Bolsa está em bull market. Olé!
PSI-20 já avança mais de 20% face ao mínimo de novembro, entrando em bull market. O ataque do touro na bolsa portuguesa está para ficar? Analistas acreditam que sim. Olé, touro lindo!
O touro está de volta à arena da bolsa nacional. O PSI-20 já avança mais de 20% desde que tocou mínimos de seis meses em novembro do ano passado, correspondendo à definição clássica do bull market. Há vários fatores que têm alimentado o movimento ascendente do mercado — o mesmo movimento com que aquele animal ataca através dos seus cornos. A vitória de Macron neste domingo reforçou o ambiente de otimismo nas bolsas. Lisboa será capaz de aguentar o ataque do touro? Os analistas acreditam que sim.
Desde o dia 14 de novembro, em que atingiu o nível mais baixo do último semestre, o benchmark nacional protagoniza uma rally imparável superior a 20%. Isto compara com o avanço de 16,6% do índice de referência europeu Stoxx 600 e de 10% do índice que funciona como um farol para investidores em todo o mundo, o S&P 500. Melhor só mesmo a bolsa de nuestros hermanos: o Ibex-35 ganha mais de 28% no mesmo período.
O facto de o PSI-20 partir de um nível mais baixo que os pares ajuda a explicar o bom momento da praça lisboeta. Mas há mais motivos. A começar pelo desempenho da economia e por fatores específicos das cotadas portuguesas, até ao maior otimismo no cenário internacional, criando o habitat perfeito para a convivência com o touro.
Madrid alcança melhor desempenho desde novembro
“O desempenho positivo do PSI-20 decorre do desempenho positivo do mercado europeu, com o ‘ponto de partida’ mais deprimido do PSI-20 face às congéneres a justificar a outperformance recente face a este, da resolução de algumas ‘histórias’ que estavam a pressionar o índice, de um período de M&A mais ativo no mercado português (conclusão da OPA sobre o BPI, lançamento da OPA da EDP sobre a EDP Renováveis), e da conjuntura económica ‘mais forte’ em Portugal, que consequentemente reflete-se num melhor desempenho operacional pelas cotadas com maior exposição à economia nacional”, diz a equipa de research do Banco BiG.
É um facto. Portugal apresenta níveis de confiança reforçados. As últimas notícias em relação ao défice, ao Produto Interno Bruto (PIB) e ao desemprego são positivas. A perceção de risco do país junto dos investidores internacionais está em queda livre — razão pela qual o IGCP já arrisca a ir ao mercado com leilões de dívida a dez anos. Da Europa sopram também ventos favoráveis e que saíram reforçados com a vitória de Emmanuel Macron nas eleições presidenciais francesas deste fim de semana, afastando Marine Le Pen do poder.
“Há um sentimento geral dos investidores, sobretudo ativos de risco como as ações, de diminuição da aversão ao risco e aumento da complacência perante a incerteza. Este fenómeno ficou mais visível desde o resultado da primeira volta das eleições francesas, com as sondagens a afastarem Marine Le Pen do Eliseu”, comenta João Queiroz, diretor de banca online do Banco Carregosa.
“A perceção do risco soberano dos países da periferia também melhorou. Mas não foi só isso: o calendário de apresentação de resultados nos EUA, em média, surpreendeu pela positiva com estimativas de crescimento de dois dígitos nos lucros”, reforça Queiroz.
"Há um sentimento geral dos investidores, sobretudo ativos de risco como as ações, de diminuição da aversão ao risco e aumento da complacência perante a incerteza. A perceção do risco soberano dos países da periferia também melhorou. Mas não foi só isso: o calendário de apresentação de resultados nos EUA, em média, surpreendeu pela positiva.”
Winners e laggers
No plano empresarial, também há motivos para pegar o touro pelos cornos. Algum do otimismo dos investidores em relação às cotadas está de regresso. Ou, pelo menos, a reputação do mercado nacional parece ter superado o trauma que foram as falências em catadupa do império Espírito Santo e Banif e ainda o caso da Portugal Telecom.
O próprio índice registou alguns ajustamentos nos últimos meses. Saiu o BPI depois da Oferta Pública de Aquisição (OPA) do CaixaBank, entraram dois novos sócios para o PSI-20: Novabase e Ibersol.
Albino Oliveira, gestor de ativos da Patris Investimentos, nota que há um “regresso da confiança por parte dos investidores a algumas cotadas do PSI-20”. De facto, empresas como Mota-Engil, Navigator, Corticeira Amorim e Pharol têm estado em plena evidência na principal montra do mercado português: desde meados de novembro as ações acumulam ganhos entre 40% e 50%. Em relação à Novabase, a tecnológica liderada por Luís Paulo Salvado só chegou ao PSI-20 em março e o primeiro mês foi pautado por alguma ausência do mercado.
Winners da bolsa
Em sentido contrário, Nos Montepio e CTT não conseguiram aproveitar o sentimento mais favorável que o mercado português tem evidenciado desde novembro e são as exceções na bolsa nacional, enquanto REN e BCP têm estado aquém do desempenho do PSI-20, ainda assim mantendo-se em terreno positivo.
Importa salientar, porém, que o banco liderado por Nuno Amado valoriza aproximadamente 25% desde o início do ano. “Está a beneficiar do comportamento do setor na Europa, mas o desempenho traduz também uma maior confiança dos investidores relativamente ao balanço da instituição após a realização do aumento de capital”, argumenta Albino Oliveira. O BCP apresenta contas trimestrais esta segunda-feira após o fecho da bolsa.
Laggers da bolsa
Os riscos
O apetite no mercado nacional existe e pode durar, admitem os especialistas consultados pelo ECO. Mas este sentimento pode mudar de forma brusca a qualquer momento. E o touro vai embora.
“Por exemplo, uma deterioração no enquadramento económico, tendo em conta as atuais elevadas expectativas. Os indicadores de sentimento e atividade registaram nos últimos meses uma forte subida. Por outro lado, o movimento nas yields portuguesas foi também já bastante significativo…”, lembra Albino Oliveira. “Uma inversão no movimento (mesmo que temporária) em ambos os casos poderia ter um impacto negativo”, frisa o responsável.
"Uma inversão no movimento (mesmo que temporária) económico ou dos juros poderia ter um impacto negativo na bolsa portuguesa.”
Para João Queiroz, as maiores preocupações que enfrenta a bolsa nacional neste momento são sobretudo exportadas. “No fundo, temos sempre receio de uma crise sistémica do setor bancário, de um resultado inesperado de processos eleitorais (dentro de um mês haverá três processos eleitorais), de um cisne negro ou de uma das dez bolhas dos EUA suscitar preocupações relevantes”, elenca o gestor do Banco Carregosa.
Seja como for, o touro chegou à bolsa portuguesa e parece estar bem alimentado. Olé, touro lindo!
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