“Temos de romper com um país assente em baixos salários”, afirma secretário de Estado do Trabalho
Miguel Fontes salientou a necessidade de fixar e reter o talento em Portugal, nomeadamente num momento em que é "muito difícil" competir com empregadores europeus.
O secretário de Estado do Trabalho, Miguel Fontes, defendeu esta quarta-feira a valorização dos salários, sob pena de o país não conseguir reter o talento mais qualificados e diferenciados, nomeadamente os jovens.
“Seria trágico que, depois de termos apostado na qualificação destas pessoas, agora assistíssemos impávidos e serenos a que eles fossem embora. Aliás, é disso que se está a tratar quando olhamos para o mercado europeu de mobilidade, em que manifestamente chega aqui um empregador, em áreas que todos sabemos, e é relativamente fácil acenar com uma proposta profissional que se torna muito difícil ser competitiva em Portugal no momento em que vivemos”, afirmou Miguel Fontes, durante a sua intervenção na apresentação do “Relatório anual sobre Emprego e Formação Profissional, 2022”, elaborado pelo Centro de Relações Laborais (CRL).
“Temos de ter uma economia mais competitiva — e uma economia mais competitiva é uma economia assente em qualificações — que percebe que não pode ser a fábrica do mundo”, continuou.
Chega aqui um empregador, em áreas que todos sabemos, e é relativamente fácil acenar com uma proposta profissional que se torna muito difícil ser competitiva em Portugal no momento em que vivemos.
Defendendo que não há nenhuma divergência entre a agenda sindical — “que (e bem) pugna pela melhoria significativa das condições de trabalho e remunerações” — e a agenda da competitividade ao nível da produtividade, Miguel Fontes defendeu que o objetivo da valorização dos salários, embora prejudicada pelos níveis de inflação, tem de ser seguido.
“É um objetivo político não só do Governo mas que tem de ser de todo o país. Temos de romper com um país assente em baixos salários”, disse o secretário de Estado do Trabalho.
Um caminho que assumiu implicar alguns desafios e necessitar da mobilização de políticas públicas e também da vontade de todos. O primeiro passo é, contudo, “fazermos este debate e percebermos que esta é mesmo uma exigência que temos de abraçar”.
Miguel Fontes fez questão ainda de salientar o acordo de rendimentos celebrado com os parceiros, o alargamento do IRS Jovem e o mais recente lançamento do programa Avançar, que arrancou no início deste mês, com o objetivo de combater a precariedade laboral dos jovens qualificados.
“Agora, é aí que temos o problema, nos mais qualificados, nos mais diferenciados. Por isso, e fizemo-lo de forma modesta, alinhámos com o valor de entrada de um técnico superior na Administração Pública, pedindo às empresas, ao setor empresarial, que contratem com duas condições: que seja uma contratação sem termo e que o salário de entrada seja de 1.300 euros“, justifica.
“Adoro ouvir os empregadores dizerem que estão com um problema de recrutamento. Quando digo que adoro é porque este é um momento histórico que nos permite dar um salto qualitativo e quantitativo no mercado de trabalho”, defendeu ainda.
Adoro ouvir os empregadores dizerem que estão com um problema de recrutamento. Quando digo que adoro é porque este é um momento histórico que nos permite dar um salto qualitativo e quantitativo no mercado de trabalho.
Para o secretário de Estado, os custos do fator trabalho não podem ser olhados da mesma forma como se olha para qualquer outro custo.
“Se dizemos que as pessoas estão no centro das nossas organizações (…) isso tem de ter uma expressão em termos de melhoria das condições salariais. Não podemos continuar a olhar para o custo do fator trabalho como qualquer outro custo numa folha de Excel. O fator trabalho não pode ser apenas um fator contabilístico, é um investimento, sob pena de os melhores, os mais diferenciados, os mais qualificados, saírem e irem procurar onde isso seja reconhecido”, concluiu,
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