Como é que o petróleo pode baralhar as contas do Governo
No Programa de Estabilidade, o Governo faz uma simulação ao desempenho da economia portuguesa e da balança comercial caso o preço do petróleo suba 20%. O desemprego seguiria incólume.
A economia portuguesa deverá crescer aos bocadinhos até 2021, mas há fatores de risco que podem fazer descarrilar as previsões que o Governo português estimou no Programa de Estabilidade para os próximos cinco anos. Um dos dois principais choques salientados no plano está a variação do preço do petróleo: e se o barril valorizar 20%?
O Produto Interno Bruto (PIB) deverá crescer 1,8% este ano e irá gradualmente acelerar para 2,2% em 2021, num cenário em que o preço da matéria-prima não deverá afastar-se muito dos 56 dólares por barril, segundo as expectativas do Fundo Monetário Internacional (FMI) que estão incorporadas no Programa de Estabilidade. Porém, com uma expressiva subida do preço do petróleo, o desempenho económico será negativamente afetado sobretudo nos dois primeiros anos (2017 e 2018) antes de voltar a convergir com as estimativas do Governo a partir de 2019, segundo as simulações do Executivo.
Em sentido inverso, com um petróleo mais barato, as perspetivas do governo seriam facilmente superadas, com a economia apresentar crescimentos mais robustos sobretudo nos dois primeiros anos, convergindo nos últimos anos do plano.
Já o PIB nominal registaria poucas alterações dado que exclui a variação dos preços do desempenho da economia e, nesse caso, o impacto seria ligeiramente menos negativo do que o cenário base.
Impacto do petróleo no PIB
Depois do acordo da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP) no final do ano passado para baixar a produção no cartel, ao qual se juntaram outros países com forte atividade petrolífera, como a Rússia, o preço do Brent subiu cerca de dez dólares por barril, estando a cotar-se atualmente nos 55,89 dólares. A OPEP quer, ainda assim, estabilizar a cotação à volta dos 60 dólares.
A valorização do ouro negro já está a ter impacto nos preços no consumidor. À conta da evolução do preço do barril de petróleo, a taxa de inflação abandonou definitivamente a zona de risco de deflação — em que os preços caem e deterioram a atividade económica. Em março, a inflação ficou nos 1,5% na Zona Euro. Excluindo os preços energéticos e dos bens alimentares, a inflação subjacente situou-se apenas nos 0,7%, longe da meta de 2% do Banco Central Europeu (BCE).
Impacto na balança comercial
A subida de 20% do petróleo teria também impacto na balança de bens. Portugal importa muitos bens energéticos pelo que a valorização da cotação do barril seria prejudicial ao saldo da balança comercial.
“Dado o peso das importações de combustíveis na balança de bens, esta aceleração do preço dos bens energéticos importados traduz-se num impacto negativo no saldo da balança comercial e, consequentemente, na capacidade de financiamento da economia“, estima o Ministério das Finanças.
Impacto do petróleo na balança comercial
Os especialistas salientam que um choque petrolífero não teria grande impacto no desemprego. Seria um impacto “reduzido devido a efeitos desfasados da atividade económica no emprego e por não se considerarem implicações adicionais sobre as condições financeiras da economia”, argumenta.
Ainda assim, na frente da dívida pública, o aumento dos preços do petróleo teria implicações negativas no rácio, que aumentaria por via do menor crescimento (ainda que ligeiro) do PIB nominal.
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