A Advocatus foi conhecer a história de quatro advogados que saíram das grandes cidades do país - Lisboa e Porto - e rumaram até ao interior do país para uma vida mais "calma".
Laura rumou até Tomar. Bruno foi até à Guarda. Tiago para as Caldas da Rainha. E Sara optou por Vila Nova de Mil Fontes. Estes quatro advogados iniciaram o seu percurso profissional nas grandes cidades, como Lisboa e Porto, mas acabaram por optar em resguardar-se no sossego de zonas mais pequenas e interiores do país.
Da conciliação da vida pessoal com a profissional à proximidade com os clientes, muitas foram as oportunidades que encontraram neste novo estilo de vida profissional.
A Advocatus foi conhecer a história destes quatro advogados que garantem que regressar às grandes cidades não está, para já, nos seus planos.
“Está completamente fora dos meus planos e da minha família. Podemos até mudar para outra cidade ou país, ou mesmo continente, mas regressar a Lisboa não é algo que ambiciono”, partilhou Sara Virtuoso.
Licenciada em Direito pela Universidade Nova de Lisboa em 2008, Sara Virtuoso saiu de Lisboa sete anos depois, em 2015, estando na altura a trabalhar como advogada, em colaboração com uma colega e com o escritório onde estagiou, o Sternberg Galamba Portugal & Associados.
A saída de Lisboa para Odemira foi motivada por razões familiares. “Saí de Lisboa para acompanhar o meu marido, que arranjou trabalho nesta zona”, contou a advogada. À Advocatus, confessou que não pensou muito sobre a sua decisão o que lhe permitiu não ter receio em dar este passo e embarcar numa nova aventura.
“Inicialmente ia e vinha todas as semanas, num misto de trabalho presencial e remoto, mantendo a colaboração que tinha com os colegas de Lisboa. Inscrevi-me no Acesso ao Direito, para começar a ganhar mais experiência a trabalhar sozinha e fui aceitando os desafios com que me ia cruzando. E foram vários e muito diferentes. Até que deixou de fazer sentido continuar ligada a Lisboa, era demasiado cansativo fazer tantas viagens de carro”, explicou.
Sara Virtuoso começou por fazer o estágio, depois, através do programa Inov Contacto, rumou ao estrangeiro e quando regressou andou a experimentar outras áreas, até que voltou para a advocacia. Apesar de nunca ter planeado ser advogada, passo a passo, acabou por abrir o seu próprio escritório.
“Quando nos mudámos para cá estava a trabalhar como advogada mas estava aberta a aceitar outras áreas profissionais. Um dia, por acaso, num passeio a Odemira, vi um potencial escritório para arrendar. Decidi ligar para saber se os proprietários aceitavam a renda que eu estava disposta a pagar. Estipulei um valor máximo que poderia gastar com a experiência, caso o negócio não corresse bem. Montei um escritório, criei uma imagem e arrisquei”, avançou.
Uma coisa é certa, não se arrepende da decisão e, apesar de terem surgido algumas oportunidades para trabalhar por conta de outrem, sempre optou por trabalhar por conta própria.
Sobre abrir um escritório em nome individual, assegura que foram, “e são”, muitas noites sem dormir. “Muitas preocupações com a responsabilidade que acarreta esta decisão de trabalhar sozinha. O não partilhar essa responsabilidade com ninguém. A incerteza quanto aos rendimentos versus despesas. E, do outro lado, a liberdade de criar horários, e tomar todas as decisões relativas à gestão do trabalho e o reconhecimento do meu trabalho”, contou. Ainda assim, admite que não sentiu grandes dificuldades em estabelecer a própria empresa.
Com escritório em Vila Nova de Mil Fontes, Sara Virtuoso garante que sempre foi muito bem aceite por todos os colegas e destaca a menor competitividade na profissão e a maior liberdade para ser fiel a si própria. “A maioria dos meus clientes são pessoas que procuram um estilo de vida mais descontraído, pelo que o ambiente do trabalho logicamente acaba por ser bastante diferente do que seria em Lisboa”, acrescentou.
Ao fim de seis anos, Sara Virtuoso garante que as expectativas têm sido superadas e que se sente “bastante orgulhosa” do seu percurso individual.
Já o principal desafio que enfrenta profissionalmente é o de conciliar o trabalho com a vida familiar. “Faço toda a gestão do escritório, desde a contabilidade, à parte administrativa, e até, por vezes, à limpeza, e não posso descurar de toda a carga de responsabilidade que a advocacia me traz. E, em paralelo, sou mãe de três filhos, o mais velho com cinco anos, e ainda tenho outro negócio com o meu marido, que é exclusivamente gerido por nós. Acumulo muitas ocupações e, sem dúvida, o mesmo principal desafio, é conseguir gerir o meu tempo”, confessou.
