Renegociações de crédito da casa disparam em 2022. Em 16% dos casos havia incumprimento

Mais de 6.000 contratos renegociados no ano passado apresentavam incumprimento da parte do cliente. Ao todo, foram reestruturados mais de 4,2 mil milhões de euros em crédito à habitação.

A subida das taxas de juro apertou a situação financeira de milhares de famílias com empréstimo da casa. Face às dificuldades, muitas foram ter com o banco para renegociar as condições do contrato no sentido de baixar a prestação mensal. Mas em 16% dos casos já estavam em incumprimento.

De acordo com o Banco de Portugal, foram realizadas mais de 41 mil renegociações de crédito à habitação ao longo de 2022, tratando-se de um aumento de 17,4% em relação ao ano anterior.

Quanto ao montante de crédito que foi reestruturado, estas operações envolveram um montante superior a 4,2 mil milhões de euros, mais 38,2% face a 2021.

Se na generalidade dos contratos, objeto de renegociação, as famílias não apresentavam qualquer situação de incumprimento, “à semelhança dos anos anteriores”, disparou o número de contratos renegociados em que o cliente já se encontrava em situação de incumprimento: foram quase 6.400 casos de default, mais 69,4% em relação ao 2021 e mais do dobro dos números registados em 2020.

Estes dados, que constam do Relatório de Acompanhamento dos Mercados de Crédito em 2022 que o supervisor bancário divulgou esta terça-feira, mostram o impacto da política restritiva do Banco Central Europeu (BCE) no bolso das famílias portuguesas.

Por conta da escalada da inflação, o BCE teve de subir as taxas diretoras em 400 pontos base desde junho do ano passado, atirando as Euribor, que são usadas para calcular a prestação da casa nos contratos com taxa variável, para máximos de 15 anos. Portugal foi um dos países mais afetados pela política restritiva do BCE, dado que 90% dos contratos da casa estão associados a taxa variável. Em alguns casos, o disparo das Euribor resultou num agravamento de mais de 300 euros na prestação da casa.

Face às crescentes dificuldades das famílias, o Governo avançou com medidas no sentido de aliviar o impacto da subida dos juros. Já no final do ano passado entrou em vigor o decreto-lei 80-A/2022 que veio robustecer o regime do plano de ação para o risco de incumprimento (PARI), criado em 2012.

Entre outros aspetos, as mudanças obrigaram os bancos a detetar situações de famílias em stress financeiro atempadamente e a chegar a um acordo para baixar a prestação através de uma reestruturação, o que também ajuda a explicar o aumento das renegociações no ano passado.

O Banco de Portugal revela que um quarto das reestruturações realizadas no ano passado teve por base mais do que duas condições renegociadas, podendo incluir a redução do spread, a extensão do prazo, um período de carência de capital ou a alteração do tipo de taxa de juro.

No final de 2022, as instituições tinham em carteira cerca de 1,5 milhões de contratos de crédito à habitação (mais 4,5% face a 2021), aos quais correspondia um saldo em dívida de 100,9 mil milhões de euros (mais 6,4%).

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