Violência marca novos protestos em França contra lei das pensões
O ministro do Interior anunciou um "dispositivo de segurança inédito", com "13.000 polícias e guardas-republicanos, 5.500 dos quais em Paris".
Vários atos de violência marcaram esta terça-feira a 10.ª jornada de manifestações contra a revisão da lei das pensões em França, num clima de tensão e impasse no diálogo entre o Governo do Presidente, Emmanuel Macron, e os sindicatos. Em Paris, as forças da ordem perseguiram um grupo, alguns dos quais pilharam uma loja e atearam fogo a contentores do lixo, e 22 pessoas foram até agora detidas, indicou o comando policial.
Os agentes da ordem dispararam granadas de gás lacrimogéneo para dispersar as pessoas concentradas no local e permitir “a intervenção dos bombeiros” para extinguir os incêndios. Em Nantes, no oeste de França, ocorreram também confrontos entre manifestantes e a polícia, tendo uma agência bancária sido incendiada e o edifício do tribunal administrativo tomado como alvo, bem como em Rennes (oeste), onde se registaram muitos episódios de destruição de mobiliário urbano.
A oposição a esta reforma emblemática do segundo mandato presidencial de cinco anos de Emmanuel Macron, que aumenta a idade mínima de reforma sem penalizações financeiras de 62 para 64 anos, tornou-se mais radical desde que o Governo fez aprovar o diploma sem votação no parlamento (um procedimento consagrado na Constituição francesa), depois de duas moções de censura que pretendiam derrubá-lo terem sido chumbadas, a 20 de março.
Até então pacíficas, as manifestações passaram a ser marcadas por cada vez mais violência em todo o país, com muitos polícias, guardas-republicanos, vândalos e manifestantes feridos, vitrinas partidas, estabelecimentos comerciais saqueados e incêndios em edifícios públicos.
O ministro do Interior, Gérald Darmanin, anunciou um “dispositivo de segurança inédito”, com “13.000 polícias e guardas-republicanos, 5.500 dos quais em Paris”. Essas forças da ordem estão a enfrentar uma mobilização de entre 20% e 40%, consoante as cidades: na capital, a Confederação Geral do Trabalho (CGT) anunciou 450.000 manifestantes (em contraste com os 800.000 de 23 de março), ao passo que as autoridades estimaram em 93.000 o número de participantes nos protestos parisienses.
Por seu lado, o porta-voz do Governo, Olivier Véran, assegurou que o executivo é “o baluarte contra a violência ilegítima”, rejeitando ao mesmo tempo uma proposta dos sindicatos de recurso a “mediação” para entabularem um diálogo. Paralelamente, bloqueios de estradas, piquetes de greves e manifestações prosseguem há dias, perturbando o abastecimento de combustíveis a algumas regiões do país e em certos eixos rodoviários ou depósitos de armazenamento.
A circulação ferroviária sofreu fortes perturbações, e a aviação civil pediu às companhias aéreas para cancelarem uma parte dos seus voos previstos para quinta e sexta-feira, em especial com partida do aeroporto de Paris-Orly, devido à greve dos controladores de tráfego aéreo.
Em Paris, a Torre Eiffel e o Arco do Triunfo estão fechados ao público por greve dos respetivos funcionários, tal como o Palácio de Versalhes, e há nas ruas milhares de toneladas de lixo, que servem de material carburante a grupos de vândalos durante a noite, após mais de três semanas de greve dos serviços de recolha urbana, mas os sindicatos do setor anunciaram “a suspensão” do seu movimento a partir de quarta-feira.
Embora se mantenha inflexível quanto à reforma, o Governo proclama o seu desejo de “apaziguamento”, tendo a primeira-ministra, Élisabeth Borne, anunciado um período de três semanas de consultas com os deputados, os partidos políticos, os dirigentes locais e os parceiros sociais.
As centrais sindicais, que advertiram contra uma derrapagem descontrolada da contestação, não tencionam desistir da idade de aposentação dos trabalhadores, pedra angular das suas palavras de ordem nas manifestações que têm reunido regularmente centenas de milhares de pessoas desde janeiro, numa população de cerca de 67 milhões de pessoas, e já anunciaram a 11.ª jornada de greves e protestos em todo o país para 06 de abril, num comunicado.
O líder da central reformista Confederação Francesa Democrática do Trabalho (CFDT), Laurent Berger, que exige “uma pausa” nesta reforma, pediu ao executivo que crie um mecanismo de “mediação” para “encontrar uma saída”.
O dirigente da CGT, Philippe Martinez, anunciou que a intersindical vai “escrever ao Presidente da República” para lhe pedir, mais uma vez, “para suspender o seu projeto”, enquanto algumas vozes da oposição de esquerda, como o líder comunista Fabien Roussel, acusam Emmanuel Macron de contar com que a opinião pública se vire contra um movimento de contestação social violento e que isso acabe por enfraquecê-lo.
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