“McDonald’s aumentou salários em 18% nos últimos dois anos”

McDonald's apresenta esta terça-feira nova edição de programa de bolsas de estudo. Ao ECO, diretora de recursos humanos adianta que já foram atribuídas 600 bolsas, num investimento de meio milhão.

Faltam menos de três meses para o ano terminar, mas a McDonald’s quer ainda recrutar mais mil pessoas até ao fim de 2023. E, ao contrário de muitas outras empresas, não está a contar com dificuldades nesse processo. A garantia é dada por Sofia Mendoça, diretora de recursos humanos da McDonald’s Portugal, que em entrevista ao ECO explica que esta multinacional tem reforçado, nos últimos anos, a sua política de atração e retenção de mão de obra. O salário é um dos pilares dessa estratégia, sendo que, em dois anos, subiram cerca de 18%, adianta a responsável. O mínimo está hoje em 800 euros, o que compara com o salário mínimo nacional de 760 euros.

Ao ECO, Sofia Mendoça revela que a McDonald’s emprega cerca de dez mil trabalhadores em Portugal, sublinhando também que a rotatividade tem baixado.

Por outro lado, esta terça-feira, esta multinacional apresenta uma nova edição do seu programa de bolsas de estudo e, numa altura marcada pelos níveis elevados da inflação, decidiu duplicar o valor do apoio, de 500 euros para mil euros.

Costumo sempre dizer que a McDonalds não é uma empresa de hambúrgueres. É uma empresa de pessoas. Somos o terceiro ou quarto maior empregador a nível mundial.

Sofia Mendoça

Diretora de recursos humanos da McDonald's Portugal

Como é trabalhar hoje na McDonald’s?

Acredito que estamos a viver uma fase muito marcante no mercado de trabalho. O mercado era mais estável há uns anos, e hoje é muito mais dinâmico. Trabalhar na McDonald’s não é exceção. A McDonald’s é uma empresa multinacional, que está em 120 países e tem o privilégio – e ao mesmo tempo o desafio – de ser também uma empresa muito local, porque é desenvolvida por empresários locais em cada país. Portanto, diria que trabalhar na McDonald’s hoje é muito dinâmico.

Ao nível dos recursos humanos, têm um foco especial no desenvolvimento das carreiras. Porque é que decidiram ter esta prioridade? E em que iniciativas se traduz?

Costumo sempre dizer que a McDonald’s não é uma empresa de hambúrgueres. É uma empresa de pessoas. Somos o terceiro ou quarto maior empregador a nível mundial. Temos um número de trabalhadores imenso. Em Portugal, temos à volta de dez mil colaboradores. Portanto, não podíamos deixar de ter um foco no desenvolvimento, bem-estar e satisfação das pessoas. Somos uma porta de entrada para o mercado de trabalho. As pessoas vêm ter connosco, regra geral, muito jovens. Somos uma escola onde as pessoas conseguem, no primeiro contacto com o mercado de trabalho, desenvolver um conjunto de competências, sejam elas soft ou hard, que as habilitam cada vez mais para poderem continuar a crescer. Esse foco na formação fez-nos desenvolver a universidade corporativa e em cada país temos centros de formação, que ajudam as pessoas nesse crescimento. Cada pessoa, antes de ser promovida a uma nova função, tem um curso de formação de suporte à nova função. Cada vez que adquire uma nova função, já vai preparada com as competências base para o desenvolvimento dessa função. Cerca de 50% das pessoas que estão no escritório começaram nos restaurantes. Isso é um motivo de orgulho para nós. A evolução de carreira é um facto. As pessoas, querendo e investindo também da parte delas, têm todas as facilidades em promover essa carreira.

Além da formação interna, têm um programa de bolsas para quem quiser prosseguir para o ensino superior. A quarta edição é lançada esta terça-feira. Como funciona este programa?

