Avisos de Lagarde? “Não deixaremos de ter medidas” de apoio financeiro e aumentos salariais, responde ministra

  • Lusa
  • 29 Junho 2023

Em resposta ao conselho da líder do BCE sobre travão a novas medidas de apoio financeiro e aumentos salariais para controlar inflação, porta-voz do Governo promete "equilíbrio" e recorda austeridade.

A ministra da Presidência afirmou esta quinta-feira que o Governo seguirá uma linha de “equilíbrio” contra a inflação, com manutenção dos apoios sociais considerados necessários, contrapondo que a austeridade do passado correu mal nos planos económico e orçamental.

Esta posição foi transmitida por Mariana Vieira da Silva depois de confrontada com os avisos da presidente do Banco Central Europeu (BCE), Christine Lagarde, sobre a necessidade de os governos europeus não adotarem novas medidas de apoios financeiros e de aumentos salariais para que, assim, a inflação seja mais rapidamente reduzida e não seja estimulada.

Na conferência de imprensa, no final do Conselho de Ministros, Mariana Vieira da Silva recusou-se a comentar diretamente a posição assumida pela presidente do BCE, de resto acompanhada por outros governadores de bancos centrais. No entanto, traçou uma linha de demarcação política, dizendo: “Em Portugal, em particular, já houve experiências passadas do que acontece quando não se responde às necessidades das populações”. “Quando assim acontece, a vida não corre bem nem do ponto de vista económico nem do ponto de vista orçamental”, sustentou.

Mariana Vieira da Silva argumentou que “cabe a este Governo, tendo em conta o contexto económico e social, tomar as medidas que considera necessárias”. “Por isso, em 2022 tivemos medidas de valor significativo – 5,7 mil milhões de euros, cerca de 2,4% do Produto Interno Bruto (PIB) – para responder a uma situação de crise. Aquilo que posso garantir é que não deixaremos de ter medidas quando considerarmos que elas são necessárias, porque há um equilíbrio que é sempre preciso garantir. Com o aumento do custo de vida, as pessoas precisam de ter condições para viver”, acentuou.

Interrogada se o Governo se sente condicionado pela posição do BCE contrária a novos apoios sociais e aumentos salariais, a titular da pasta da Presidência referiu que o primeiro-ministro, António Costa, “já foi claro no sentido da manutenção de importantes medidas que o Governo tomou”.

“Estamos num contexto mundial com pressões diversas e muitos intervenientes, entre os quais algumas organizações internacionais. Para o Governo é essencial a existência de um conjunto de medidas que procurem combater a inflação, combater o aumento dos preços da energia, proteger as famílias mais vulneráveis e ter também medidas direcionadas à classe média”, advogou.

Não deixaremos de ter medidas quando considerarmos que elas são necessárias, porque há um equilíbrio que é sempre preciso garantir. Com o aumento do custo de vida, as pessoas precisam de ter condições para viver.

Mariana Vieira da Silva

Ministra da Presidência

Mariana Vieira da Silva disse depois que, quando se olha para os números da inflação em Portugal e para a generalidade dos indicadores económicos e sociais, a conclusão “é que a estratégia tem sido certa e adequada”. “Vamos continuar o trabalho exatamente como temos feito: Já há medidas que lançámos e que não foi necessário prosseguir; outras foram reforçadas e prosseguidas”, assinalou, antes de procurar salientar que o Governo está a fazer “uma avaliação permanente” sobre a evolução da conjuntura económica e financeira.

Ainda sobre a pressão do BCE para que os Estados-membros da União Europeia retirem despesas decretadas para fazer face aos tempos do combate à Covid-19 e contra a inflação, a ministra da Presidência observou que o Governo “tem definido medidas com calendários e temporalidades distintas ao longo deste tempo”.

“Temos medidas previstas até ao fim do ano e outras de caráter mais estrutural, como são exemplo as pensões e os salários dos funcionários públicos. Fazemos sempre uma avaliação. Não alterámos nem os pressupostos nem a metodologia na forma como temos trabalhado em matéria de combate à inflação”, defendeu.

Numa resposta indireta às pressões vindas do BCE em relação aos governos nacionais da União Europeia, Mariana Vieira da Silva alegou que, “se o Governo entendesse que era tempo de retirar as medidas de apoio às famílias, já o teria feito”. “Mas, do nosso ponto de vista, o último ano e três meses implica um grande foco nas famílias mais vulneráveis, nas famílias com filhos e com rendimentos baixos ou médio-baixos, para que consigam fazer face às suas despesas. Essa é a política do Governo”, insistiu.

De acordo com a ministra da Presidência, conforme a evolução dos juros e da inflação, o executivo “analisará se são necessárias mais medidas”. “É isso que fazemos sempre. Apresentamos medidas suplementares sempre que consideramos que é necessária uma resposta adicional. É para isso que serve ter contas certas e capacidade orçamental”, acrescentou.

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