Consórcio do PRR para a inteligência artificial (IA) fez primeiras demonstrações de produtos, como a solução para pessoas poderem falar com familiares diagnosticados com esclerose lateral amiotrófica.
Recuperar a capacidade de comunicar a pessoas com esclerose lateral amiotrófica (ELA), traduzir sem erros documentos para investigação de novos medicamentos, ajudar os médicos a tomar melhores decisões, automatizar pedidos de indemnização de seguros, pesquisar com mais eficácia documentos clínicos e responder aos consumidores da melhor forma independentemente do país. Estes são alguns dos 21 produtos que estão a ser desenvolvidos em Portugal com inteligência artificial e que têm o impulso das agendas mobilizadoras do Programa de Recuperação e Resiliência (PRR).
O Centro de Inteligência Artificial responsável (Center for Responsible AI) fez nesta semana a primeira apresentação pública do consórcio de 78 milhões de euros, liderado pela tecnológica portuguesa Unbabel. Os produtos gerados pelas empresas portuguesas deverão criar 215 novos postos de trabalhos e atribuir um total de 125 doutoramentos e mestrados. Com a ajuda do PRR, as soluções deverão gerar 250 milhões de euros em exportações até 2030.
“Precisamos de inteligência artificial em que podemos confiar”, sinaliza o líder do consórcio. Paulo Dimas sinaliza que no final de março, na Bélgica, uma pessoa suicidou-se depois de ter conversado com um chat baseado em inteligência artificial. A tecnologia desenvolvida por humanos precisa de ser “justa, transparente, amiga do ambiente, confiável e sem preconceitos”.
Uma das soluções mais impactantes recupera a capacidade de comunicar a pessoas com ELA. Para isso, é necessário colocar elétrodos impressos em 3D no braço, um auricular e ainda que o espaço tenha uma boa ligação à internet. Desta forma, a ferramenta não é invasiva e não implica quaisquer implantes. Quando a pessoa com ELA começa a querer comunicar, as mensagens são geradas através de uma “persona com inteligência artificial”, que depois escreve automaticamente no chat da Telegram”, demonstra à assistência Catarina Farinha, da Unbabel, com os fios colocados debaixo do casaco.
A solução vai começar a ser testada em ambiente real nas próximas semanas, para que comece a ser disponibilizada a partir de 2024. Participam neste projeto Unbabel, Fundação Champalimaud, Fraunhofer, INESC-ID e o Instituto de Sistemas e Robótica (Instituto Superior Técnico e Universidade de Lisboa).
A inteligência artificial também pode acelerar a introdução de novos medicamentos do mercado. Foi mostrada uma plataforma de tradução online para que os médicos investigadores, em tempo real, corrijam informações da fases pré-clínica e clínica. A ferramenta permite assinalar se a tradução está correta ou se o erro pode causar graves problemas de saúde aos pacientes. Além da Unbabel, a solução está a ser desenvolvida pela farmacêutica Bial, a sociedade de advogados Vieira de Almeida e o Instituto das Telecomunicações.
Ainda na área da saúde, o consórcio de inteligência artificial vai acelerar as soluções já desenvolvidas pela Sword Health e a EmotAI. O unicórnio Sword Health poderá criar muito mais planos personalizados para que a fisioterapia digital, através de sensores, proporcione uma recuperação mais rápida; no caso da EmotAI, a banda colocada na cabeça poderá prevenir a ansiedade e o esgotamento.
O agrupamento português também quer pôr a tecnologia a responder melhor aos consumidores. Com a Support Genius, a plataforma portuguesa Automaise quer que as empresas respondam aos consumidores em metade do tempo, por conta da análise, em poucos segundos, de grandes volumes de dados. A solução já está a ser testada pela MC, marca do grupo Sonae que detém os supermercados Continente.
Desenvolvida pela Unbabel, a ferramenta Cultural Awareness permitirá que uma simples resposta aos clientes deixe de ser inadequada por causa da estrutura, do uso de emojis, do tratamento da pessoa e dos eufemismos. A solução servirá, por exemplo, para responder a um cliente da China, que não lida bem com determinada estrutura de informação.
A tecnologia também irá ajudar os advogados. Exemplo disso é a base de conhecimentos sobre os desafios jurídicos, regulamentares e éticos e respetivas soluções para ajudar as empresas na criação de produtos de IA responsáveis e ainda o fornecimento de estudos de viabilidade jurídica e ética relacionados com as soluções desenvolvidas.
A próxima demonstração do consórcio está marcada para o final de novembro. Com este conjunto de iniciativas, Paulo Dimas pretende “criar um ciclo virtuoso entre as startups e os centros de investigação nacionais”.
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Na saúde e na doença, na ajuda e na certeza, Portugal mostra ideias com inteligência artificial
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