Pagamos bolsas de estudo há muitos anos, mas há três anos resolvemos oficializar e criar um programa nacional. Este ano resolvemos fazer um boost do programa, duplicando as bolsas. Eram bolsas de 500 euros. Passam para bolsas de mil euros. [Estão disponíveis] de norte a sul do país, e também nas ilhas. Por empregarmos muitos jovens, entendemos que a educação académica – nomeadamente, universitária – é uma base fundamental para a vida profissional de qualquer trabalhador, seja na McDonald’s ou fora da McDonald’s. Entendemos que temos uma responsabilidade no desenvolvimento académico das pessoas que queiram estudar e que, infelizmente, não o podem fazer por razões financeiras. Por outro lado, além da parte financeira, também entendemos que temos todas as condições, na organização de horários, para fazer com que um trabalhador-estudante tenha total sucesso a trabalhar connosco. Se calhar há empresas que não conseguem flexibilizar os horários de acordo com aquilo que são os horários da universidade. Nós conseguimos fazer isso muito bem. Temos um ambiente muito propício a quem queira estudar, mesmo que, depois, entenda que não tem que continuar a seguir a sua carreira na McDonald’s.

Portanto, estas bolsas de estudo não têm um “período de fidelização” à McDonald’s?

Não, não têm. Temos já casos bastantes de pessoas que se licenciam e entendem que, não sendo o curso relacionado com nenhuma área na qual possamos dar uma oportunidade, devem sair e ir atrás daquilo que é o sonho delas. Ficamos muito contentes por ter contribuído para esse sucesso.

Mas a vossa intenção é que as pessoas possam ir evoluindo dentro da empresa?

Sem dúvida, sendo que, obviamente, como qualquer empresa, temos uma estrutura em pirâmide. Não temos o mesmo número de oportunidades em cima para toda a gente cá em baixo. Há muito mais gente na base da pirâmide do que em cima. Mas promovemos [o desenvolvimento da carreira dentro da empresa]. Por isso é que temos, paralelamente a este desenvolvimento académico, o desenvolvimento profissional no nosso centro de formação. Mas há muita gente que vem trabalhar connosco e que, depois, continua a carreira noutras áreas da vida. As pessoas, começando aqui, adquirem muitas competências muito rapidamente, que podem aplicar nas outras experiências profissionais que venham a ter.

O reforço do valor das bolsas de estudo tem que ver com o aumento do custo de vida e os níveis elevados de inflação?

Também. Lançamos oficialmente o programa há três anos e pensamos naquele valor, porque era mais ou menos o valor das propinas no ensino público naquela altura. A nossa ideia era sempre ir evoluindo. Este ano pensamos que cobrir as propinas pode não ser suficiente para fazer com que as pessoas queiram continuar a estudar. Portanto, fomos um bocadinho mais longe para ajudar também neste ambiente difícil. Sentimos essa responsabilidade.

Até ao momento, já demos a volta de 600 bolsas. Mais de meio milhão de euros investidos.

Sofia Mendoça

Diretora de recursos humanos da McDonald's Portugal

Nestes três anos, quantos trabalhadores beneficiaram deste programa de bolsas?

Até ao momento, já demos a volta de 600 bolsas. Mais de meio milhão de euros investidos. Muitos já concluíram a licenciatura. Este ano, estamos no processo de seleção das pessoas que vão adquirir a bolsa este ano. Atribuímos uma bolsa por restaurante, no mínimo, por ano.

Disse que a McDonald’s é hoje uma porta de entrada no mercado de trabalho. Qual é a idade média dos vossos trabalhadores?

Nos restaurantes, anda ali entre os 18 e os 23 anos. Nas equipas de gestão, a idade sobe e já anda à volta dos 30 ou 32 anos. No escritório, a média de idades anda à volta dos 42 e 43 anos.

Nos últimos dois anos, as empresas de vários setores têm dito que escasseia a mão de obra. Também sentem dificuldades no recrutamento?

Tenho de dizer com muito orgulho que nem tanto, porque trabalhámos muito bem, nos últimos anos, para hoje estarmos numa posição mais forte, estável, consistente na atração de trabalhadores para a nossa empresa, tanto ao nível dos restaurantes como ao nível do escritório.

De que modo?

