Para além da língua materna e do inglês, as firmas de advogados começaram a privilegiar os profissionais que saibam falar e escrever noutros idiomas. A razão prende-se com as oportunidades de negócio.
Portugal é o segundo país europeu onde o conhecimento da língua inglesa “pesa” mais na hora de contratar, se considerarmos apenas os países que não têm esse idioma como oficial. A conclusão é da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), que coloca apenas um país à frente de Portugal, o Luxemburgo.
Seja através da escrita, seja da fala, entre as vagas divulgadas online em 2022, o inglês foi exigido em, pelo menos, 33% das oportunidades em países como a Áustria, Hungria, Bélgica, Dinamarca, Suíça, Bulgária, Grécia, Roménia, Luxemburgo e Portugal. Em solo português, 54% das vagas de empregos exigiam de forma direta ou indireta essa competência, colocando Portugal acima da média comunitária (31%).
Na área da advocacia esta realidade não é diferente, sendo que já começam a ser requeridas outras línguas na hora de recrutar. À Advocatus, os escritórios contactados assumem que o idioma inglês é essencial, mas que as oportunidades de negócio fazem com que línguas como o francês, alemão ou até mandarim ganhem destaque.
“Para integrar a Cuatrecasas o candidato tem de ter um bom nível de inglês. Dependendo da sua senioridade e consequentemente da categoria profissional que ocupa, o nível de exigência varia entre o B (utilizador independente) e o C (utilizador avançado). Regularmente são feitos testes de inglês para acompanhar a evolução do domínio da língua ao longo da carreira do advogado”, explicou Leonor Vila Luz, responsável de Recursos Humanos da Cuatrecasas em Portugal.
Também na Morais Leitão o domínio “perfeito” do português e do inglês são indispensáveis. Já para os advogados que integram a China, French e German Desks devem dominar a respetiva língua a um “nível próximo do nativo” de forma a assessorar os clientes desses mercados de forma diferenciada, “ajustada às suas expectativas”.
“Considerando que o domínio, designadamente, da língua inglesa é hoje em dia transversal a quase todas as atividades, também o recrutamento de colaboradores pondera os requisitos da função a esse nível. Por isso, neste recrutamento, e bem assim no de advogados estagiários, o processo de seleção compreende a realização de testes de inglês por fornecedor externo”, referiu Joana Almeida, diretora de Pessoas da Morais Leitão.
Tendo em conta a “forte” política de internacionalização, a Abreu Advogados considera importante ter uma equipa de advogados que seja capaz de dar uma resposta completa e personalizada, privilegiando pessoas que dominem mais do que a sua língua materna. “Dentro das línguas que têm especial impacto no nosso trabalho, o inglês é fundamental, principalmente para advogados das mais diversas áreas de prática“, sublinhou Susana Gonçalves, diretora de Recursos Humanos.
Por fim, também na Vieira de Almeida (VdA) um “sólido conhecimento de inglês” é fundamental. “Valorizamos a capacidade dos nossos colaboradores se expressarem proficientemente nesse idioma, pois é essencial para a realização das atividades diárias e para uma comunicação eficaz num ambiente globalizado”, disse Susana Miranda, diretora de Talento da VdA.
Atentos às oportunidades de negócio, os escritórios de advogados não se ficam apenas pelo inglês, privilegiando quem saiba falar ou escrever outros idiomas. Por exemplo, na VdA o francês, alemão e mandarim são algumas das línguas que favorecem o candidato. Já na Cuatrecasas o espanhol é “importante”, como o alemão e francês.
“Na Cuatrecasas o domínio do espanhol é naturalmente importante pela relação permanente com os colegas espanhóis e da América Latina. São valorizados também idiomas como o alemão ou o francês para possível integração desses advogados nos nossos desks onde se promove a interlocução com o cliente na sua língua”, referiu Leonor Vila Luz.
Por outro lado, na Abreu Advogados línguas como o alemão, italiano, mandarim ou cantonês são idiomas que prestam especial atenção e que acreditam que podem facilitar e estreitar a relação com potenciais clientes que falem estas línguas. “Estamos sempre atentos a oportunidades que contribuam para o crescimento dos nossos colaboradores e as competências linguísticas não são uma exceção. Como tal, estamos abertos à possibilidade de alargar o leque de idiomas num futuro próximo“, explicou Susana Gonçalves.
Também na Morais Leitão, na lista de idiomas dos advogados consta o francês, espanhol, alemão, russo e chinês. “Valorizamos o domínio de qualquer língua estrangeira, atenta, designadamente, a vocação internacional da Morais Leitão, recentemente intensificada pela abertura do escritório em Singapura. Estaremos sem dúvida preparados caso o futuro dite necessidades específicas em línguas que ainda não dominamos”, garantiu Joana Almeida.
Firmas fornecem cursos
Apesar de começarem a privilegiar um maior número de idiomas, as sociedades de advogados também começam a apostar em cursos. Assim, disponibilizam aos advogados e colaboradores cursos e formações linguísticas.
Reconhecendo o “investimento na formação” e “desenvolvimento” dos colaboradores como uma das suas prioridades, através da VdA Academia, a firma liderada por Paula Gomes Freire oferece cursos de línguas dados por entidades certificadas e proporcionam apoio para aulas personalizadas.
“Reconhecemos a importância da proficiência linguística num ambiente internacional e, por isso, disponibilizamos recursos que permitem à nossa equipa melhorar as suas competências linguísticas de forma regular e eficaz. Estamos empenhados em capacitar os nossos colaboradores, oferecendo oportunidades de desenvolvimento, promovendo assim um ambiente de trabalho mais adaptado às exigências globais”, avançou a diretora de Talento Susana Miranda.
À Advocatus, a diretora de Pessoas da Morais Leitão explicou que no primeiro ano de estágio os estagiários frequentam “obrigatoriamente” um curso de inglês jurídico, de forma a habilitá-los a dominar conceitos estruturais de diferentes ramos do Direito. “A partir daí, cada advogado e colaborador é incentivado a identificar as suas necessidades formativas a esse (e qualquer outro) nível, e a colmatá-las mediante a frequência de cursos especializados, suportados pela Morais Leitão”, explicou Joana Almeida.
Os curso da Morais Leitão são ministrados por fornecedores externos, de forma a “garantir a máxima qualidade do serviço”, tendo lugar, no caso dos colaboradores, durante o horário de trabalho e nas instalações do escritório.
Também a Cuatrecasas e a Abreu Advogados cedem aos colaboradores cursos de diversos idiomas. Na Cuatrecasas as aulas são online, à hora do almoço, e são promovidas por institutos de línguas externos, sendo oferecidas aulas de inglês, espanhol e alemão. Já na Abreu Advogados, por exemplo, este ano criaram turmas de inglês, francês e espanhol.
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Do espanhol ao mandarim, novos idiomas no radar dos escritórios de advogados na hora de recrutar
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