Patrão Estado perde atratividade junto dos jovens licenciados
Ainda assim, um trabalhador licenciado no setor público tem, face ao setor privado, um ganho em cerca de 35 p.p. no final da carreira relativamente ao ponto de entrada.
Na última década, o setor público perdeu atratividade junto dos jovens licenciados em início de carreira face ao setor privado. Na entrada para o mundo do trabalho, optar por uma carreira pública deixou mesmo de compensar em termos salariais. Os ganhos sentem-se apenas com o avançar da carreira. Um trabalhador licenciado no setor público no final de carreira tem, face ao setor privado, um ganho em cerca de 35 pontos percentuais (p.p.) relativamente ao ponto de entrada. Ainda assim, bastante abaixo do diferencial apurado em 2008-2009, apontam os dados do Boletim Económico do Banco de Portugal (BdP), divulgado esta quarta-feira.
“O setor público perdeu capacidade de atração de jovens licenciados relativamente ao setor privado”, escreve o BdP no relatório. E explica porquê.
“Em 2008-09, existia um prémio em todos os escalões de experiência no setor público, o que já não se verifica para os licenciados no início da carreira, no período mais recente. (…) Não existe um prémio para os indivíduos licenciados no início da carreira (com cinco anos de experiência) ao longo da distribuição salarial.”
“Um trabalhador licenciado no setor público tem, face ao setor privado, um ganho salarial superior em cerca de 35 p.p no final da sua carreira relativamente ao ponto de entrada. Entre 2008-09 e 2018-19, tal perfil crescente do diferencial manteve-se, mas verificou-se uma redução aproximadamente uniforme ao longo da carreira”, aponta o BdP.
Já para os que não são licenciados, “o diferencial salarial só se torna positivo após 28 anos de experiência, no caso da escolaridade igual ou inferior ao 9.º ano, e após 20 anos de experiência para os indivíduos que concluíram o 12.º ano”, pode ler-se ainda no estudo.
Vantagem salarial no público reduz à medida que salários aumentam
Considerando o conjunto dos licenciados, independentemente da experiência e nível de rendimentos, o diferencial salarial face ao setor privado era em 2018-2019 de 23%, tendo na última década recuado 14 pontos percentuais face aos dez anos anteriores. Ou seja, em mais de um terço.
“Parte do prémio dos licenciados advém da maior proporção de licenciados a ocupar profissões menos qualificadas no setor privado do que no setor público. Em todos os casos, verificou-se uma redução do diferencial salarial desde 2008-09, particularmente expressiva no caso dos licenciados”, nota o BdP.
A vantagem salarial do setor público para licenciados também se reduz à medida que os rendimentos aumentam. “Na análise à distribuição de rendimentos também associada à experiência, é possível ver, inclusivamente, um diferencial negativo nos primeiros anos de profissão para quem se encontra no topo dos rendimentos face ao setor privado, onde a oferta salarial média será mais elevada.”
Uma análise global permite, contudo, concluir que o setor público continua a pagar acima do setor privado aos seus trabalhadores. No entanto, o diferencial tem vindo a reduzir desde 2008-2009, situando-se, uma década depois, nos 11%, mostra o Banco de Portugal.
Os mais recentes dados divulgados pelo Instituto Nacional de Estatística (INE), referentes a 2021, vão ao encontro desta conclusão. Segundo o gabinete de estatísticas, os trabalhadores da Administração Pública ganhavam em média mais 51,2% do que no setor privado, uma remuneração bruta mensal média de 2.019 euros face aos 1.335 euros no privado.
Uma vantagem salarial justificada, contudo, com diversos fatores, entre os quais as qualificações mais elevadas, idades mais avançadas, menor fosso salarial entre homens e mulheres, menor peso de setores com salários mais baixos, benefícios extra salariais e ainda a força sindical, apontavam os economistas ouvidos na altura pelo Trabalho by ECO.
Segundo a entidade liderada por Mário Centeno, a redução do prémio salarial do público face ao privado entre 2008-2009 e 2018-2019 pode ser explicada pelas alterações legislativas de 2007 e 2008 — com a revisão das carreiras da Administração Pública e a introdução da tabela remuneratória única –, e pelas medidas do programa de ajustamento da troika, com cortes salariais temporários na Função Pública e o congelamento das carreiras com impactos mais duradouros.
Aproximar os salários do setor público e do setor privado “pode contribuir para um mercado de trabalho mais equilibrado e eficiente, desde que a capacidade do setor público para atrair e reter funcionários qualificados não seja comprometida”, conclui o Banco de Portugal.
(Notícia atualizada com mais informação pela última vez às 16h35)
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