Negócio dos ginásios “engordou” depois da pandemia
Com os jovens a aderir em massa e a Covid a frisar os benefícios do desporto na saúde, o setor já ultrapassou a crise. Maiores cadeias como Solinca e Fitness Up, estão a abrir novos clubes.
Os ginásios foram brutalmente afetados com a Covid-19, mas já começam a aproximar-se dos valores pré-pandemia — e, em alguns casos, até já superaram esses números. A recuperação, explicam ao ECO os empresários do setor, deve-se à abertura de mais unidades, à adesão dos jovens à prática desportiva e ainda ao facto de a Covid-19 ter despertado os portugueses para os benefícios do desporto para a saúde física e mental.
Apesar de a taxa de penetração do fitness em Portugal ser bastante reduzida (7%) e ficar abaixo da média europeia (13%), o volume de negócios agregado do setor dos ginásios em Portugal aumentou 50% em 2022, atingindo um valor de 240 milhões de euros. Os indicadores são positivos, mas este valor está ainda 50 milhões de euros aquém do que foi alcançado em 2019, de acordo com um estudo da Informa D&B.
No ano passado, contabilizavam-se 840 ginásios em Portugal, o que representa mais 40 clubes do que em 2021, mas muito abaixo dos 1.100 que existiam em 2019, antes da pandemia. É no distrito de Lisboa que se concentra aproximadamente um terço dos ginásios de todo o país, seguindo-se a região do Porto, com um peso de 24%.
A SC Fitness, que detêm a marca Solinca (30) e Element (13) tem 43 ginásios em funcionamento e conta com 120 mil inscritos. Bernardo Novo, CEO da SC Fitness, diz ao ECO que o volume de negócios do ano passado ainda não foi superior ao 2019, mas está convicto que “este ano será” e justifica que “este primeiro semestre de 2023 já superou os números pré-pandemia”. “Desde março, temos mais sócios ativos do que tínhamos em fevereiro de 2020, que foi o ponto mais alto pré-pandemia”, conta.
A Fitness Up, que vai abrir este mês o 40.º ginásio, já está acima dos valores de 2019, período antes da pandemia. Hélder Marinho Ferreira, CEO da Fitness Up, conta ao ECO, que o setor está a assistir a uma “recuperação e que estão a crescer”. “Neste momento, temos os nossos clubes muito acima dos valores de 2019, podemos falar em crescimentos de 30% a 40%, quando comparado o primeiro semestre de 2019 com o primeiro semestre de 2023″, afirma o gestor.
A Fitness Up, que conta com 95 mil inscritos, fechou o ano passado com um volume de negócios de 26 milhões, e o gestor está e confiante que, este ano, esse valor será superior a 40 milhões de euros. “A nossa marca já recuperou da pandemia e até considero que a pandemia trouxe uma maior procura do que aquela que existia antes”, comenta Hélder Marinho Ferreira, CEO da Fitness Up.
SC Fitness e Fitness Up apostam em novos ginásios
Com o negócio a ganhar músculo, tanto a SC Fitness como o Fitness Up vão apostar na abertura de mais ginásios. No prazo de três anos, a empresa do grupo Sonae quer ter 70 ginásios low-cost. O objetivo passa por “chegar aos 300 mil inscritos, o que representa 30% da quota de mercado”, conta ao ECO, Bernardo Novo.
Em setembro, vamos abrir mais quatro ginásios em Lisboa e até ao final do ano queremos abrir ainda mais seis na zona de Lisboa. A ideia é chegarmos às 50 unidades até ao final do ano e sermos líderes no mercado.
“Queremos intensificar o ritmo de aberturas em Portugal. Temos 13 clubes Element em funcionamento, queremos chegar aos 70 nos próximos três anos, com foco muito grande no Grande Porto e Grande Lisboa”, afirma Bernardo Novo, CEO da SC Fitness.
À semelhança da SC Fitness, a Fitness Up, cadeia fundada em 2012 em Famalicão, quer chegar aos 50 ginásios ate ao final do ano e ser “líder no mercado”. “Vamos abrir o ginásio 40 durante este mês em Vila Nova de Gaia, em setembro vamos abrir mais quatro ginásios em Lisboa e, até ao final do ano, queremos abrir ainda mais seis na zona de Lisboa. A ideia é chegarmos às 50 unidades, até ao final do ano, e sermos líderes no mercado”, destaca Hélder Marinho Ferreira, CEO da Fitness Up, que emprega 400 pessoas. Cada abertura representa um investimento de 1,2 milhões de euros.
