O presidente da InvestBraga quer que, no fim da "Semana da Economia", seja reconhecido o papel que o tecido económico de Braga está a fazer pelo país. Em entrevista ao ECO, Oliveira explica o evento.
Numa altura em que o crescimento económico está na ordem do dia — depois de o INE ter apresentado os dados relativos ao primeiro trimestre dando conta de um crescimento do PIB de 2,8% –, Braga reivindica o reconhecimento para as empresas da região pelo contributo para as exportações. Carlos Oliveira, presidente da InvestBraga, a agência que tem como objetivo promover o desenvolvimento económico da região diz, em entrevista ao ECO, que só duas das multinacionais que estão sediadas em Braga exportam anualmente mais de mil milhões: a Delphi e a Bosch. O concelho, acrescenta, subiu ao top ten nacional das exportações, “exportando, no ano passado, mais 175 mil euros do que no ano anterior e ultrapassando os concelhos do Porto e de Oeiras”.
A conversa com o ECO surgiu a propósito da ” 2ª edição da Semana de Economia”, evento promovido pela InvestBraga e que decorre de 22 a 26 de maio. A iniciativa que tem o seu ponto alto com o Fórum Económico e que conta com a presença dos presidentes dos três maiores bancos nacionais (Santander, Novo Banco e Millennium BCP) pretende mostrar o que em termos económicos tem sido feito na cidade os arcebispos. Da iniciativa constam uma série de fóruns, debates e ‘open days’ nalgumas das empresas mais emblemáticas da região.
A semana divide-se em várias iniciativas, organizadas em parceria com as diversas entidades que fazem parte do conselho estratégico da InvestBraga: Universidade do Minho, Município de Braga, Associação Comercial de Braga, AICEP, Associação Empresarial do Minho, IAPMEI e Instituto do Emprego e Formação Empresarial.
“O grande objetivo é que, quando se fale de economia no país, Braga possa ter uma palavra. Até porque tem, de facto, uma quota-parte relevante neste momento económico que estamos a viver“, sublinha o ex-secretário de estado do empreendedorismo.
Em que consiste a segunda edição da Semana da Economia?
A semana começa com uma reunião do conselho estratégico da InvestBraga, onde será debatido o estado de execução do nosso plano estratégico e os ajustes que sejam necessários. Segue-se uma cimeira dos Embaixadores Empresariais: ao longo destes três anos que temos de atividade nomeamos um conjunto de empresas de referência da região — nacionais e multinacionais. O objetivo é criar uma rede de empresas que nos ajude a vender Braga e as suas potencialidades junto dos seus clientes, dos seus fornecedores e dos seus parceiros. Nesta cimeira iremos tirar as ilações daquilo que são as prioridades e as preocupações que as empresas têm para que, depois, essas questões possam ser trabalhadas. Estamos a falar de questões que vão desde o talento, às localizações empresariais e até ao próprio financiamento da economia.
De que empresas estamos a falar exatamente?
São mais de 30 empresas, que vão desde a Bosch à Primavera, à WeDo Technologies, grupo Bernardo da Costa, grupo DST, entre outras. Temos empresas de todas as dimensões e estamos a falar de referências na região, quer pelo volume de emprego que geram ou pelas exportações que fazem. São empresas que servem de exemplo e que são os motores da economia e são também exemplos para outras empresas.
Voltando à Semana de Economia…
Ainda na segunda-feira, teremos o “Portugal Sou Eu”, uma iniciativa do Governo que, curiosamente, até foi lançada por mim, e que se trata de valorizar aquilo que é português. Teremos a presença da Box do “Portugal Sou Eu”, em articulação com a Associação Empresarial de Portugal (AEP) e a Adere-Minho. À tarde temos o evento “How To Take Advantage from Techs Events?” e que não é mais do que uma sessão que pretende demonstrar como tirar proveito dos eventos tecnológicos.
A semana conta com um conjunto de open days em empresas emblemáticas. Qual é o objetivo dessas visitas?
