Número de famílias em incumprimento volta a aumentar

No primeiro trimestre deste ano, 8.695 pessoas entraram em incumprimento com os seus créditos, indicam dados do Banco de Portugal. É o valor mais elevado dos últimos dois anos.

O arranque deste ano foi marcado por um agravamento do número de situações de incumprimento entre as famílias portuguesas. Dados do Banco de Portugal indicam que nos primeiros três meses do ano o número de particulares que deixaram de cumprir com os seus compromissos com créditos engrossou pela primeira vez no último ano, para atingir o valor mais elevado dos últimos dois anos. Números que provam que as famílias portuguesas continuam com dificuldade em fazer face aos seus compromissos financeiros apesar da melhora da situação económica do país.

De acordo com os dados da central de responsabilidades de crédito do Banco de Portugal, nos três primeiros meses do ano, houve 8.695 novas famílias a deixarem de cumprir com o pagamento dos seus créditos, engrossando para 579.850 o total de agregados em falta com os seus empréstimos. Estes números revelam uma inversão de tendência, após um ciclo de três trimestres consecutivos de quedas no número de famílias com créditos vencidos, com as novas entradas a crescerem para máximos de dois anos. Ou seja, para o patamar mais elevado desde o primeiro trimestre de 2015, período em que houve 10.266 novas famílias a entrarem para a lista de devedores faltosos.

Número de pessoas que falham créditos aumenta

O aumento do número de situações de incumprimento não surpreende Natália Nunes, coordenadora do Gabinete de Apoio ao Sobreendividado (GAS) da Deco. “Aquilo que temos verificado, e daí não me surpreenderem esse números, é que apesar da maior parte das pessoas até já estar a trabalhar, os rendimentos que recebem não lhes permite honrar os compromissos. Estes dados são justificados pela precariedade e redução dos rendimentos das famílias”, explicou a jurista ao ECO.

"Aquilo que temos verificado, e daí não me surpreenderem esse números, é que apesar da maior parte das pessoas até já estar a trabalhar, os rendimentos que recebem não lhes permite honrar os compromissos. Estes dados são justificados pela precariedade e redução dos rendimentos das famílias.”

Natália Nunes, Deco

De acordo com Natália Nunes, o facto de haver muitas pessoas que negociaram períodos de carência nos seus créditos que agora estão a terminar, também ajuda a engrossar os números das situações de incumprimento. A jurista revela ainda a sua preocupação relativamente às situações de incumprimento relacionadas com créditos celebrados recentemente. “Ainda não é uma realidade com grande dimensão, mas há pessoas que contrataram créditos junto da banca tradicional, em 2015 e 2016, que nos estão a contactar. Ou seja, houve um aumento da concessão de algum crédito que não foi acompanhado por um aumento dos rendimentos, que está a dar também algum contributo. Este é um dado preocupante”, salienta Natália Nunes.

Novos incumprimentos agravam sobretudo na habitação

O aumento do número de novas situações de incumprimento registou-se tanto no crédito ao consumo como na habitação. Mas foi particularmente intensa nesse último caso. Nos primeiros três meses deste ano, 128.301 agregados estavam em falta com o pagamento das prestações dos seus créditos à habitação. Isto significa que houve 4.331 novas famílias a deixarem de cumprir com o pagamento do crédito à habitação face ao total de 123.970 situações que se verificavam no final do ano passado.

Há um ano que não era identificado um aumento dos casos de incumprimento no crédito à habitação, sendo que as novas entradas verificadas no primeiro trimestre deste ano, já são as mais elevadas dos últimos dois anos. Seria necessário recuar até ao primeiro trimestre de 2015, para observar um número mais alto: 6.408. “Este é um dado preocupante, sobretudo tendo em conta que as famílias só deixam de pagar o crédito à habitação quando tal já não é mesmo possível. Começam por deixar de pagar os créditos pessoais e os cartões de crédito, e só em última instância deixam de pagar o crédito à habitação”, repara a coordenadora do GAS. “Isto é claramente demonstrativo de que a situação financeira das famílias não está boa”, acrescenta.

No que diz respeito ao crédito ao consumo, os números da central de responsabilidades de crédito também apontam para um aumento do número de novas situações de incumprimento, mas ainda assim mais curto face ao verificado há um ano, a última ocasião em que tinha ocorrido um agravamento desse número. No total, 6.025 devedores deixaram de cumprir com o pagamento dos seus créditos, nos primeiros três meses do ano, elevando para 519.753 o total de incumpridores neste segmento. Há um ano, o total de novas situações de devedores com créditos vencidos na finalidade consumo tinha sido de 7.097.

Neste âmbito, Natália Nunes reforça o papel do crédito concedido entre 2015 e 2016, sobretudo automóvel, nas situações de incumprimento que mais recentemente chegam à Deco. “Basta olhar para a publicidade e para a prática da banca na concessão nomeadamente de crédito à habitação, e mesmo de crédito automóvel, para vermos que estamos a cometer os mesmos erros que antes da crise”, remata a especialista da Deco.

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