Fátima recebe o Papa. Efeito Francisco chega ao país inteiro
Tudo a postos para a visita do Papa superstar. Ao longo de todo este mês, o país vai estar com "casa cheia", muito para além de Fátima.
Há precisamente sete anos, um Terreiro do Paço apinhado recebia Bento XVI. 80 mil encheram a praça lisboeta, outros 200 mil espalharam-se pelas ruas da capital para acompanhar o Papa. Dois dias depois, Bento XVI chegava a Fátima para ser recebido por 500 mil pessoas. No último dos quatro dias de visita, foi acompanhado por 150 mil pessoas na Avenida dos Aliados. Os números eram redondos, mas não impressionaram. David Catarino, então presidente da já extinta Entidade Regional de Turismo Leiria-Fátima, resumia em modo La Palice que um 13 de maio é sempre um 13 de maio. “Casa cheia não leva mais. O 13 de maio já é casa cheia para a capacidade hoteleira de Fátima” e não é a visita de um Papa que traz mais turistas do que o habitual, garantia ao Expresso.
Talvez fosse assim em 2010, mas a história de hoje é outra. Desta vez, quem vem a Portugal não é Bento XVI, é Francisco, “o Revolucionário”, “o Inovador”, o “universalmente popular”, para enumerar alguns dos cognomes que já lhe atribuíram. E isso, espera-se, vai levar um milhão de pessoas só a Fátima. Para lá do santuário, a expectativa também é grande: ao longo deste mês, a “casa cheia” é por todo o país.
Por estes dias, Portugal já está pronto para o fim de semana. A eDreams, maior agência de viagens online da Europa, aponta para um aumento de 20% das visitas de turistas europeus a Portugal no período de 10 a 15 de maio. Estes dados, explica a agência de viagens, não dizem respeito a reservas em Fátima, mas em Lisboa e no Porto.
Os franceses estão na liderança, representando 11% dos visitantes estrangeiros que vêm a Portugal ver o Papa. Alemães, britânicos, espanhóis, suíços e italianos surgem de seguida nos principais mercados europeus. Mas o grande campeão é o turismo interno: neste período, as viagens de portugueses aumentaram 86% em relação ao ano passado.
Os números da eDreams vão ao encontro dos da Associação da Hotelaria de Portugal (AHP). “Maio está todo cheio em Lisboa”, refere ao ECO Cristina Siza Vieira, diretora executiva da maior associação hoteleira do país. A responsável detalha que dois terços dos hotéis lisboetas estão uma taxa de ocupação de 75% ou 100% nas noites de 12 e 13 de maio e, depois destas duas noites, até ao final do mês, esta ocupação mantém-se.
Este “efeito de arrastamento” nota-se “claramente” em Lisboa, não tanto no Porto e no Algarve. Mas, nos dias seguintes à visita do Papa, os números já são diferentes. Cristina Siza Vieira não tem ainda dados que permitam ligar estes valores à visita de Francisco, mas refere que “todo o mês de maio está muito ocupado” no Porto e no Algarve.
“Há um óbvio efeito alargado por todo o país”, considera Cristina Siza Vieira. “Sempre que há um evento de larga escala, a hotelaria faz todos os esforços para capitalizar estes turistas. Quando é uma visita do Papa, o impacto é muito maior do que o de qualquer evento profissional”, acrescenta. No início deste ano, Alexandre Marto Pereira, vice-presidente da Associação Empresarial de Ourém-Fátima, explicava porquê: “Quem faz viagens de horas e horas para vir ver o Papa não vai vê-lo para depois ir embora. Vai ficar mais dias, vai visitar Lisboa, ou o Porto, ou outra cidade”.
Nos transportes, o impacto também é notório. A rodoviária Internorte/Intercentro, por exemplo, regista um aumento de 30% no número de reservas internacionais e vai levar mais de 200 autocarros até Fátima. “Na semana compreendida entre os dias 8 e 14 de maio vamos contar com mais de 200 autocarros a chegar e a sair de Portugal, com França, Suíça, Espanha, Bélgica, Holanda, Luxemburgo e Alemanha a liderarem a lista de países com maior número de passageiros”, refere José Portelada, diretor-delegado da empresa.
O mesmo se passa com as rent-a-car. A Europcar aumentou as reservas em 16% na última semana, além de ter subido o número de dias reservados em 42%, detalha a empresa ao ECO, sem revelar os valores concretos.
No fim, toda a economia ganha. Nas últimas projeções que fez para a economia portuguesa, o Banco de Portugal destaca o contributo do turismo para as exportações, ao qual a visita do Papa não será alheia. “Destaca-se o desempenho das exportações de turismo, que será favorecido pela ocorrência em território português de importantes eventos à escala internacional”, dizia, em março, o banco central. O turismo gerou receitas de 12,6 mil milhões de euros no ano passado, respondendo por cerca de 68% do saldo total da balança de serviços. Para este ano, as expectativas são de que o setor continue a crescer a dois dígitos.
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