Logo na terça-feira de manhã começamos com um open day no grupo DST, sob o tema “gestão de dados inteligentes“. A ideia é que a empresa apresente o que está a fazer e quais os desafios que tem pela frente. O grupo Bernardo da Costa é outro que nos recebe, sob o tema “inovação, tecnologia e empreendedorismo“. É uma empresa familiar que não é tão conhecida no país mas muito relevante no que diz respeito à segurança. É uma empresa que tem tido uma evolução muito positiva com a nova geração e que tem inclusive um departamento de felicidade. E finalmente na sexta-feira iremos até ao grupo Três60 onde iremos ter uma formação técnica em parceria com Instituto de Emprego e Formação Profissional. É uma oportunidade de emprego e por isso iremos levar alunos de escolas profissionais e desempregados para perceberem onde é que podem vir a trabalhar.
Outra das vossas iniciativas, e que vai estar presente durante o evento, tem a ver com a Escola de CEO’s. Quer explicar do que se trata?
A Escola de CEO’s é uma iniciativa que lançámos em março passado, em parceria com a Universidade do Minho, com o objetivo de apoiar a formação de líderes. O objetivo é ter uma ação teórica para os líderes do futuro e que passa por ler um balanço, uma demonstração de resultados até à estratégia de marketing, a vendas. A primeira edição, que contou com cerca de 25 participantes, chegou ao fim e será comemorada agora com um jantar. Em novembro iremos lançar a segunda edição da escola de CEO’s e estamos muito satisfeitos com os resultados.
Qual é o balanço que faz da atuação da InvestBraga, três anos depois da sua criação?
O balanço é positivo. Esta semana iremos também apresentar as contas da InvestBraga, mostrar em números aquilo que é o resultado do trabalho dos empresários e dos seus colaboradores.
O plano estratégico da Agência de 2014-2026 apontava para a criação de 500 postos de trabalho ao ano…
Felizmente, esses números estão muito acima das expectativas.
Só no ano passado, Braga diminuiu em 5.000 o número de desempregados, o que quer dizer que a economia da região está a funcionar.
Superaram os 500 postos de trabalho ao ano?
Sm, só no ano passado Braga diminuiu em cinco mil o número de desempregados, o que quer dizer que a economia da região está a funcionar.
Ainda no plano estratégico, estava refletida a ambição de crescerem 1% acima do PIB da Península Ibérica.
Também nessa área estamos com crescimentos muito significativos, que serão apresentados com algum detalhe. Braga entrou no top ten nacional dos concelhos mais exportadores, tendo sido o concelho que, em termos reais, mais cresceu em exportações com mais 176 milhões de euros em 2016. Há um concelho que objetivamente cresceu mais, devido à mudança da sede de uma empresa – a Navigator. Estou a falar de Vila Velha de Ródão e, portanto, eles entraram neste top. Mas, de facto, em termos de crescimento real, foi Braga quem teve o maior crescimento, ultrapassando em exportações os concelhos do Porto e de Oeiras.
E números da atração de investimento, já pode adiantar?
Estamos a consolidar esses números, ainda não sei dizer em concreto. Mas temos números muito relevantes da Bosch, por exemplo. A nossa bandeira deste ano é a Accenture, uma grande multinacional que apostou em Braga. No ano passado tinha sido a Fujitsu, para além de outros investimentos que estão a ser feitos. Mas nós não advogamos estes números como nossos, eles são das empresas, que é quem trabalha. Aquilo que advogamos é que o ambiente orientado ao negócio, o facilitarmos a atração de investimento: trabalharmos com investidores ajuda a que isto aconteça e esse é o papel que queremos ter.
O facto de a Fujitsu ou a Accenture se terem instalado em Braga faz com que, eles próprios, funcionem como bandeiras.
É fácil vender Braga?
