Crédito da casa: taxa variável já custa mais do que taxa fixa
É uma situação inédita na última década, pelo menos, e uma consequência do disparo das Euribor desde 2022: pedir um empréstimo para comprar casa com taxa variável já custa mais do que com taxa fixa.
O disparo das Euribor nos últimos meses conduziu o mercado do crédito à habitação em Portugal a uma situação inédita na última década, pelo menos: em maio, quem pediu um empréstimo para comprar casa com taxa variável ficou a pagar mais ao banco do que quem fixou a taxa.
De acordo com o Banco de Portugal, os novos empréstimos à habitação própria e permanente registaram um valor médio de taxa variável de 4,2% naquele mês, o valor mais elevado em 11 anos, contra uma média de 4,19% da taxa fixa aplicada aos novos contratos.
Variável supera fixa
Fonte: Banco de Portugal
Embora a diferença tenha sido mínima, esta evolução não deixa de ser relevante para um país onde nove em casa dez contratos de crédito da casa estão associados a taxa variável. Sendo a razão pela qual o aperto do Banco Central Europeu (BCE) está a ser particularmente sentido em Portugal, com milhares de famílias a assistirem a fortes agravamentos das prestações mensais que pagam ao banco perante a subida das Euribor, os indexantes usados no cálculo da prestação da casa. Os contratos cujas condições foram revistas este mês tiveram aumentos que podem ir até 260 euros.
Se esta situação poderia levar a um aumento do interesse dos portugueses pela fixação da prestação, a verdade é que isso não está a acontecer.
Apenas 7% dos empréstimos da casa que foram celebrados em maio tiveram taxa fixa, isto apesar de serem menos contratos com taxa variável (72,8%) e mais famílias a optarem por taxa mista (quase 20%) – em que se fixa a taxa num período inicial e depois passa para variável.
Fixa continua fora das opções
Fonte: Banco de Portugal
Ou seja, apesar do aperto do BCE, tem prevalecido o velho hábito em Portugal de pedir um empréstimo ao banco para a compra de casa com taxa variável, uma tradição que já foi estudada pelo Banco de Portugal: as famílias portuguesas não querem fixar a taxa porque tem sido historicamente mais cara no imediato e preferem acreditar na possibilidade de os juros descerem no futuro.
Não se espera que as taxas de juro venham a baixar até final do ano, pelo menos. Depois de vários anos em terreno negativo, as Euribor deram um salto impressionante no último ano e meio, escalando para mais de 3% (para mais de 4% no caso da Euribor a 12 meses), devido à subida dos juros de referência do banco central para controlar a inflação.
Antecipando que o BCE irá ter uma política mais restritiva, o mercado espera que as Euribor a 3 e 6 meses – que representam 70% dos contratos com taxa variável em Portugal – atinjam o pico nos 4% apenas no início do próximo ano, o que significa que as condições financeiras vão continuar a apertar-se durante mais alguns meses até que aliviem um pouco.
Por outro lado, não é a medida do Governo de obrigar os bancos a disponibilizarem uma oferta de crédito à habitação com taxa fixa que está a empurrar as famílias para esta opção.
Do lado dos bancos, a oferta está mais alargada e competitiva. Por exemplo, é possível fixar uma taxa de juro a 30 anos entre 3,46% (Santander) e 4,95% (BPI), de acordo com um levantamento realizado pelo ECO em maio junto das principais instituições financeiras em Portugal.
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