Certificados de Aforro continuam a ser um mau negócio para o longo prazo

O Estado está a ganhar a passos largos aos bancos na captação das poupanças das famílias. Mas nem um nem outro são a solução certa para investir as suas poupanças para o longo prazo.

Desde o início do ano que os pequenos investidores têm estado numa corrida aos Certificados de Aforro. Segundo os últimos dados do Banco de Portugal, entre janeiro e abril, as subscrições líquidas acumulam quase 11 mil milhões de euros. A “loucura” tem sido tal que mais de um terço do atual stock de Certificados de Aforro foi subscrito somente nos últimos quatro meses.

Nunca se tinha assistido a uma correria tão grande a estes títulos de dívida do Estado desenhados especificamente para o retalho. O feito é de tal ordem significativo que o Governo se viu obrigado a rever os limites de endividamento da República inscritos no Orçamento do Estado.

Em despacho, o ministro das Finanças foi “obrigado” a dar autorização ao IGCP para aumentar em 137% a emissão de certificados de Aforro prevista para este ano, dos anteriores 7 mil milhões de euros para 16,6 mil milhões de euros.

O crescente interesse por parte dos investidores não surge por acaso. Desde há um ano que a taxa de juro dos Certificados de Aforro tem subido significativamente, seguindo à boleia da taxa Euribor a três meses (indexante que serve de base à fórmula de cálculo): se em maio do ano passado pagavam 0,56%, há quatro meses consecutivos que pagam 3,5%, a taxa máxima permitida por lei.

A atual remuneração dos Certificados de Aforro coloca estes títulos como a melhor solução de baixo risco para os aforradores que procuram uma solução de curto prazo, batendo largamente os depósitos. No entanto, os Certificados de Aforro estão longe de serem a melhor solução para planear uma estratégia de investimento de longo prazo.

Os riscos de colocar as poupanças para a reforma nestes ativos são muitos. Em primeiro lugar revelam-se ineficazes no processo de capitalização dos rendimentos gerados. Como os juros são calculados trimestralmente, a cada três meses os juros são tributos à taxa de 28%.

Apesar de os Certificados de Aforro possibilitarem o reinivestimento dos juros nos três meses seguintes, esse processo não é feito da forma mais eficiente, porque perde pelo caminho 28% dos ganhos gerados. Isto significa, por exemplo, que por cada 100 euros de juros gerados trimestralmente, apenas consegue capitalizar para o trimestre seguinte 72 euros desse ganho. Seria bem mais proveitoso se a tributação fosse somente feita à saída, na altura do regate do investimento. Numa estratégia de investimento de longo prazo, esta “nuance” gera diferenças significativas.

Num horizonte temporal de 10 anos, por exemplo, e assumindo a taxa de juro e a fórmula de cálculo atual dos Certificados de Aforro ao longo deste período, este efeito fiscal traduz-se numa diferença de 1,1 pontos percentuais. Mas os efeitos danosos para uma estratégia de longo prazo não se ficam por aqui e nem a questão fiscal é a mais relevante para as contas.

A razão primordial para os Certificados de Aforro não deverem ser o pilar de uma estratégia de investimento de longo prazo, como é a preparação de um suplemento de reforma, é não serem capazes de oferecer uma remuneração apelativa.

É certo que os Certificados de Aforro são mais “seguros” do que as ações, por exemplo, porque garantem o capital investido. Mas a “segurança” do curto prazo revela-se numa tremenda insegurança no longo prazo. O capital pode até ser garantido, mas o valor desse mesmo capital não, simplesmente porque a taxa de juro que oferecem (mesmo aos valores atuais) é insuficiente para compensar a taxa de inflação que atualmente está nos 5,7%.

Isto significa que 1.000 euros investidos hoje em Certificados de Aforro, ao final de 10 anos, esses 1.000 euros estarão lá, mas os ganhos que irão gerar ao longo desse período não compensarão a perda real gerada pela inflação durante essa década. Mas se a opção de investir esses mesmo 1.000 euros recaísse num pacote de ações (como um fundo de investimento de ações, por exemplo), muito provavelmente a conclusão seria outra.

De acordo com um estudo realizado pelos economistas Elroy Dimson, Paul Marsh e Mike Staunton da London Business School em 2002 e atualizado todos os anos, as ações são de longe o melhor ativo para o longo prazo. Com base na última revisão, os investigadores, que tomaram como referência o desempenho de 35 mercados mundiais (o português incluído) durante os últimos 123 anos, as ações tendem a apresentar uma rendibilidade média anual de 5% acima da inflação. Nenhum outro ativo chega sequer perto. Mas não só.

Nos últimos 100 anos, qualquer investimento que tenha sido realizado por período de 20 anos no mercado de ações norte-americano gerou sempre ganhos reais. E desde 1926, a única vez que o mercado gerou perdas para os investidores por um período de 15 anos foi entre 1920-1944, que foi marcado pela Grande Depressão e pela Segunda Guerra Mundial.

É certo que “rendibilidades passadas não são garantias de ganhos futuros”, como se lê constantemente nos prospetos dos fundos de investimento. Porém, é clara a ideia de que a segurança que os Certificados de Aforro “vendem” é apenas uma ilusão, sobretudo quando o objetivo é investir para o longo prazo.

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