar” a capacidade de produção.

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