Investimento dos EUA e Europa em Portugal “é mais oportunístico” que o chinês, diz líder da Mota Engil

  • Lusa
  • 20 Abril 2023

“A China não é só nosso acionista, já é de parte significativa do tecido empresarial português, banca, seguros, saúde, energia”, afirmou Carlos Mota Santos.

O presidente da Mota-Engil disse esta quinta-feira que a construtora não tem sentido qualquer condicionamento por ter um acionista chinês e considerou que há um problema de dimensão nas empresas de construção em Portugal e falta de cultura de fusões. “Não temos cultura de promover fusões, de ganhar escala, infelizmente”, afirmou Carlos Mota Santos no almoço-debate do International Club of Portugal, em Lisboa, recordando que designadamente empresas espanholas conseguiram escala por fusões.

Segundo o gestor, sem a devida dimensão, as empresas “não têm lugar no mercado internacional”. Das 25 maiores empresas do setor em 2006, hoje só existem 11 e apenas sete são de origem portuguesa, como Mota-Engil, Teixeira Duarte e Somague, disse. Sobre a China Communications Construction Company (CCCC) ter 30% da Mota-Engil, Mota Santos não esteve com rodeios: “O Estado chinês é nosso acionista”, afirmou, já que a CCCC é detida pelo Estado da República Popular da China.

Mota Santos afirmou, contudo, que isso não tem condicionado negativamente a empresa: “Mesmo o México, mercado de base norte-americana, não sentimos nenhum tipo de restrição, condicionamento ou qualquer tipo de problema por ter acionista de referência como CCCC”.

E recordou que em Portugal o investimento chinês é transversal. “A China não é só nosso acionista, já é de parte significativa do tecido empresarial português, banca, seguros, saúde, energia”, afirmou. Aliás, disse, além do investimento chinês, os restantes investimentos estrangeiros principais não são na indústria e são sobretudo “oportunísticos”.

Não tem havido investimento que não chinês em Portugal nos últimos anos, todo o investimento norte-americano ou europeu, com uma ou duas exceções, é mais oportunístico. São fundos imobiliários e fundos abutres, não os vejo a investir em nenhuma indústria”, afirmou. Quanto aos receios sobre o agudizar de tensão entre China e Estados Unidos, disse que se isso acontecer é um grave problema para todos os cidadãos. “A Mota-Engil será o menor dos problemas”, considerou.

A Mota-Engil está sobretudo concentrada em África, América Latina e Europa, referindo o gestor que é a partir desses mercados principais que tenta promover mais negócio, afirmando que quando se pensa na empresa se relaciona sempre com engenharia e construção mas que tem cada vez mais negócio na área ambiental, no tratamento de resíduos, e que nos mercados externos quer crescer nas áreas ambientais.

O grupo tem 40 mil trabalhadores em todo o mundo, dos quais 6.500 são portugueses que trabalham fora de Portugal, ainda que tenha referido o presidente que cada vez mais apostam na contratação de gestores e quadros técnicos locais (dos países onde opera).

Mota Santos referiu por várias vezes a palavra “previsibilidade” para dizer que isso é o que a empresa mais valoriza em cada país onde está. Mesmo no Peru, disse, onde a política é muito instável com regulares golpes de Estado, há previsibilidade na economia. “Precisamos de planeamento, para dar previsibilidade, e execução que confirme essa previsibilidade e precisamos de motivar os empresários a ganhar escala, a juntarem-se, a juntarem forças”, disse.

Afirmou ainda que para a Mota-Engil o mercado português é fundamental, pois em qualquer grande empresa de construção o mercado doméstico é fundamental para assegurar capacidade instalada e formar quadros (mesmo os quadros estrangeiros fazem formação em Portugal, disse).

Já sobre vantagens de ter uma importante empresa chinesa como acionista, Mota Santos disse que na parte comercial é mais “perceção do que real” e afirmou que onde sente já diferença é na parte do aprovisionamento de equipamentos de construção, onde a Mota-Engil tem “vindo a melhorar as margens”, pois tem novos fornecedores de equipamentos, desde logo chineses, mais competitivos e que permitem não comprar mas alugar equipamento.

Isso, afirmou, também já está a ter efeito na relação com fornecedores tradicionais, como Caterpillar, que se têm de adaptar às novas realidades do mercado. De futuro, disse o gestor, a Mota-Engil não quer ter ‘stock’ de equipamento. “Eu não quero equipamento em balanço, quero alugar equipamento. E os chineses fazem isso”, disse.

Sobre a exposição a entidades financeiras chinesas, disse que não foi aumentada pela Mota-Engil mas que pelo facto de a empresa ter um acionista chinês forte isso faz com que haja outra “perceção pela banca de investimento, fundos de investimento”, o que facilita financiamentos. O grupo Mota-Engil obteve um lucro de 41 milhões de euros em 2022, mais 69% face a 2021.

Carlos Santos Mota, de 44 anos, tomou posse como presidente da Mota-Engil (empresa fundada pela sua família) no início do ano.

Mota-Engil insiste numa decisão e diz que é incontornável no projeto do novo aeroporto

O presidente da Mota-Engil disse ainda que é necessário que desta vez haja mesmo uma decisão sobre o novo aeroporto de Lisboa e que, onde quer que seja localizado, a construtora é “incontornável num projeto desta dimensão” em Portugal. “Independentemente da localização do aeroporto, a Mota-Engil é incontornável num projeto desta dimensão, espero que estas minhas palavras se venham a confirmar”, afirmou Carlos Mota Santos.

Sobre a comissão que estuda a localização do novo aeroporto, o gestor disse esperar que haja uma conclusão atempadamente para que haja uma discussão pública e depois uma decisão de consenso entre “o maior partido da oposição e o partido do poder”, considerando que a indefinição traz “perda financeira” para a economia portuguesa e para a sua competitividade.

“É necessário tomar decisões”, disse o presidente da maior construtora portuguesa, acrescentando acreditar que será desta que será tomada a decisão pela qual se aguarda há mais de 50 anos. “Sou um crente e sou pessoa muito otimista”, justificou. A construção de um novo aeroporto na região de Lisboa está a ser analisada por uma comissão técnica independente criada para esse efeito.

(Notícia atualizada às 17h26 com mais informação)

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