Desde antes da pandemia que temos uma estratégia de recursos humanos que passa por melhorar as condições de trabalho, trabalhar com os franqueados no sentido de proporcionar cada vez mais um ambiente de bem-estar que faça com que as pessoas gostem de trabalhar connosco, e trabalhar a antecipação do recrutamento. Temos dois grandes picos no ano de vendas, que coincidem com as férias escolares. Precisamos de recrutar muita gente. Às vezes, duplicamos o número de pessoas só no verão. Desde há alguns anos que reforçamos as equipas de recursos humanos nos restaurantes, de modo a conseguir antecipar o recrutamento necessário para essas épocas [de pico]. Antecipando, conseguimos criar um ambiente muito mais calmo, estável, de integração, de acolhimento a todos os nossos colaboradores. Portanto, não precisamos de procurar tanta gente no mercado de trabalho. Baixamos a rotatividade e retemos muito mais as pessoas agora. Há muita concorrência na procura de mão de obra, mas conseguimos reter muito mais pessoas. Tem corrido bem a procura de pessoas e o preenchimento de vagas. Só para lhe dar uma ideia, até ao fim do ano ainda vamos recrutar cerca de mais mil pessoas.

E não estão a prever dificuldades nesse processo.

Já estamos a trabalhar nisso. Temos muitas candidaturas que nos chegam. Com calma, estamos a fazer a integração destas novas pessoas nas equipas, de maneira que, quando chegar ao pico das férias de Natal, estaremos perfeitamente preparados para receber os nossos clientes com uma boa experiência.

Queremos estar sempre acima do salário mínimo nacional e pagar acima também do salário mínimo da tabela do contrato coletivo de trabalho.

Sofia Mendoça

Diretora de recursos humanos da McDonald's Portugal

Os estudos mostram que os salários são um fator com muito peso no recrutamento. Como é que descrevia a política salarial da McDonald’s?

Nos últimos dois anos, aumentamos em cerca de 18% os nossos salários. Obviamente que isto está dentro desta estratégia que eu acabei de referir [de atração e retenção de trabalhadores]. Claro que o salário é um ponto fundamental para a vida do colaborador, para o seu bem-estar e produtividade, ainda mais nestas condições económicas que o país está a viver. Queremos estar sempre acima do salário mínimo nacional e pagar acima também do salário mínimo da tabela do contrato coletivo de trabalho. Isso faz com que, face à concorrência, também tenhamos estado sempre um bocadinho acima do que é a prática na restauração. Nestes últimos dois ou três anos, resolvemos investir mais nestes aumentos para conseguir que todo o pacote que oferecemos seja atrativo. Esse tem sido um dos pontos fundamentais na quantidade e qualidade que precisamos.

Hoje o salário mínimo da McDonald’s está em que valor?

Está em 800 euros. Nenhum franqueado pode pagar abaixo disto. Não quer dizer que não haja muitos que não paguem acima.

Falou na melhoria das condições de trabalho. O trabalho em cozinha gera algum stress. De que modo tentam mitigar esse cenário?

Trabalhar na restauração é um trabalho cansativo. Servimos muitos clientes por dia. Embora tenhamos as equipas sempre proporcionais face aos nossos clientes, este é um trabalho de muita pressão. Para um certo perfil de pessoas, é exatamente o que elas querem. É pressão. Quando recrutamos, recrutamos pessoas que gostem dessa pressão, mas estamos constantemente preocupados com mitigar e minimizar tudo aquilo que possa ser um elemento que vá complexificar o trabalho dos nossos funcionários, nomeadamente ao nível da ergonomia. Temos uma empresa de higiene e segurança do trabalho que trabalha connosco. Têm também várias instalações para os trabalhadores: sala de pausa, vestiários e duches. Depois, temos também programas de bem-estar. Sessões de psicologia, webcasts de saúde mental e parcerias com ginásio. Tudo isso também contribui para o bem-estar que entendemos que é muito necessário. Além disso, temos toda a nossa política de gestão de horários, que faz com que as pessoas tenham pausas em momentos-chave para poderem retemperar as energias.

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