Também Tiago Frade dos Santos decidiu abandonar a capital portuguesa e fixar-se na zona onde cresceu, nas Caldas da Rainha, após mais de seis anos em Lisboa.
Antes de rumar até às Caldas, o licenciado pela Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa em 2017, estava a trabalhar em Tax, como consultor, na PwC Portugal, focado na área de imobiliário e de serviços financeiros.
À Advocatus, explicou que vários fatores contribuíram para a decisão de abandonar Lisboa. Para além da vontade do ponto de vista pessoal em regressar à cidade onde cresceu, procurando uma melhor qualidade de vida, também lhe fazia sentido regressar e aproveitar o mercado da zona, “com forte ligação à indústria e com muitas PME’s de relevo”, e beneficiar da proximidade a Lisboa que, segundo o próprio, os coloca numa “posição de vantagem”.
“Não sei se senti receio propriamente, mas de forma inevitável, passar a trabalhar por conta própria é uma mudança grande e que sabemos que acarreta riscos, o que gerou alguma ansiedade nas semanas que antecederam essa mudança e ao longo da preparação do nosso projeto. No entanto, rapidamente começámos a trabalhar e o entusiasmo e a vontade de criar bases, crescer e entrar no mercado tomou conta da ansiedade que podia existir”, disse.
A ideia de fundar um escritório surgiu ainda na faculdade e com o passar dos anos foi fazendo “sentido” até que acabou por se materializar com a LFS Advogados.
“Para estarmos à frente de um escritório, temos de ser também gestores, traçar metas e objetivos, gerir clientes e manter contacto regular com estes, garantir que estamos presentes no mercado e que estamos atentos às mudanças e evolução do mesmo, algo que sempre me desafiou e contribuiu para alimentar esta vontade de exercer por conta própria”, assegurou.
Tiago Frade dos Santos garante que esta foi a melhor decisão que podia ter tomado, tanto do ponto de vista pessoal como profissional, e que lhe permitiu uma gestão mais livre do seu tempo.
“A sensação de sentirmos muitas vezes que estamos por nossa conta e que os clientes e o sucesso dos trabalhos dependem única e exclusivamente de nós, cria uma pressão que acaba por resultar em algo muito positivo. No final do dia, é o nosso nome que está na porta e o crescimento do escritório depende do sucesso e atenção ao pormenor em cada trabalho e cliente”, notou o advogado.
Assim, com o sócio Bruno Rodrigues Linto, fundou em abril de 2023 o LFS Advogados. Este projeto foi fruto de uma “convergência de objetivos” e “ideias”. “Sabíamos que queríamos um escritório que se focasse na proximidade ao cliente, focado na prática da advocacia junto das empresas e dos negócios, proporcionando aos nossos clientes não só uma prática objetiva e preventiva, como por outro lado, uma vontade de acrescentar valor efetivo nos negócios, tanto através da mitigação de riscos e ineficiências, como na atribuição de apoios e benefícios e criação de sinergias”, explicou.
Em todo o processo de fundação, o maior obstáculo passou pelos processos de decisão de “tudo o que está adstrito à abertura” do escritório, desde a escolha do espaço até ao logótipo.
Entre o mercado de Lisboa e o das Caldas da Rainha, Tiago Frade dos Santos afirma que há uma diferença “substancial” no tipo de clientes e no modo como estes gerem os seus próprios negócios. “As empresas presentes neste mercado, na sua maioria, têm uma gestão de índole mais familiar, menos segmentada e hierarquizada”, revela, assumindo que já assistem a uma transformação no setor empresarial.
“As empresas cada vez mais procuram contratar profissionais qualificados e ganhar tempo que despendem a gerir tarefas para as quais podem e devem ter um apoio especializado, garantindo que as mesmas são executadas com mais conhecimento e rigor e ao mesmo tempo, libertando-se para o foco no negócio e no crescimento deste”, disse.
Sobre os primeiros meses de atividade e apesar de todos os riscos assumiram, Tiago Frade dos Santos garante que as expectativas estão a ser “largamente superadas”. “Não esperei que o crescimento inicial fosse tão rápido e exponencial. O objetivo que tínhamos definido para este primeiro ano, foi atingido no final de junho e temos expectativa de até ao final deste ano atingirmos o objetivo que tínhamos traçado para o final do terceiro ano de atividade, pelo que as expectativas foram largamente ultrapassadas”, avançou.