José Carlos Reis, presidente da Portugal Activo, acredita que “com a evolução da sociedade e da economia, o exercício vai ser uma preocupação cada vez maior” e exemplifica que, “nos países mais evoluídos, com níveis socioeconómicos mais elevados, a percentagem de pessoas que pratica exercício físico regularmente anda nos 70%/80%”.
“Com a evolução socioeconómica dos países, a procura por exercício físico vai ser maior, porque há uma maior consciencializarão da necessidade de o fazer”, acrescenta o líder da associação que representa os ginásios. E dá exemplos: “Nos países nórdicos, a taxa de penetração do fitness ronda entre 27% e 30%“, ao contrário de “Portugal, Bulgária e Grécia que estão na cauda da Europa, com taxa de penetração de exercício físico mais baixa”, lamenta.
A Portugal Activo acredita que “quantos mais clubes abrirem, maior vai ser a taxa de penetração do fitness em Portugal”. O presidente da associação afirma que “os portugueses são muito relutantes à mudança e ou têm um ginásio à porta de casa ou à porta do emprego ou não iniciam” e está convicto que “se abrirem muitos mais clubes, vamos ter muito mais pessoas a praticarem”.
“Sempre que abre um clube novo cerca de 90% das pessoas que se inscrevem no clube nunca tinham ido ao ginásio, ou seja, são as pessoas que moram ou trabalham à vota desse ginásio”, diz José Carlos Reis. O CEO da SC Fitness concorda e comenta que uma das estratégias do grupo que emprega 700 pessoas, passa por “colocar ginásios de forma mais conveniente perto do consumidor, seja perto de casa, da escola, ou do local de trabalho”. Paralelamente, outra das estratégias do grupo passa por “democratizar o acesso aos ginásios com preços mais baixos”, como é o caso da marca Element, que segundo o gestor é o “ginásio mais barato em Portugal”.
Pandemia muda hábitos e portugueses estão mais desportistas
Apesar de a pandemia ter assombrado o setor, trouxe aspetos positivos como uma maior consciencialização das pessoas no que respeita aos benefícios da prática desportiva. O CEO da Fitness Up, destaca que, “durante a pandemia, houve uma maior informação relativamente aos benefícios da atividade física”.
José Carlos Reis, presidente da associação que representa os ginásios, corrobora a ideia e realça que “a pandemia foi muito difícil para o setor dos ginásios porque tiveram muito tempo fechados, mas teve um reflexo positivo que está relacionado com uma maior preocupação das pessoas em terem uma melhor qualidade de vida e se preocuparem mais com a sua saúde”. Atualmente 7% da população portuguesa está inscrita em ginásios, o que representa cerca de 700 mil pessoas, contabiliza José Carlos Reis, ao ECO.
A pandemia foi muito difícil para o setor dos ginásios porque tiveram muito tempo fechados, mas teve um reflexo positivo que está relacionado com uma maior preocupação das pessoas em terem uma melhor qualidade de vida e se preocuparem mais com a sua saúde.
A geração Z também está a contribuir para a procura crescente por ginásios. Para o gestor da Fitness Up, a “geração Z que é muito propensa ao exercício físico e procura mais atividade física que a geração anterior“. O presidente da Portugal Activo não podia estar mais de acordo e salienta que a “a geração Z é mais informada” e “começam a existir mais pessoas a ter essa consciência de que é necessário fazer exercício físico, não só para ter melhor qualidade de vida, mas para ter mobilidade e viver com qualidade nos últimos anos de vida”.
Há um efeito crescente da procura e esse efeito é sobretudo mais notório nos escalões etários mais jovens. Vemos mais jovens a entrar mais cedo no mercado e a ganharem uma preponderância muito grande no nosso mix de clientes
O CEO da SC Fitness, também concorda que a geração Z está a contribuir positivamente para a procura crescente por ginásios. “Há um efeito crescente da procura e esse efeito é, sobretudo, mais notório nos escalões etários mais jovens. Vemos mais jovens a entrar mais cedo no mercado e a ganharem uma preponderância muito grande no nosso mix de clientes”, comenta Bernardo Novo.
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