Unbabel compra israelita Bablic. “Temos um pipeline de aquisições muito interessante”

A portuguesa Unbabel acaba de comprar a israelita Bablic. A segunda aquisição em cerca de seis meses. Vasco Pedro admite ida ao mercado para financiar novos reforços de ativos.

A Unbabel acaba de anunciar a compra da israelita Bablic. Em cerca de seis meses é a segunda aquisição da scaleup de LangOps cofundada por Vasco Pedro. Uma ‘corrida’ às compras que pode não se ficar por aqui. “Temos um pipeline de aquisições interessante”, admite o CEO, sem revelar datas, nem alvos na mira.

Novas compras significa também ir ao mercado buscar financiamento, reconhece Vasco Pedro. É tudo uma questão da oportunidade certa, com os parceiros certos, diz. Agora a oportunidade foi a Bablic, uma solução israelita baseada na cloud, que suporta a gestão da tradução de websites e aplicações. E, ao unificar as capacidades da Bablic com o modelo da Unbabel é possível identificar erros e, deste modo, garantir que o website está pronto para o cliente final. A compra surge depois de no final de 2021 a empresa ter juntado ao seu portefólio a escocesa Lingo24 e, em janeiro, ter reforçado a carteira com a alemã EVS Translations.

Hoje a Unbabel já tem cerca de 450 pessoas, com escritórios em Londres, Edimburgo, Alemanha (na zona de Munique), Roménia, Bulgária, nas Filipinas, e nos Estados Unidos, em São Francisco, Nova Iorque e Pittsburgh. Mas, apesar da sede ser em São Francisco, Lisboa ainda acolhe a maioria dos ‘unbabel’: 180.

“A maior equipa da Unbabel é em Portugal”, diz Vasco Pedro. “Lisboa é o centro cultural da Unbabel, onde temos a maior equipa, um escritório fantástico. É um polo absolutamente essencial para aquilo que a Unbabel é: 99% da nossa equipa de engenharia e de produto está em Lisboa. A grande maioria da nossa equipa de finanças, de vendas, de marketing.”

Há claramente esta sensação de que há qualquer coisa a acontecer em Lisboa e em Portugal e como podemos fazer parte disso. Há uma apetência bastante grande de encontrar outros polos a nível global que permitam a criação de empresas de uma maneira fácil. Temos o potencial de o fazer isso. Não é necessariamente fácil e era bom não criarmos mais obstáculos”, aponta Vasco Pedro.

Obstáculos como o novo regime de stock options que, diz, não premeia que assume o risco e as barreiras que estão a ser levantadas aos Golden Visa e ao alojamento local no âmbito do pacote de habitação.

“Está a ser criado um bode expiatório ‘ah esse pessoal que vem de fora”. Mas as pessoas que vêm de fora estão a criar startups, a criar emprego, a investir em Portugal. Deveria continuar a ser facilitado.”

Mais parecem uma torre da Babilónia em termos de aquisições: em janeiro compraram a alemã EVS Translations, agora anunciaram a compra da israelita Bablic. Que músculo ganham com esta aquisição?

A Bablic é uma aquisição um bocadinho diferente das que fizemos até agora. No final de 2021, comprámos a Lingo24 e depois a EVS Translation, mais alinhadas com uma estratégia de expansão através de aquisições. Com a EVS comprámos os clientes, o negócio e a usar os ‘unababel’ para entregar um serviço melhor, mais eficiente.

A Bablic é diferente, é uma product aquisiton. A Bablic faz o melhor software para tradução de websites do mundo. E quando juntamos com a Unbabel temos, pela primeira vez no mundo, uma solução end to end que permite pegar um website e traduzi-lo completamente com alta qualidade, de uma maneira super fácil e escalável. Normalmente estas coisas estão separadas. Esta agregação e integração vai permitir uma experiência muito mais perfeita e com uma qualidade muito maior. É uma adição de produto super importante, porque na nossa missão de ajudar empresas a tornarem-se globais e a lidarem com barreiras de linguagem, uma das coisas que não tínhamos era esta capacidade de tradução do website. Na maior parte das empresas quando começam, o primeiro passo é ‘preciso do meu meu website em várias línguas. Como é que lido com isto?’. Esse processo é bastante frustrante na maioria dos casos. Com isto vamos oferecer uma solução muito mais simples, escalável, super fácil de usar e que permite às empresas dar o primeiro passo de uma maneira muito melhor do que até agora.

