BCE não vai deixar cair a prestação da casa até ao final do ano
Os mercados estão a antecipar que só em novembro as taxas Euribor a 3 e 6 meses, que servem de referência à maioria dos créditos à habitação, comecem a ceder significativamente.
A maior parte do aumento da prestação dos créditos à habitação já faz parte do passado. Aconteceu em 2022, como resultado da galopante escalada das taxas Euribor, que as retirou de terrenos negativos para valores recordes em quase dez anos. Mas os aumentos da prestação da casa não devem ficar por aqui.
A Euribor a 6 meses, por exemplo, que é a taxa que agrega cerca de um terço dos contratos de crédito à habitação, depois de negociar em valores negativos durante quase oito anos até 3 de junho e ter fechado 2022 a negociar nos 2,7%, não tem parado de subir.
E, segundo as expectativas do mercado, só deverá começar a ceder consideravelmente a partir de novembro, como mostram os contratos forward rate agreements. Isto apesar de Mário Centeno, governador do Banco de Portugal, ter recentemente anunciado numa audição na Comissão de Orçamento e Finanças que as Euribor a 3 e 6 meses devem atingir os máximos nos meses de verão.
A sustentar estas previsões está a política monetária do Banco Central Europeu (BCE) que, esta quarta-feira, traduziu-se no sexto aumento consecutivo das taxas diretoras do euro, com uma subida de 25 pontos base.
Com esta decisão, a taxa de juro de facilidade permanente de depósito (a taxa atualmente com maior relevância para o mercado) subiu para os 3,25%, o valor mais elevado desde outubro de 2008. Nessa altura, a Euribor a 6 meses escalou para valores acima dos 5%.
A última vez que a taxa de depósitos chegou aos 3,75% (outubro de 2000) — como muitos analistas perspetivam que venha a acontecer como consequência de mais dois aumentos de 25 pontos base nas reuniões de junho e depois em julho ou setembro –, a Euribor a 6 meses voltou a negociar acima dos 5%.
A boa notícia para a carteira das famílias é que em ambas as situações, depois de as Euribor atingirem estes valores, caíam a pique, acompanhadas por vários cortes das taxas diretoras do BCE. É também isso que mostram os contratos derivados forward rate agreements sobre a Euribor a 6 e 3 meses.
No entanto, Filipe Garcia, economista da IMF, refere ao ECO que, “naquele tempo, a taxa que servia de referência para o mercado era a taxa de juro das operações principais de refinanciamento”, que negociava com 50 pontos base acima da taxa dos depósitos.
Mas, mesmo considerando essa situação, os dados históricos mostram que as Euribor a 3 e 6 meses ainda têm margem para subir, pois mantêm-se abaixo da barreira máxima dos 3,7%, previstos pelo mercado: enquanto a Euribor a 12 meses negocia nos 3,8%, a taxa a 6 meses está nos 3,6% e a Euribor a 3 meses não supera os 3,3%.
É isso que também mostram as últimas previsões do Commerzbank que apontam para que a taxa Euribor a 3 meses se mantenha nos 3,6% até ao final do ano e nos 3,55% ao longo de 2024.
Até onde irá o BCE?
A opinião é unânime entre os analistas de que Christine Lagarde, na conferência de imprensa após o anúncio da subida das taxas diretoras, adotou um discurso mais brando e deu sinais de uma aproximação de fim de ciclo.
Porém, a presidente do BCE também deixou claro que, para já, “o BCE não está a fazer uma pausa” na subida das taxas de juro. E é isso que também os analistas antecipam.
O BPI Research, numa nota enviada aos clientes do banco a 27 de abril, além de prever que o BCE viria a aumentar em 25 pontos base as taxas de juro na reunião desta quarta-feira, revela também a sua expectativa de que “o BCE continue a subir as taxas ao longo do segundo trimestre de 2023, levando a taxa depo para 3,5% e a taxa refi para 4,0% em junho.
“Christine Lagarde reconheceu que o custo do crédito está agora em território restritivo, mas deixou bem claro que esta não será a última subida deste ciclo. Com a inflação core em máximos históricos, espera-se do BCE mais duas subidas de 25 pontos base, o que levará a taxa de depósito para os 3.75%, igualando o valor mais alto de sempre”, refere Ricardo Evangelista, analista da ActivTrades.
Entre os analistas e os economistas, a possibilidade de o BCE realizar mais dois aumentos é generalizado, como mostrou um inquérito realizado a 17 de abril pela Bloomberg. Um desses analistas é Frederik Ducrozet, da Pictet Wealth Management.
“Continuamos a esperar que o BCE aumente as taxas em 25 pontos base em junho, levando a taxa de depósito para um máximo de 3,50%, com riscos de uma última subida de 25 pontos base em julho, dependendo da evolução futura do sistema bancário dos EUA”, afirmou Ducrozet à Reuters.
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