Angola pede “ajuda” a Portugal para economia menos dependente do petróleo

Agroindústria, têxtil e vestuário, metalomecânica, farmacêutica, tecnologia, eletrónica, energias renováveis, turismo, saúde ou construção identificados por Luanda para os investidores portugueses.

O ministro angolano para a Coordenação Económica, Manuel Nunes Júnior, destacou esta quarta-feira a dinâmica e a presença “relevante” das empresas portuguesas de vários setores em mercados internacionais competitivos, para aconselhar os empresários angolanos a firmarem parcerias que “podem oferecer boas oportunidades para terem uma boa prestação noutros mercados e contribuir para diversificar as exportações do país” africano.

“Precisamos que Portugal nos ajude a ter uma economia menos dependente do petróleo. Convidamos os empresários portugueses a investir nos nossos solos férteis para que, numa primeira fase, Angola se possa tornar autossuficiente na produção de alimentos. Convidamos também a investir na agroindústria, na indústria têxtil e de vestuário, na farmacêutica, no turismo, na educação, na saúde, nas pescas ou na construção”, indicou o governante angolano.

O petróleo representa mais de 95% dos recursos de exportação e mais de 60% das receitas tributárias em Angola. Na abertura do Fórum Económico Portugal-Angola 2023, que decorre esta quarta-feira num hotel do Porto, Manuel Nunes Júnior garantiu que “o investimento privado estrangeiro será sempre muito bem-vindo, com vista a aportar não só o capital financeiro, mas sobretudo o conhecimento e as tecnologias necessárias ao processo de desenvolvimento” do país.

O investimento privado estrangeiro será sempre muito bem-vindo, com vista a aportar não só o capital financeiro, mas sobretudo o conhecimento e as tecnologias necessárias ao processo de desenvolvimento do país.

Manuel Nunes Júnior

Ministro angolano para a Coordenação Económica

E a avaliar pelo “prestígio, qualidade e aceitação dos produtos portugueses em Angola”, disse estar “convencido que Portugal pode ter um papel particularmente relevante” nesta nova fase da economia angolana, que depois de cinco anos consecutivos de recessão, voltou a crescer em 2021 e 2022 – puxado até mais pelo setor não petrolífero. As autoridades de Luanda preveem para este ano um novo crescimento de 3,3% do PIB.

Lisboa quer quebrar “obstáculos que ainda existem”

Poucos minutos antes, o homólogo português, António Costa Silva, prometeu “tudo [fazer] para consolidar as relações bilaterais, aproveitar todas as oportunidades e ver os obstáculos que ainda existem” a este relacionamento. Mais de 4.500 empresas portuguesas exportam para Angola e mais de 1.200 operam atualmente naquele país, em vários domínios. Porém, o ministro notou que há margem para estas relações serem “ainda mais intensas e profundas”.

Ao nível do investimento, o ministro da Economia frisou que Angola é um dos grandes investidores na energia, nas telecomunicações ou no setor financeiro, ao passo que o país é o terceiro destino de investimento português no mundo. Entre os setores de maior potencial para as empresas nacionais naquele território, identificou o agroalimentar – “tem todas as condições para ser o grande celeiro de África e produzir todos os produtos” –; a metalomecânica para a produção de máquinas e equipamentos para a indústria; as tecnologias de informação, comunicação e eletrónica; a energia – “Angola tem um potencial imenso também nas renováveis” –; e ainda o têxtil, o calçado e os moldes, em que pode haver “uma complementaridade grande na economia dos dois países”.

Apresentação pública do balanço da atividade das áreas da Economia, Finanças Públicas e Emprego, no Ministério da Economia e do Mar - 30DEZ22
António Costa Silva, ministro da Economia e do MarHugo Amaral/ECO

Em 2022, as exportações de bens e serviços portugueses para o mercado angolano ultrapassaram os 2.000 milhões de euros (+57% face ao ano anterior), ao passo que as importações provenientes de Angola dispararam 367%. Angola ocupa a 9.ª posição na lista de clientes (é o terceiro mercado de exportações extra UE) e é o 27.º fornecedor de Portugal. Luís Rebelo de Sousa, membro do conselho de administração da AICEP assinalou que esta tendência de crescimento “é o ponto de partida para a entrada de mais empresas portuguesas no mercado angolano”, mas fez questão de alertar que “a melhor forma de acarinhar novos investidores” é tratar bem os que já operam no país.

“Há oportunidade de produzir para o mercado local e para exportação, nomeadamente para os países da África Austral, com quem Angola tem tratados que facilitam o comércio. O mercado interno angolano e os mercados limítrofes têm taxas de crescimento muito elevadas, impulsionadas pelo crescimento demográfico. Cabe-nos fazer parte desse movimento, aproveitando o potencial agrícola e as matérias-primas locais para a sua transformação com know-how português. Se não formos lá nós, outros irão certamente”, alertou o presidente da comissão executiva do Banco Caixa Geral Angola (BCGA).

Temos de aproveitar o potencial agrícola e as matérias-primas locais para a sua transformação com know-how português. Se não formos lá nós, outros irão certamente.

João Plácido Pires

Presidente da comissão executiva do Banco Caixa Geral Angola (BCGA)

Neste fórum que serve de preparação para a visita oficial de António Costa a Angola, prevista para junho, João Plácido Pires citou as oportunidades em setores como o agroalimentar, as rochas ornamentais ou os têxteis, assegurando que “têm níveis de rentabilidade que mais do que compensam o risco de produzir fora de Portugal”. Por outro lado, finalizou o responsável da participada da Caixa em Angola, produzindo naquele país para a exportação, os investidores portugueses “têm aberta a possibilidade de se financiar localmente e de aceder ao mercado cambial”.

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