Para continuar a estratégia de aquisições, vamos precisar de ir ao mercado. Vamos ter de encontrar parceiros e estamos a trabalhar para encontrar os parceiros certos. Sem demasiada pressa.

Houve um período de algum entusiasmo do mercado de capitais, muitas rondas de investimento de grande dimensão, unicórnios a nascer. Agora atravessamos uma certa secura. É a melhor altura para ir para ir às compras?

Por um lado sim. Estamos a ver muito no caso de aquisições de empresas de tradução, que há uma grande necessidade de transformação dessas empresas usando uma base tecnológica muito maior, mas que, muitas vezes, não há capacidade de recursos, de investimento das próprias empresas nessa modernização. A nossa plataforma permite que isso aconteça de maneira super simples, o que torna bastante apelativo, sobretudo na fase em que estamos de generative AI, uma série de empresas pensarem que o melhor é vender.

Depois, numa altura em que os mercados estão à procura de empresas com lucros — a Unbabel está muito próxima de ter lucros –, todas essas empresas que compramos têm lucros, portanto, encaixa muito bem nas teses atuais de investir nesse tipo de empresas e não aquele modelo de startup que apenas depende de investimento para sempre. Esse modelo está a mudar.

Nesse contexto, têm previsto novas aquisições? Alguma já na mira, prazos para isso?

Temos um pipeline de aquisições muito interessante, que vai depender de uma série de variáveis. Não posso ainda falar de nomes, ainda é cedo. Mas a nossa estratégia de crescimento inorgânico está a ter imensos resultados, está a ser um sucesso bastante grande e, portanto, é fácil de continuar essa estratégia e, felizmente, não temos uma falta de alvos onde executar.

E seria já para este ano?

É possível. Vai depender um bocadinho de uma conjugação do capital certo, com a oportunidade certa. Há uma série de oportunidades que estamos a trabalhar. Não há uma urgência de termos de adquirir mais empresas este ano, vai haver um desenrolar natural de como é vamos criar essas oportunidades. Pode ser que aconteça este ano, ou no início do próximo ano.

Refere a Unbabel como estar quase a dar lucros. A vossa última ronda data de 2019, ano em que levantaram 60 milhões de dólares. Pensam ir ao mercado buscar mais liquidez para alimentar esse pipeline de aquisições ou o atual momento exige maior prudência?

Para continuar a estratégia de aquisições, vamos precisar de ir ao mercado. Vamos ter de encontrar parceiros e estamos a trabalhar para encontrar os parceiros certos. Sem demasiada pressa, ou seja, é mais importante encontrar o parceiro certo e que haja um alinhamento grande daquilo que queremos fazer. De resto, para além disso, neste momento, a Unbabel tem capacidade interna de chegar a ser lucrativa. A procura de capital vai ser apenas para expansões.

Lisboa tem sido interessante, havia aqui um vácuo de indústria, e o mundo das startups e das tecnologias está a ter uma atenção incrível comparativamente com o impacto que tinha no início. Qualquer coisa capturou a imaginação das pessoas: de ‘uau Lisboa pode ser um sítio onde se pode construir o futuro’.

O que já é neste momento a Unbabel ao nível de talento?

Não estamos muito longe das 500 pessoas.

Estimavam fechar o ano passado com cerca de 50 milhões em faturação. Concretizou-se?

Não estamos a divulgar receitas, mas o ano passado não correu mal e ficamos bastante próximo dos nossos objetivos.

Se o ano passado “não correu mal”, será este o ano dos lucros?

É possível, é sempre difícil dizer. Quando temos uma ação agressiva em orgânica, depois isso tem um impacto muito grande na rentabilidade. As coisas mudam rapidamente, mas se não for no fim deste ano, vai ser no início do próximo. Estamos bastante próximo de o conseguir.

Esse crescimento vai exigir mais talento? Ou com as compras vêm as equipas e já preenche as necessidades que têm de pessoas?

No geral, sim. A nossa equipa de produto e engenharia é incrível e é um dos nossos grandes ativos, mas o produto é bastante escalável. As empresas que adquirimos são bastante menos eficientes do que a Unbabel, já dão lucros, já têm pessoas suficientes para se gerirem. Quando compramos uma empresa, não precisamos de contratar mais pessoas para essa empresa.

Lisboa tem o potencial de se tornar um dos sítios mais apetecíveis no mundo para criar e lançar empresas, para viver num mundo pós-Covid onde as pessoas querem qualidade de vida, estar num sítio que não é uma cidade gigantesca.

