CEO da Fortera diz que Skyline foi iniciativa da Câmara de Gaia e que se sente enganado

  • Ana Petronilho
  • 24 Maio 2023

CEO da Fortera garante que o projeto Skyline foi apresentado pela Câmara de Gaia à empresa que o tinha "planeado há dez anos" e que antes "ninguém quis avançar". Elad Dror sai da promotora.

O CEO do grupo Fortera, Elad Dror, envolvido na Operação Babel por suspeitas de um “esquema de corrupção e de favorecimento” relacionado com licenciamentos urbanísticos de projetos que rodam os 300 milhões de euros, garante que não fez “nada ilegal” e que o projeto Skyline partiu de iniciativa da Câmara de Gaia, a quem dirige duras críticas.

E na sequência do caso, ao fim de oito anos aos comandos da promotora, Elad Dror resigna ao cargo “com efeitos imediatos de forma voluntária”, cumprindo com o que foi “declarado” ao juiz durante a audição, sendo anunciado um novo CEO da Fortera “na próxima semana”, lê-se num comunicado da empresa a que o ECO teve acesso.

Na página oficial de Linkedin, o empresário israelita publicou um texto na passada segunda-feira, entretanto apagado, onde se lê que o Skyline resultou “da iniciativa da Câmara de Gaia” com o projeto a ser apresentado pela autarquia à Fortera para ser a “referência da cidade” e que a Câmara queria “um centro de congressos com a capacidade para 2.500 pessoas”. Em troca, lê-se no post publicado por Elad Dror, entretanto apagado, a Fortera ganhava “capacidade de construção e isenção fiscal”.

O CEO – que foi um dos sete detidos após buscas que decorreram na semana passada ficando sujeito à apresentação de uma caução de um milhão de euros como medida de coação – escreve ainda no post que a autarquia de Gaia tinha “o projeto planeado há dez anos” e além da promotora Fortera “ninguém quis avançar” com o Skyline.

O empresário diz-se enganado pela Câmara de quem, alega, “nos últimos quatro anos só recebeu ‘merda’”, tendo em conta que até ao momento não tem uma “única parcela aprovada” dos projetos que tinha planeado em Gaia.

Com um investimento previsto de 150 milhões de euros, para que o Skyline fosse rentável, “precisávamos de mais 30 mil metros quadrados de construção” tendo em conta que “só o centro de congressos custou 25 milhões”, refere o responsável pelo grupo Fortera.

Elad Dror conta ainda que “dez dias” antes de ser detido teve “uma reunião oficial sobre o Skyline com todas as partes envolvidas”, onde terá dito à autarquia que teria de “compensar dramaticamente” a empresa “para fazer este projeto valer a pena”, sobretudo quando, “há um ano”, a Câmara “lembrou que não podia remover o depósito de água antes de construir um novo”, frisa o empresário no Linkedin.

Elad Dror revela ainda que o presidente da Câmara de Gaia, Vítor Rodrigues, anunciou que a Fortera tinha contratado o arquiteto Souto Moura para o Skyline “antes de termos uma reunião”.

O empresário frisa que não fez “nada ilegal” e que o “único crime” que cometeu foi “vir para cá [Portugal] com boas intenções e boa-fé”, acreditando na “palavra de políticos que só se importam com uma coisa: as próximas eleições”, lê-se ainda no longo texto publicado.

A rematar, Elad Dror agradece as “centenas” de mensagens de apoio e garante que a Fortera vai continuar a “fazer projetos” para “mudar a vida das pessoas e das comunidades.

Entretanto a Fortera divulgou esta quinta-feira um comunicado oficial, a que o ECO teve acesso, a frisar que as acusações “tomaram de surpresa” a empresa que acredita “firmemente que as alegações se revelarão infundadas” entendendo que “nunca houve qualquer envolvimento do grupo Fortera em quaisquer ações que pusessem em causa os seus investimentos no país”.

No comunicado, a administração da promotora imobiliária, repete que o projeto Skyline “deriva de um convite a si endereçado” para construir um Centro de Congressos com capacidade para 2.500 pessoas. Em troca, refere o documento, “foi concedida à empresa a capacidade de construção e respetivas isenções fiscais, sujeitas à aprovação pela Assembleia Municipal e sujeitas à discussão pública, tal como previsto na lei”.

A promotora explica ainda ao ECO que o “único lote em questão sobre a zona ribeirinha era o lote número 7”, não sendo esse o local da construção do projeto Alive, by Fortera. “Esses são os lotes 4 e 5 que nunca tiveram quaisquer problemas e que foram aprovados no loteamento original em 2013″, diz a empresa.

Também no Riverside, a Fortera garante que não recebeu “qualquer ajuda do município” estando a “trabalhar de acordo com o loteamento que foi aprovado em 2013”.

A Fortera acrescenta ainda que durante os últimos oito anos de atividade, dedicou-se “incansavelmente a criar um impacto positivo em Portugal, particularmente na região norte e em Vila Nova da Gaia”, para onde diz ter captado “investimento significativo” e criado “centenas de postos de trabalho”.

Em comunicado, a PJ esclareceu que a “Operação Babel centra-se na viciação de normas e instrução de processos de licenciamento urbanístico em favor de promotores associados a projetos de elevada densidade e magnitude, estando em causa interesses imobiliários na ordem dos 300 milhões de euros, mediante a oferta e aceitação de contrapartidas de cariz pecuniário”.

No mesmo dia da detenção de Elad Dror, a promotora imobiliária Fortera – uma das maiores em atividade em Portugal – assumiu que tem “em curso um investimento relevante na área de Gaia e poderá ser em torno do mesmo que será necessário prestar esclarecimento”.

Um dos projetos é o Skyline, em Vila Nova de Gaia, assinado pelo arquiteto Souto de Moura. Trata-se do prédio mais alto do país com 28 andares onde iria funcionar um centro de congressos, um hotel de cinco estrelas com 160 quartos e um conjunto de 111 serviced apartaments de luxo e neste projeto a Fortera tinha um investimento previsto de 150 milhões de euros e a primeira fase de construção iria arrancar ainda este ano.

Outro dos projetos é o Alive Riverside, localizado nas margens do Douro, também em Gaia, com um investimento global que ascende a 110 milhões de euros. A primeira fase do condomínio que totaliza 126 casas com tipologias de T1 a T5, está em construção desde março. Mas já depois de o projeto ter sido licenciado foram encontrados no terreno vestígios arqueológicos que impunham a suspensão da construção do projeto.

Foi então que, segundo a TVI que teve acesso aos documentos da investigação do MP, a Fortera terá oferecido um relógio no valor de três mil euros ao vice-presidente da Câmara de Gaia que, através do seu advogado, “terá feito saber à promotora que resolveria a questão dos vestígios arqueológicos a troco do pagamento de uma quantia” que terá ascendido a cerca de 125 mil euros, conta a TVI.

Além de Elad Dror, foi ainda detido um outro empresário do ramo imobiliário, Paulo Malafaia, que já tinha sido detido no âmbito da Operação Vórtex, ao abrigo da qual o ex-presidente da Câmara de Espinho, Miguel Reis, se encontra em prisão preventiva.

Também foram detidos o vice-presidente do município de Vila Nova de Gaia, Patrocínio Azevedo, que tem o pelouro do Planeamento Urbanístico e Política de Solos, Licenciamento Urbanístico, Obras Municipais e Vias Municipais. Patrocínio Azevedo é ainda presidente da Comissão Política Concelhia do PS de Gaia.

No total, foram detidas sete pessoas e foram constituídos 12 arguidos.

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