O próximo passo da LFS é conseguir demonstrar aos clientes o incremento de valor do seu trabalho na sua empresa e na sua atividade.
Foi há dois anos que Laura Antunes decidiu deixar para trás Lisboa e regressar à sua cidade natal, Tomar. Uma decisão motivada pelo estilo de vida que já não conseguia ter na capital portuguesa.
“A vida quotidiana e calma numa cidade mais pequena é um aspeto que sempre me atraiu, talvez porque foi neste tipo de ambiente que cresci. Parece que, fora de Lisboa, o tempo passa mais devagar, há mais tempo para cada tarefa, quer seja trabalhar, ir ao ginásio, estar com amigos, entre outros. A correria que tanto caracteriza Lisboa, embora existente também por cá, é substancialmente menor”, explicou.
Para além disto, também já não lhe agradava viver numa cidade que sentia cada vez “menos acolhedora” e “menos atrativa” para jovens adultos. “O poder de compra e a qualidade de vida que um jovem adulto trabalhador consegue ter numa cidade mais pequena é muito superior do que teria em Lisboa”, acrescentou.
Licenciada em Direito pela Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa em 2018, antes de abandonar a capital, Laura Antunes estava a trabalhar na Abreu Advogados, onde era associada na área de Contencioso e Arbitragem.
O passo de sair de um dos maiores escritórios de advogados do país para um negócio próprio foi dado com receio, que até nos dias de hoje se mantém. “Enquanto estava na faculdade e quando terminei a licenciatura, os meus sonhos eram os mesmos que os da larga maioria dos estudantes: estagiar e trabalhar num grande escritório de advogados. Consegui concretizar esse propósito e quando comecei a ponderar sair daquele mundo, senti-me essencialmente muito culpada e até frustrada”, revelou a advogada.
Laura Antunes explicou que sentiu que estava a abdicar de todo o trabalho para ali chegar e que poderia vir a desapontar todos os seus superiores e pessoas com quem se cruzou. “Sentia uma dualidade muito grande, porque a decisão era, em primeiro lugar, trocar aquilo que sempre quis por uma ideia recente e, em segundo lugar, porque a nível financeiro estaria a trocar um vencimento “certo” por uma ideia que, tal como o vencimento inerente, poderia ser “incerto””, assegurou.
Passados dois anos, confessou à Advocatus que ainda pensa: “Que loucura!”. Ainda assim, não se arrepende da decisão e garante que está muito feliz com a decisão que tomou.
“Gosto mais da minha vida neste momento, sinto até que gosto mais da profissão neste momento e, essencialmente, o equilíbrio entre vida pessoal e profissional que alcancei é algo que não pretendo abdicar”, destacou.
Assim, em Tomar, Laura Antunes abriu o seu próprio escritório, um desafio que adjetiva como “enorme” e “muito assustador”. Neste processo, a advogada destacou os colegas de profissão da cidade ribatejana que a ajudaram a orientar “muitíssimo bem” e que lhe incutiram um “espírito de entreajuda” e “cooperação”.
“Ter de tratar de tudo o que implica um escritório de advogados é assustador no início, principalmente porque eu nem sequer sabia todas as tarefas que integravam esse “tudo”. Com o tempo e com muita orientação de todos os colegas de profissão que me ajudaram, tudo se descomplica e flui mais facilmente, mas no início é aterrador”, explicou.
Entre as diferenças entre os dois mercados, Laura Antunes assegurou que há maior procura pelo serviço de apoio jurídico em cidades como Lisboa do que em Tomar. No entanto, considerou que o mercado de toda a região Centro está a sofrer alterações “muito positivas”, devido ao “maior investimento estrangeiro em novos negócios e também devido ao cada vez maior número de jovens a decidir voltar a viver em cidades mais pequenas”. A advogada destacou também a diferença do tipo de clientes.
Tal como os seus colegas, Laura Antunes assume que as expectativas estão a ser superadas, estando convicta de que demoraria “mais tempo” até se sentir “serena” e “estável” como se sente.
“Atualmente, debato-me com a necessidade, mas simultaneamente com o receio, de fazer crescer o escritório. Sei que, racionalmente, o volume de trabalho permitiria um aumento de recursos humanos, mas, simultaneamente, o receio de tomar este passo é, aos meus olhos, muito preeminente”, sublinhou.
Também Bruno Micaelo Pinheiro abandonou uma grande cidade para se fixar no interior. No seu caso, depois de estudar direito na Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, entre 2003 e 2009, rumou ao Porto para iniciar o seu percurso profissional. Na cidade invicta trabalhou na Curado, Nogueira & Associados. Mas em 2014 tudo mudou.