Lisboa tem vindo a posicionar-se nos últimos anos muito na tónica dos unicórnios: agora Lisboa Unicorn Capital, tem uma fábrica de unicórnios. Estando em São Francisco como olha para tudo isto? É por aí que se vai atrair mais empresas a se instalar no ecossistema português? Ou, depois, faltam mecanismos para efetivamente sermos atrativos?

Os anos têm sido incríveis do ponto de vista do ecossistema de startups e está a resultar. E não é só um fator. Há muitas coisas que, tivemos um bocadinho de sorte, e aconteceram ao mesmo tempo. Portugal é bastante estável, mesmo no meio das crises europeias; é um país onde as pessoas falam inglês, onde há muito facilidade de comunicação; as infraestruturas são boas; estamos alinhados com a hora de Londres; há uma grande qualidade de vida. E depois há uma parte, que tem mais a ver com esse tópico… Uma cidade como Londres ou Nova Iorque tem imensas startups, mas também tem outras indústrias, tem a indústria financeira, de moda. Acaba por ser difícil termos uma indústria que capte tanto a imaginação das pessoas. São Francisco é um bocadinho mais como Lisboa nesse sentido: aqui tecnologia e startups captam completamente a imaginação.

Lisboa tem sido interessante, havia aqui um vácuo de indústria, e o mundo das startups e das tecnologias está a ter uma atenção incrível comparativamente com o impacto que tinha no início. Qualquer coisa capturou a imaginação das pessoas: de ‘uau Lisboa pode ser um sítio onde se pode construir o futuro”.

Parece que um dos resultados (da nova Lei das startups) é que os fundadores das empresas não vão beneficiar da Lei. Parece-me, sinceramente, um disparate. Estamos a tirar a recompensa àqueles que tiveram mais risco.

Acho que é o que está a acontecer. Os unicórnios são um exemplo de um ecossistema que se está a desenvolver, a criar imensa energia. Há uma série de coisas interessantes em Lisboa que estão a criar esse potencial, se é por uma questão de unicórnios… Há várias maneiras, o importante é continuar este movimento e acho que Lisboa tem o potencial de se tornar um dos sítios mais apetecíveis no mundo para criar e lançar empresas, para viver num mundo pós-Covid onde as pessoas querem qualidade de vida, estar num sítio que não é uma cidade gigantesca. Lisboa tem imensas vantagens. Precisa, no fundo, continuar a promover a energia e o impulso que está a acontecer e tentar não criar obstáculos desnecessário. Mas às vezes não é fácil. Por exemplo, as lei das stock options

Como é que olha para a nova Lei das startups?

Ainda não li a Lei final, mas parece que um dos resultados é que os fundadores das empresas não vão beneficiar da Lei. Parece-me, sinceramente, um disparate. Estamos a tirar a recompensa àqueles que tiveram mais risco e isso, no fundo, vai fazer com que aquelas pessoas que têm a oportunidade de criar empresas em 30 sítios diferentes pensem porque é que vão montar uma empresa aqui se não vão ter o benefício.

A questão da habitação em Lisboa, obviamente é um problema complexo. Mas existe um grande foco no Airbnb e no Golden Visa que, sinceramente, não são os problemas principais na questão da habitação. É um problema que tem de ser resolvido, mas que passa muito mais pela criação de habitação acessível, de uma série de medidas do ponto de vista da oferta do mercado que não estão a ser feitas. Está a ser criado um bode expiatório ‘ah esse pessoal que vem de fora”. Mas as pessoas que vêm de de fora estão a criar startups, estão a criar emprego, a investir em Portugal. Deveria continuar a ser facilitado.

A questão da habitação em Lisboa, obviamente é um problema complexo. Mas existe um grande focos no Airbnb e no Golden Visa que, sinceramente, não são os problemas principais na questão da habitação.

Preocupa-me que as decisões tenham o potencial de minimizar os impactos que se estão a sentir, mas ao mesmo tempo continua a ver-se uma energia enorme no que está a acontecer em Lisboa, mesmo aqui em São Francisco.

Ainda no outro dia estive num evento da RedBridge, uma organização que pretende criar ligações entre São Francisco e Lisboa, estavam 180 pessoas e um monte de gente fascinada com Portugal. Há claramente esta sensação de que há qualquer coisa a acontecer em Lisboa e em Portugal e como podemos fazer parte disso. Há uma apetência bastante grande de encontrar outros polos a nível global que permitam a criação de empresas de uma maneira fácil. Temos o potencial de o fazer isso. Não é necessariamente fácil e era bom não criarmos mais obstáculos.

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