Próximas semanas terão grande influência na duração da guerra da Ucrânia, diz analista
As declarações de Robert D. Kaplan surgem numa altura em que a Ucrânia reivindicou avanços na contraofensiva, mas reconheceu que as forças russas estão a oferecer uma "forte resistência".
As próximas semanas no campo de batalha poderão ser decisivas sobre a duração da guerra na Ucrânia, acredita o ex-assessor do Departamento de Defesa dos EUA Robert D. Kaplan, que prevê uma Rússia mais instável no pós-guerra.
Em entrevista à agência Lusa, em Lisboa, o analista político e autor de mais de uma dezena de livros sobre questões geopolíticas e temas internacionais faz um retrato do estado atual da guerra, fala sobre novas alianças e aponta alguns cenários sobre o futuro de Moscovo.
“Há períodos na história em que se passam décadas e nada muda. Depois há períodos em que em semanas e meses tudo muda. Acho que estamos neste momento num momento desses. As próximas semanas no campo de batalha podem ser muito influentes em termos de determinar a duração da guerra“, afirmou.
As declarações de Kaplan surgem numa altura em que a Ucrânia reivindicou avanços na contraofensiva, mas reconheceu que as forças russas estão a oferecer uma “forte resistência”, sobretudo no sul do país, enquanto por outro lado a Rússia afirmou, nos últimos dias, que destruiu 25% a 30% do armamento ocidental recebido por Kiev e divulgou fotografias e vídeos de tanques norte-americanos e alemães danificados ou abandonados.
Mais de um ano depois da ofensiva russa contra a Ucrânia, a guerra continuar é “uma lição”, acredita o consultor e investigador.
“Estas guerras começam com a ideia de que vão acabar dentro de algumas semanas e isso está errado. Foi também o problema da guerra do Iraque. As pessoas pensavam que ia durar duas semanas ou algo do género. A primeira Guerra Mundial foi a mesma coisa. Pensou-se que duraria algumas semanas ou meses e durou quatro anos”, exemplifica.
Apesar de não esquecer a importância da geografia na definição das futuras dinâmicas internacionais, Robert D. Kaplan está convicto de que no pós-guerra “a Rússia será mais instável” do que no passado, quer o Presidente russo, Vladmir Putin, se mantenha no poder, quer o perca.
“A Rússia será um problema para a Europa durante muito tempo após esta guerra ter acabado“, disse.
Para o analista, o atual conflito também terá influência nas alianças futuras, refletindo interesses estratégicos.
“Estamos a assistir a uma NATO de linha dura na Europa de Leste, da Polónia até à Roménia e a uma configuração dos Estados Bálticos, da Escandinávia e do Reino Unido. Depois estamos a ver uma menos obsessão, digamos assim, com a Rússia da Grécia à Itália, de Espanha a Portugal, onde as preocupações são a migração do Médio Oriente e de África, enquanto vemos uma espécie de Europa Central, com a Alemanha e França”, aponta.
Kaplan defende ainda que uma adesão da Ucrânia à União Europeia e eventualmente à NATO terá consequências: “Por vezes, quanto maior é uma organização, mais superficial se torna e começa a haver divisões”, argumenta.
“Há sempre uma crise algures que gera uma crise noutro lado. É como se estivesse a fazer ricochete para trás e para a frente e é por isso que acho que estamos permanentemente numa crise”, afirma, tendo como mote a conferência que o trouxe a Portugal, organizada pela Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento (FLAD), em parceria com o Clube do Livro.
Robert D. Kaplan é analista político, investigador e autor de diversos artigos, tendo sido professor na Academia Naval dos Estados Unidos e sido nomeado duas vezes pela publicação Foreign Policy para a lista dos 100 pensadores mundiais.
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