Inflação e crise “comem” crescimento das exportações agroalimentares

Gestora do cluster agroalimentar português prevê abrandamento das vendas ao exterior na reta final do ano, pressionado pelo menor poder de compra e instabilidade na Alemanha, Reino Unido e Angola.

As exportações da indústria agroalimentar portuguesa estavam a crescer 8,5% até julho, para 5,1 mil milhões de euros, mas os mais recentes indicadores que avolumam a perda no poder de compra e o cenário de crise ou instabilidade em alguns dos principais mercados externos, como Alemanha, Reino Unido e Angola, já perspetivam um abrandamento no crescimento das vendas ao estrangeiro até ao final do ano.

Em entrevista ao ECO, a diretora executiva da PortugalFoods, Deolinda Silva, perspetiva fechar este ano com valores ainda “acima de 2022”, ano em que as exportações setoriais ascenderam a 8,6 mil milhões de euros, aproveitando a escalada dos preços para dar um “salto” homólogo superior a 20%. Porém, adverte que “deverá haver um abrandamento, muito fruto das questões que têm a ver com a inflação e a pressão que se coloca às famílias com a perda de poder de compra”.

Por outro lado, sinaliza as dificuldades crescentes em algumas das economias mais relevantes para a indústria agroalimentar. “Os mais preocupantes são a Alemanha, que vive num quadro de recessão; o Reino Unido, que atravessa um período de crise pós Brexit com abaixamento do consumo e até alguma falta de alimentos; e Angola, com a questão cambial a gerar muitas incertezas e cautelas às empresas”, enumera.

Deverá haver um abrandamento no crescimento das exportações, muito fruto das questões que têm a ver com a inflação e com a pressão que se coloca às famílias com a perda de poder de compra.

Deolinda Silva

Diretora executiva da PortugalFoods

De olho também na instabilidade eleitoral em Espanha, que representa três quartos das exportações deste setor, a porta-voz da entidade gestora do cluster agroalimentar português adverte igualmente para o impacto que este cenário com mais “nuvens negras” no horizonte terá nas margens e na estrutura de custos das empresas, que está agora “mais ou menos estabilizada” depois da agitação provocada pelo disparo nos preços das commodities e da energia, na sequência da pandemia e depois da guerra.

Questionada sobre as expectativas para o Orçamento do Estado para 2024, que vai ser entregue a 10 de outubro no Parlamento, Deolinda Silva aponta apenas a “ajuda ao consumo e às famílias” como o “fundamental” na proposta do Governo. Privilegia antes a aceleração da execução do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), que “teve um atraso e uma dificuldade notória de implementação e só está agora a chegar [o dinheiro] às empresas”, e no qual dinamiza uma Agenda (VIIAFOOD), com um investimento contratualizado de 113 milhões de euros.

Deolinda Silva, diretora executiva da PortugalFoods

Constituída por cerca de 11.500 empresas, que empregam 110 mil pessoas e exportam cerca de 30% da produção no ramo alimentar, esta indústria tem na lista de categorias mais exportadas as bebidas (com destaque para o vinho), o azeite, os peixes e crustáceos (frescos e congelados) e as frutas. Nos primeiros sete meses deste ano, para os quais o INE já disponibilizou dados oficiais, os dez principais destinos para estes produtos portugueses foram Espanha, França, Brasil, Reino Unido, Países Baixos, Itália, Alemanha, EUA, Angola e Bélgica.

A PortugalFoods conta fechar a revisão da estratégia de internacionalização do setor agroalimentar até ao final deste ano. No entanto, a diretora executiva deste organismo sediado na Maia, composto atualmente por mais de 180 associados, antecipa que este documento terá uma “aposta muito particular nos mercados do Japão, da Coreia do Sul e dos EUA”, que ganharam relevância no pós-pandemia, nomeadamente para compensar o travão da China, onde só em 2024 é que voltará a ter atividades de promoção da internacionalização.

Estes três mercados extracomunitários mostram “grande potencial e uma apetência para produtos com um posicionamento interessante” para as empresas portuguesas. No caso da maior economia do mundo, ainda na semana passada organizou, em colaboração com a AICEP e com alguns importadores americanos, a “maior ação alguma vez realizada de promoção da oferta agroalimentar nacional nos EUA”, fruto do investimento de uma cadeia de retalho do Texas (Central Market), que durante 15 dias transformou dez lojas para acolher a ação Passaporte Portugal.

A partir de sábado e durante cinco dias, uma comitiva composta por 43 empresas portuguesas vai participar na feira ANUGA, na cidade alemã de Colónia, naquela que é considerada a principal “montra” mundial do setor alimentar e que se realiza de dois em dois anos.

Nesta sétima participação no evento, o stand da PortugalFoods vai ocupar uma área total de 545 metros quadrados, estando previstas as visitas da ministra da Agricultura, Maria do Céu Albuquerque, e do novo presidente da AICEP, Filipe Santos Costa. É neste espaço, por exemplo, que a AgroAguiar, produtora e transformadora de frutas e vegetais de Vila Pouca de Aguiar, vai mostrar um novo snack à base de castanha transmontana, desenvolvido no âmbito da Agenda do PRR.

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