“Sou natural da Guarda, onde sempre mantive raízes fortes e uma rede de contactos que me permitiu tomar essa decisão. A minha família teve também um grande peso nessa opção, tendo contado com o seu apoio incondicional no meu regresso”, revelou. Assim, foi na cidade da Guarda que fundou o seu próprio escritório.
À Advocatus, admitiu que sentiu algum receio no início desta “aventura” a solo e por abandonar uma sociedade com nome no mercado e uma cidade como o Porto. Ainda assim, sentia que tinha confiança nas suas capacidades de criar um negócio num mercado diferente, levando os conhecimentos adquiridos nesse modelo e adaptando-o à carteira de clientes que já vinha construindo.
“Sempre almejei trabalhar por conta própria. Sou filho de empresário e desde jovem me senti atraído pela relação entre risco e responsabilidade. Tive oportunidades para regressar mais cedo, mas procurei cimentar conhecimentos ao trabalhar integrado em sociedade de advogados, com equipas especializadas nas diversas áreas do Direito”, explicou.
Confiante que esta foi a “melhor decisão” que tomou até ao momento, Bruno Micaelo Pinheiro revelou que co-fundar um escritório de raiz foi um enorme desafio, mas que contou com a ajuda do sócio à data, Tiago Gonçalves.
“Desde encontrar e mobilar um escritório, reunir com fornecedores, entrevistar candidatos, quer para a área administrativa, quer para a área de advocacia, tudo isto com “apenas” 28 anos”, disse.
Bruno Micaelo Pinheiro destacou a sua juventude como uma das principais dificuldades ao fundar a empresa. “Felizmente o mercado reagiu muito bem à nossa entrada, ao nosso espírito jovem e dinâmico, revendo-se na relação de proximidade que procuramos privilegiar, e em que a aposta nas novas tecnologias de informação nos garante uma comunicação direta e moderna com os nossos clientes, que cada vez mais procuram agilidade na resolução dos assuntos que nos confiam”, notou.
Já sobre as diferenças de mercados, o advogado destacou a dimensão dos clientes, uma vez que as maiores empresas estão sediadas nas grandes cidades no litoral. Ainda assim, garante que tiveram a oportunidade de trabalhar com grandes empresas com sede na Guarda, bem como com clientes sediados em todo o país. “Posso afirmar que o ritmo de trabalho é idêntico ao vivido numa sociedade de advogados com escritório em cidades de maior dimensão”, acrescentou.
“A principal dificuldade passa por captar os melhores para trabalhar na nossa sociedade, sendo difícil competir com as grandes sociedades de advogados de Porto e Lisboa. Outra dificuldade prende-se com a necessidade contínua de formação. Ainda que atualmente já seja possível frequentar muitos cursos e pós-graduações remotamente, a maioria exige ainda a disponibilidade presencial, o que torna mais complicada a sua frequência”, sublinhou.
Depois de uma transformação no escritório em 2021, uma vez que a sociedade passou para Micaelo Pinheiro, Corte Gonçalves & Associados, Bruno Micaelo Pinheiro confessou que se sente “muito realizado” com o já construído, mantendo o desejo de continuar a crescer, sustentadamente, no futuro.
Das vantagens às desvantagens
Da falta de recursos humanos à dimensão de mercado, várias foram as dificuldades apontadas pelos quatro advogados em exercer advocacia fora das grandes cidades.
“Existe algum preconceito de que os melhores profissionais estão concentrados nas grandes cidades e de que quem exerce fora desses grandes centros urbanos são advogados menos especializados e com menos conhecimentos técnicos”, sublinhou Tiago Frade dos Santos que considera que a maior dificuldade passa por contrariar esta ideia.
Já Laura Antunes apontou a passagem da impessoalidade das grandes cidades para um meio mais pessoal e a falta de tecido empresarial e pessoas residentes como algumas das dificuldades da mudança.
“Sinto que por aqui ainda existe muito a mentalidade vincada de apenas se deslocar ao advogado para resolver um problema, em vez de o prevenir. Por último, exercer a profissão de advogado fora das grandes cidades significa, em quase todas as situações, exercer a profissão em prática individual, o que torna a nossa atividade e o nosso dia-a-dia bastante solitários”, acrescentou a advogada.
Já do outro lado da “moeda”, do lado positivo, os advogados destacaram a proximidade com os clientes, liberdade e visibilidade.
