BCE aumenta juros para níveis históricos e sinaliza fim das subidas
O Banco Central Europeu não tirou o pé do acelerado e aumentou pela décima vez consecutiva as taxas de juro de referência. Taxa de depósitos ficará agora nos 4%, o valor mais elevado de sempre.
As taxas de juro na Zona Euro voltaram a subir. De acordo com a decisão tomada esta quinta-feira pelo Comité de Política Monetária do Banco Central Europeu (BCE), as taxas diretoras do BCE vão aumentar 25 pontos base, com efeitos a partir de 20 de setembro. No entanto, o BCE sinaliza também, e pela primeira vez, que não deverá voltar a subir as taxas.
“A inflação continua a descer, mas ainda se espera que permaneça demasiado elevada durante demasiado tempo“, justifica o BCE em comunicado.
Trata-se da décima subida consecutiva desde que em julho do ano passado a autoridade monetária da Zona Euro iniciou um ciclo de subida das taxas de juro. Com esta decisão, a taxa de facilidade permanente de depósitos aumenta para 4%, situando-se no valor mais elevado de sempre.
Significa que, a partir de agora, os recursos depositados pelos bancos comerciais junto do BCE em overnight passarão a ser remunerados à taxa de 4%.
As restantes taxas diretoras do BCE também sofrem um aumento de 25 pontos base. Desta forma, a taxa de juro das principais operações de refinanciamento passa para 4,5% e a taxa de juro aplicável à facilidade permanente de cedência de liquidez aumenta para 4,75%.
A decisão anunciada pelo BCE não apanhou o mercado totalmente de surpresa, sobretudo depois de na quarta-feira a Reuters ter revelado que o BCE prepara-se para rever em alta as previsões da inflação para o espaço da moeda única para o próximo ano, colocando o Índice Harmonizado de Preços do Consumidor acima dos 3% em 2024.
No seguimento da conferência de imprensa após o anúncio das medidas, Christine Lagarde revelou que a decisão de aumentar as taxas em 25 pontos base não foi unânime. “Alguns membros teriam preferido fazer uma pausa”, referiu a presidente do BCE.
“As projeções macroeconómicas de setembro para a área do euro elaboradas por especialistas do BCE indicam uma inflação média de 5,6% em 2023, 3,2% em 2024 e 2,1% em 2025, o que representa uma revisão em alta para 2023 e 2024 e uma revisão em baixa relativamente a 2025″, refere o BCE.
A autoridade monetária da Zona Euro liderada por Christine Lagarde justifica que a revisão em alta da inflação em relação a 2023 e 2024 reflete uma trajetória mais elevada para os preços dos produtos energéticos. “As pressões subjacentes sobre os preços permanecem altas, embora a maioria dos indicadores tenha começado a abrandar.”
O BCE considera também que as condições de financiamento tornaram-se mais restritivas e estão a refrear cada vez mais a procura, “o que constitui um importante fator para fazer a inflação regressar ao objetivo”. O efeito desta dinâmica é espelhado por um maior enfraquecimento do enquadramento do comércio internacional, que levou os especialistas do BCE a reduzirem significativamente as suas projeções para o crescimento económico. O BCE espera agora que economia do espaço do euro cresça apenas 0,7% em 2023, 1,0% em 2024 e 1,5% em 2025.
BCE perspetiva que não haverá mais subidas
Pela primeira vez, o BCE abre também a porta a que o ciclo de subidas das taxas de juro desde julho do ano passado tenha chegado ao fim. “Com base na sua atual avaliação, o Conselho do BCE considera que as taxas de juro diretoras atingiram os níveis que – se forem mantidos durante um período suficientemente longo – darão um contributo substancial para o retorno atempado da inflação ao objetivo.”
Na sua declaração, o BCE salienta que “as futuras decisões do Conselho do BCE assegurarão que as taxas de juro diretoras sejam fixadas em níveis suficientemente restritivos, durante o tempo que for necessário.”
No entanto, o BCE sublinha que continuará a seguir uma abordagem dependente dos dados na determinação do nível e da duração adequados da restritividade. “As decisões do Conselho do BCE sobre as taxas de juro continuarão a basear-se na avaliação das perspetivas de inflação, à luz dos dados económicos e financeiros que forem sendo disponibilizados, da dinâmica da inflação subjacente e da força da transmissão da política monetária.”
Além disso, na conferência de imprensa, Christine Lagarde sublinhou que, no Conselho do BCE, os governadores “não discutiram” o conceito de “suficientemente longo” da manutenção das taxas de juros e que o BCE não está a anunciar “que estamos perante o pico das taxas”.
Além da decisão das taxas de juro, o BCE não pretende fazer qualquer alteração na gestão do programa de compra de ativos (asset purchase programme – APP). Em comunicado, o BCE anunciou apenas que o APP “está a diminuir a um ritmo comedido e previsível, dado que o Eurosistema deixou de reinvestir os pagamentos de capital de títulos vincendos.”
Em relação ao programa de compra de ativos lançado pelo BCE para fazer face à pandemia (pandemic emergency purchase programme – PEPP), o Conselho do BCE anunciou que “tenciona reinvestir os pagamentos de capital dos títulos vincendos adquiridos no contexto do programa até, pelo menos, ao final de 2024”, lê-se no comunicado do BCE.
No entanto, Christine Lagarde, após classificar “o PEPP como a primeira linha de defesa para a transmissão“, referiu que, na última reunião do BCE, “não discutimos o programa PEPP e as redes de reinvestimento.”
Porém, anuncia que “a futura descontinuação gradual da carteira do PEPP será gerida de modo a evitar interferências com a orientação de política monetária apropriada.”
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