Brent arrisca subida de 27% para perto dos 100 euros já nos próximos meses
As tensões diplomáticas no xadrez mundial ameaçam condicionar ainda mais o mercado energético e pressionar o preço do petróleo ao longo de todo o ano, atirando-o para novos máximos.
A forte subida registada ontem na cotação do preço do petróleo não deverá ser um episódio isolado em 2023, mas possivelmente pode marcar uma mudança de ciclo na cotação do petróleo que estava a ser marcado por uma contínua queda da cotação do barril desde meados de junho do ano passado.
Nos últimos nove meses, o barril de Brent (crude refinado na Europa) afundou 41%, passando de 117,5 euros a 13 de junho do ano passado para 68,8 euros (o valor mais baixo desde 31 de dezembro de 2021) a 17 de março deste ano.
No entanto, nos últimos seis dias o mercado inverteu esta tendência, com a cotação do barril de Brent a valorizar 12% nas últimas seis sessões, com destaque para o dia de ontem (3 de abril), em que o barril chegou a subir 7,7% para valores acima dos 79 euros (fechou nos 77,95 euros). E os analistas que acompanham o mercado não acreditam que o Brent se fique por aqui.
De acordo com as últimas projeções de 42 analistas compiladas pelas Refinitiv a 31 de março, o barril de Brent deverá deixar os 77,95 euros registados na sessão de segunda-feira para ultrapassar os 92 euros por barril já no segundo trimestre e negociar muito perto dos 100 euros no final do ano.
Um dos analistas que prevê novas subidas é Daan Struyven do Goldman Sachs. Numa nota enviada ontem aos clientes do banco norte-americano, o analista e a sua equipa reviram em alta em 5,6% o preço do Brent até ao final do ano, antecipando agora que possa negociar nos 95 dólares (cerca de 105,8 euros, com base também nas previsões para o câmbio EUR/USD), e em 2024 possa negociar nos 100 dólares (cerca de 111 euros).
A nova previsão de Dann incorpora o “surpreendente corte voluntário” na produção crude anunciado ontem por nove membros da OPEP+, que totalizará uma redução de cerca de 1,7 milhões de barris por dia entre maio e dezembro, uma “ligeira menor procura mundial” de petróleo e a modesta libertação das reservas estratégias de petróleo (SPR) de França.
Após a decisão de cortar a oferta por parte dos membros da OPEC+, que controlam cerca de 40% da produção mundial de petróleo, a Agência Internacional de Energia emitiu um comunicado citado pela Reuters referindo que os cortes anunciados “correm o risco de provocar mais pressão a um mercado que se encontra tenso” e potenciar novas subidas na cotação do preço do petróleo, num ambiente já por si sujeito a pressões inflacionistas.
É também isso que perspetivam os analistas do UBS, colocando o barril do Brent nos 100 dólares já em junho, e os analistas da agência de research norueguesa Rystad Energy, que colocam o Brent a negociar acima da fasquia dos 100 dólares durante o resto do ano, podendo escalar para lá disso “se a procura chinesa começar a disparar e os receios bancários recuarem”, lê-se num research da Rystad Energy
O estrangulamento da oferta anunciado ontem sucede a outro corte tomado a 5 de outubro do ano passado, quando a OPEP e aliados associados (OPEP+) como a Rússia se comprometeram a cortar dois milhões de barris de fornecimento diário.
No centro de mais este corte está a Arábia Saudita, o principal produtor de petróleo mundial e também aquele que apresenta os custos mais baixos de produção. E não é por acaso. Para lá do xadrez político, o reino saudita tem múltiplas razões económicas para continuar a pressionar os preços do “ouro negro”.
A recente crise bancária nos EUA e na Europa, que levou à falência dois bancos norte-americanos e ao salvamento do Credit Suisse, empurrou o barril do Brent para os 73 dólares (68 euros) em março, que é um valor desconfortavelmente próximo do nível a que o orçamento saudita equilibra as suas contas.
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