“Desde logo, a melhor qualidade de vida. Também por trabalhar por conta própria, logicamente, tenho a vantagem de criar os meus horários e poder conciliar com a vida pessoal e aproveitar o lugar fantástico onde moro. Outra grande vantagem foi a facilidade em criar uma rede de contactos, por trabalhar e viver em vilas pequenas, o que permite maior proximidade entre as pessoas”, apontou Sara Virtuoso.
Também Bruno Micaelo Pinheiro sublinhou a qualidade de vida que agora possui na Guarda, tendo a facilidade de se deslocar muito facilmente de e para o trabalho.
“Ademais, é-nos mais fácil reunir presencialmente com o cliente, seja no escritório, seja na própria empresa, visto que as deslocações são na maioria de curta distância. Outra vantagem está relacionada com os custos fixos, nomeadamente de arrendamento de escritório, sendo os mesmos necessariamente inferiores a Lisboa e Porto”, disse o advogado.
E o papel do Estado?
A Advocatus questionou os quatro advogados sobre o papel do Estado nesta mudança. Será que o Governo poderia ter uma maior intervenção no apoio e incentivo à criação e estabelecimento de novas oportunidades fora das grandes cidades? A resposta foi afirmativa.
“Muito ouvimos falar, apenas por alto, das medidas existentes, mas, na prática, não vejo tal a acontecer. Não se assiste a um esforço efetivo nesse mesmo sentido, nem do Estado nem mesmo dos órgãos mais locais. Quer no que toca à criação de novas oportunidades, quer no que toca à habitação. Na verdade, há imensos jovens que pretendem sair de cidades como Lisboa e Porto e voltar para as suas cidades de nascença ou mudar para outras também mais pequenas, mas concluem que não existem tantas oportunidades profissionais”, considerou Laura Antunes.
A advogada acredita que a falta de apoio governamental às pequenas e médias empresas neste tipo de contratação “corta as pernas” aos jovens que pretendem regressar às origens. “Também acho que mesmo os apoios que existem não são devidamente divulgados em primeira instância e, num segundo momento, as estruturas não têm capacidade para prestar os esclarecimentos devidos aos particulares/empresas que se pretendem candidatar. Todos os procedimentos têm uma elevada carga burocrática, e a verdade é que a maioria das pessoas acaba por desistir”, acrescentou.
Também Bruno Micaelo Pinheiro acredita que o Estado poderia ter um papel mais ativo, sobretudo na “criação de incentivos que estimulassem a fixação de empresas e pessoas no interior, seja através de benefícios fiscais, seja na promoção do território, cujas valências ainda são, presentemente, desconhecidas de muitos portugueses e estrangeiros”.
Já Tiago Frade dos Santos relembrou que já existem diversos programas de apoios e incentivo à criação de novos negócios, mas o problema está na imensa procura e “muitas vezes as dotações orçamentais previstas para esse efeito esgotam-se de forma quase instantânea”.
“Penso que deveria existir uma melhor e maior oferta de apoios e incentivos, aliada a uma simplificação dos processos de candidatura e submissão, para que os mesmos possam beneficiar efetivamente os seus destinatários”, acrescentou.
Especializar, crescer e expandir
Com os seus próprios negócios estabelecidos, os objetivos profissionais continuam a crescer para todos.
Para Sara Virtuoso, nos próximos 10 anos espera conseguir-se focar nas áreas que mais gosta e se especializar. Um desafio uma vez que ao trabalhar sozinha e numa zona onde não há muitos advogados especializados, acaba por ter de trabalhar em várias áreas.
“Não faço, contudo, projetos a 10 anos. Há 10 anos eu vivia em Lisboa, tinha uma ideia completamente diferente do que seria a minha vida, achava que não iria continuar na advocacia e hoje estou aqui…”, rematou a advogada.
Também Laura Antunes considera que 10 anos é muito tempo. Ainda assim, assume que gostaria muito de constituir uma sociedade de advogados no Médio Tejo. “Não sei se será possível em 10 anos, mas penso que é possível a longo prazo”, avançou.
Já Tiago Frade dos Santos quer que os próximos anos passem por um “crescimento sólido” e “consistente” do escritório, sendo fulcral para a LFS um alargamento contínuo da base de clientes e a entrada no mercado em alguns setores económicos.
“A expectativa é também de contratação de advogados e apoio administrativo, aliada à expansão do nosso escritório a outras zonas geográficas”, explicou.
Por fim, Bruno Micaelo Pinheiro confessou que as expectativas passam pela solidificação da presença do escritório no mercado e pela expansão para outras cidades, “bem como estabelecer parcerias com outras sociedades de advogados, nacionais e internacionais, por forma a poder prestar um serviço cada vez mais completo aos nossos clientes”.
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