Maria Luís Albuquerque: “Défice é o registo de um ano, dívida é a memória de todos os outros”

  • ECO
  • 6 Maio 2017

A antiga ministra das Finanças diz que vivemos "uma fase de recuperação cíclica, a colher os frutos das reformas feitas". Aplaude o défice, mas diz que é preciso fazer mais para fugir ao diabo.

Maria Luís Albuquerque reconhece que país está a recuperar. A antiga ministra das Finanças diz que está numa fase de “recuperação cíclica”, mas que é preciso fazer mais reformas para evitar-se uma nova situação de bancarrota no futuro. Aplaude o défice, apesar de apontar o dedo a medidas extraordinárias, mas alerta para a dívida elevada. E sobre a banca, diz que o setor ainda precisa de se consolidar. E a CGD? “Não me chocaria que fosse privatizada”, mas “num contexto diferente”.

“Estamos numa fase de recuperação cíclica e claramente a colher os frutos das reformas feitas, nomeadamente a trajetória do emprego tem muito que ver com aquelas reformas que foram introduzidas durante a fase do período de ajustamento e que têm vindo, desde 2013, a dar frutos”, diz a antiga ministra das Finanças em entrevista à TSF e Dinheiro Vivo. Mas é preciso continuar a trabalhar, alerta.

"Se o défice é o registo do que aconteceu num ano, a dívida é a memória do que aconteceu em todos os outros anos e diz muito mais sobre o nosso comportamento a prazo do que um resultado do défice num ano”

Maria Luís Albuquerque

Ex-ministra da Finanças

A resolução dos problemas “não pode depender só de uma conjuntura que é favorável – voltará a ser desfavorável algures no futuro -, é preciso continuar a fazer reformas para garantir que a dinâmica positiva se mantém – e isso é que nós não vemos. Não está a ser feito nada para garantir que esta trajetória terá continuidade no futuro. Ir apenas à boleia de uma recuperação cíclica é curto e isso explica porque é que a taxa de crescimento, sendo positiva, não é maior como precisava e poderia ser”.

A ex-governante defende que é “preciso criar no país uma resiliência que nos permita enfrentar futuros choques internos ou externos e alterações do ciclo económico sem termos outra vez de passar por programas de austeridade gravíssimos por estarmos à beira da bancarrota”. Apesar de haver sinais positivos, como o défice, pede mais. Até porque os 2% de défice só foram conseguidos, diz, com medidas extraordinárias.

O défice foi, de facto, o mais baixo em democracia. Isso, em si mesmo, é bom, mas basta ver aquilo que dizem observadores independentes, que não foi feito com medidas sustentáveis para o futuro, ou seja, o corte do investimento é uma opção política que pode ser política mas que teria consequências graves”. E “aquilo que vimos em 2016 foram medidas extraordinárias, o que está previsto em 2017 são também medidas extraordinárias”, remata, salientando que a despesa continua a subir.

“A preocupação do rating tem que ver com isso, mas também com o facto de a acompanhar um défice baixo voltámos a ter uma subida da dívida pública”, diz, notando que “se o défice é o registo do que aconteceu num ano, a dívida é a memória do que aconteceu em todos os outros anos e diz muito mais sobre o nosso comportamento a prazo do que um resultado do défice num ano”.

“Precisamos de ter um comportamento em termos de finanças públicas que assegure que deixamos de aumentar consecutivamente a dívida pública, porque isso, quando já estamos em 130% do PIB, não é de todo sustentável”, nota. E sobre as propostas do grupo de trabalho que foi criado para analisar a dívida pública diz que só o “reembolso antecipado ao FMI faz todo o sentido”. As outras são “muito más ideias”.

Relativamente à banca, Maria Luís Albuquerque diz que o sistema está ainda a consolidar-se. Num contexto diferente “não me chocaria privatizar a CGD”. Neste momento, diz que não faz sentido já que o setor ainda está a recuperar da crise que o país atravessou. “Passar para a gestão privada não iria garantir por definição melhores resultados”.

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