Competitividade, alargamento e eleições. O discurso do Estado da União em cinco pontos
Ursula von der Leyen passou por vários temas no último discurso do Estado da União antes das eleições europeias de 2024, destacando o foco na competitividade e em preparar o alargamento.
A presidente da Comissão Europeia fez o último discurso do Estado da União antes das eleições europeias, que se vão realizar em junho do próximo ano, onde aproveitou para destacar as políticas concretizadas mas também sinalizar as prioridades para os próximos 300 dias até os cidadãos irem às urnas.
A transição verde e a competitividade das indústrias europeias estiveram em foco no discurso que durou cerca de uma hora, mas Ursula von der Leyen abordou também temas como a Ucrânia e o alargamento a outros países, bem como os desafios económicos que a Europa enfrenta.
Competitividade europeia é prioridade
Um dos grandes focos do discurso de Ursula von der Leyen foi a competitividade europeia, numa altura em que enfrenta desafios como a política dos EUA do Inflation Reduction Act e concorrência da China. Neste ponto, a presidente foi mais longe e anunciou mesmo uma investigação aos subsídios dados pela China na indústria dos carros elétricos, que disse “distorcerem o mercado”.
Além disso, deu também a tarefa a Mario Draghi de preparar um relatório sobre o futuro da competitividade europeia, reiterando que é necessário traçar uma estratégia e perceber quais as ações necessárias. A escolha não foi inocente: von der Leyen garantiu que “a Europa fará o que for necessário” (whatever it takes, em inglês) para salvar a competitividade, fazendo referência à frase do ex-presidente do Banco Central Europeu na crise do euro.
Comissão vai continuar a apoiar indústria na transição verde
A competitividade está também ligada à transição verde, com a presidente da Comissão a fazer inúmeras referências ao chamado Green Deal europeu. “Mudámos a agenda climática para ser económica e isto deu-nos um sentido de direção, nomeadamente na inovação, e já vimos esta estratégia a dar resultados”, reiterou, mostrando-se confiante de que a “indústria europeia está pronta para a transição”.
Ursula garantiu que ao entrar na próxima fase do Green Deal, vão “continuar a apoiar as indústrias europeias nesta transição”, sendo que a partir deste mês vão promover diálogos com os representantes, com o objetivo de “apoiar cada setor em construir um modelo de negócios para a transição e descarbonização”.
A responsável destacou alguns setores onde vão apostar, nomeadamente com o pacote para a energia eólica, onde vão “acelerar as licenças, melhorar sistemas de leilão, focar nas competências e no acesso a financiamento“. Além disso, salientou também que “o futuro da indústria de clean tech tem de ser feito na Europa”.
Inflação e mercado de trabalho são “grandes desafios económicos”
A líder do Executivo comunitário elencou os que considera serem os três principais desafios económicos que a Europa vive atualmente: mercado de trabalho, inflação e ambiente de negócios.
Quanto às questões laborais, apontou que o desemprego que se previa não se verificou, mas que agora existe o problema contrário: falta de mão-de-obra. “Em vez de milhões de pessoas à procura de empregos, milhões de empregos estão à procura de pessoas”, admite, apontando a necessidade de medidas para colmatar a falta de competências.
No que diz respeito à inflação, von der Leyen admite que “levará algum tempo” a controlar. “Christine Lagarde e o Banco Central Europeu estão a trabalhar arduamente para manter a inflação sob controlo, mas o regresso ao objetivo de médio prazo do BCE”, de 2%, “levará algum tempo”, alerta a presidente da Comissão Europeia. Segundo as mais recentes previsões da Comissão, a inflação na Zona Euro deverá ser de 5,6% em 2023 e 2,9% em 2024.
Para enfrentar estes desafios, anunciou iniciativas como uma nova cimeira com os parceiros sociais, bem como a preparação de medidas para evitar o aumento de preços em certos setores, como aconteceu na energia. Já quanto ao ambiente de negócios, destaca que têm sido anunciadas propostas para simplificar as obrigações de reporte das empresas e facilitar os negócios.
UE continua a apoiar Ucrânia e prepara alargamento
Como já era de esperar, a Ucrânia foi um dos pontos principais do discurso de von der Leyen, tendo marcado o ano que passou. A presidente da Comissão Europeia reiterou o compromisso para apoiar o país, anunciando que vão propor estender o regime de proteção temporária aos ucranianos na União Europeia.
von der Leyen salientou ainda que o futuro da Ucrânia é na União, aproveitando também para falar dos restantes países candidatos, destacando que é também o futuro dos Balcãs ocidentais e da Moldávia. “É no interesse estratégico da Europa completar a nossa união”, reiterou, alertando que é necessário “ter uma visão para um alargamento bem-sucedido”.
Na preparação para acolher novos membros, o que acontece sempre “com base nos méritos”, recordou, anunciou que a “Comissão vai começar a trabalhar numa série de revisões pré-alargamento para ver que políticas têm de ser adaptadas, como as instituições iriam funcionar, o futuro do orçamento e como é financiado”.
Ainda há trabalho a fazer nos 300 dias até às eleições
Este é o último discurso do Estado da União antes das eleições europeias, marcadas para junho do próximo ano, e Ursula von der Leyen aproveitou para destacar o trabalho que fez durante o mandato, ainda que tenha admitido que ainda há trabalho por fazer. “Em 300 dias, os europeus vão às urnas”, recordou, apontando que “num mundo de incerteza, a Europa tem de responder à chamada da história”.
“Nos próximos 300 dias temos de terminar o trabalho que nos confiaram”, prometeu, defendendo que é necessário continuar a impulsionar o progresso em áreas como a transição verde e digital, bem como na igualdade de género.
Já olhando para o percurso feito, destacou que o Executivo comunitário concretizou “mais de 90% das orientações políticas” que apresentou em 2019. “Quando estive em frente a vocês em 2019 com um programa para Europa verde, digital e justa sei que alguns tiveram duvidas”, admitiu, mas foram possíveis progressos como o nascimento de união política, o Green Deal europeu, os direitos online e o Next Generation EU (também conhecido como a bazuca europeia).
Destacou ainda os primeiros passos dados na união da saúde e a Europa ter começado a tornar-se mais independente “em setores estratégicos como a energia e os chips“.
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