Angola deixa de importar cerveja e corta nos carros
São os reflexos da crise no país de José Eduardo dos Santos. Angola está a importar menos 330 carros por dia e deixou de comprar cerveja ao exterior.
Angola importou 17 veículos por dia, em média, no terceiro trimestre do ano passado, contra os 351 que comprou diariamente no mesmo período de 2014, antes da crise no país ter afetado a economia nacional e nomeadamente as importações.
Segundo o mais recente relatório do Conselho Nacional de Carregadores (CNC) — tutelado pelo Ministério dos Transportes e que coordena as operações de comércio e transporte marítimo internacionais –, entre julho e setembro de 2016 o país comprou apenas 1.634 veículos, um quarto dos quais a Itália.
No terceiro trimestre de 2014, antes do início da crise provocada pela quebra abrupta na cotação do barril de crude, Angola importou 32.309 veículos, passando por isso de uma média diária, em iguais períodos, de 351 para 17 viaturas importadas.
Além das implicações económicas e financeiras, com o Estado a perder metade das receitas petrolíferas entre 2015 e 2016, a crise levou à restrição no acesso a divisas, necessárias à importação de todos os produtos cuja produção é feita no estrangeiro.
Neste cenário, passou a ser visível em Angola concessionários sem viaturas novas para venda e as poucas existentes a subir de preço todos os meses, em função de uma inflação que chegou a ultrapassar os 40% entre janeiro e dezembro de 2016, perante o alerta dos empresários do setor para o momento crítico vivido.
Entre julho e setembro últimos, Angola comprou a Portugal apenas 64 viaturas novas (8.ª origem nas importações de veículos), atrás de países como a África do Sul (79), China (84), Índia (93), Bélgica (112), Emirados Árabes Unidos (170), Turquia (274) e Itália (417), que lidera a tabela.
O porto de Luanda concentrou as descargas de viaturas em Angola naquele período, recebendo 1.563 das 1.634 viaturas que o país conseguiu importar no mesmo trimestre, ficando os restantes para os portos de Cabinda, Namibe e Lobito.
E corta na cerveja estrangeira
A cerveja estrangeira foi outra das mais afetadas pela crise em Angola e, no terceiro trimestre de 2016, praticamente deixou de ser importada, não figurando entre os produtos mais comprados ao exterior.
Segundo o mesmo relatório do CNC, entre julho e setembro de 2016, a quantidade de cerveja importada por Angola não foi suficiente para integrar a lista dos 100 tipos de produtos mais importados.
Só no terceiro trimestre de 2014, antes da crise gerada pela quebra na cotação do barril de crude, Angola importou, segundo o CNC, 63.727 toneladas de cerveja, sobretudo de Portugal. Desta forma, a importação de cerveja representou 2,24% de todas as compras feitas por Angola no exterior, naquele período de 2014, figurando na nona posição da lista dos produtos mais importados pelo país.
No primeiro trimestre de 2016, a importação de cervejas de malte já tinha descido para 8.101 toneladas (em três meses), acentuando as quebras nos meses seguintes, devido às dificuldades na obtenção de divisas pelos importadores.
Dificuldades compensadas pelo aumento na produção interna de cerveja, nomeadamente com novas marcas produzidas em Angola. É o caso da cerveja da marca Bela, produzida pela Lowenda Brewery Company, do grupo China International Fund (CIF), que aumentou em 2015 a produção nacional, reforçada já em 2016 com a marca Tigra, do grupo angolano Refriango, líder nacional no setor das bebidas.
No final de 2016, foi a vez de a portuguesa Sagres passar a ser produzida em Luanda, através da Sociedade de Distribuição de Bebidas de Angola (SODIBA), da empresária angolana Isabel dos Santos.
A importação de bebidas, segundo dados do executivo angolano, cifrava-se anualmente em cerca de 400 milhões de dólares (377 milhões de euros) antes da crise, mais de metade proveniente de exportações de empresas portuguesas, nomeadamente cerveja.
Contudo, tendo em conta a capacidade instalada das fábricas nacionais, que já então não estava a ser utilizada, e como forma de dinamizar a produção local, o Governo angolano anunciou para 2015 um sistema de quotas à importação de bebidas, o qual não chegou a ser implementado.
Entretanto, a crise generalizada e a falta de divisas acabaram por reduzir fortemente, e de forma natural, as compras ao exterior. No caso das cervejeiras portuguesas, ainda com as promessas de construção de fábricas próprias em Angola por concretizar.
No terceiro trimestre de 2016, Angola comprou 5.797 toneladas de vinho (38.º produto mais importado) ao exterior — em que Portugal é o maior fornecedor nacional –, o que compara com as 30.609 toneladas (16.ª posição) do terceiro trimestre de 2014, antes do início da crise petrolífera, também afetada nomeadamente pela dificuldade na obtenção de divisas.
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