Diria que nunca é fácil vender quando estamos num mundo tão competitivo. Diria que, à medida que vamos tendo estes casos, temos mais força para vender aquilo que, de facto, estamos aqui a apresentar. O facto de a Fujitsu ou a Accenture se terem instalado em Braga faz com que eles próprios funcionem como bandeiras. O facto de a Bosch fazer o enorme investimento que está a fazer, de registar o enorme crescimento que está a ter em Braga, o facto de a WeDo fazer todo o seu produto a partir de Braga… são excelentes bandeiras.
E é fácil concorrer com cidades como o Porto e Lisboa?
Eu diria que não é essa a ótica: não estamos em concorrência. Desde o início que defendemos muito a especialização e olhamos para aquilo que temos único, usando-o como vantagens competitivas. Naturalmente que, em alguns pontos, concorremos com o Porto e com Lisboa mas estamos a concorrer, acima de tudo, com o que se passa lá fora. A nível de talento, por exemplo, temos hoje nas áreas das engenharias mais capacidade de fornecer do que o Porto.
Uma Fujitsu vem para Braga porque percebe que aqui tem condições essenciais até do ponto de vista de talento. E depois estamos a falar de outra coisa em que cada vez acredito mais: as cidades mais pequenas, as chamadas cidades secundárias, têm melhor qualidade de vida. Se tiverem bons projetos são mais apelativas para quem quer trabalhar porque as casas são mais baratas, as pessoas não têm de fazer grandes viagens durante o dia e isto cada vez mais também interessa a estas empresas com quem falamos para atrair investimento.
Há casos interessantes de empresas que decidem vir para Braga e que, depois, têm internamente pessoas que estão em Lisboa e que se querem candidatar-se a vir para Braga, ou porque são do Norte, ou porque querem mudar para um sítio mais calmo. Isso são sinais muito positivos.
Outra vantagem de uma cidade com esta dimensão é que conseguimos sentar à mesa todos os atores e ter estratégias comuns. No caso da Fujitsu, trabalhamos de A a Z o investimento. Eles próprios são os primeiros a dizer que estão em Braga, também muito pelo trabalho de proximidade que a InvestBraga tem, desde negociar o contrato de arrendamento até pôr anúncios no jornal para as contratações que eles precisavam de fazer na fase de arranque. Nós trabalhamos muito com os novos investidores, mas também muito com os que já existem e estão em expansão.
A aposta das cidades em agências como a InvestBraga não põe um pouco em causa o papel da AICEP, ou há articulação entre as instituições?
Nós articulamos. Aliás, a AICEP faz parte do nosso conselho estratégico. Diria que temos que ser objetivos face à realidade que estamos a tratar. Estamos a trabalhar numa realidade pequenina: o que estamos a fazer é pô-la com muita visibilidade, por um lado, e temos toda a informação e toda a capacidade para apoiar e depois trabalhamos com a AICEP. A AICEP, muitas vezes, traz cá os investidores e depois nós aqui fazemos o trabalho local que a AICEP sozinha não conseguiria. Trabalhamos em rede com a AICEP e, acima de tudo, tendo sido a primeira agência com este formato — uma empresa municipal –, temos pessoas que sabem falar a linguagem das empresas. Atenção: não há em Portugal nenhum presidente de Câmara que não queira atrair investimento. Agora, é diferente termos uma agência que tem este profissionalismo e fala a linguagem das empresas e que consegue interagir com os ritmos e com aquilo que são as dinâmicas das empresas. A InvestBraga vai desde o apoio na vertente do talento, que é muito importante. Fazemos um trabalho em articulação com o Instituto do Emprego, com a Universidade e com os próprios investidores.
Facilitam o trabalho de quem quer investir e sediar-se em Braga.
Tentamos provar-lhes, antes de investirem, que têm cá a capacidade que precisam e isso é uma coisa que tem sido muito positiva.O programa Qualifica IT – programa de reconversão de competências, do qual vamos lançar a segunda edição, requalificou mais de cem pessoas, desempregadas, mas com formação superior, para que estejam preparadas para aquilo que os investidores procuram aqui na região. Isto é uma dinâmica que os investidores gostam e é muito diferente do que faz um departamento municipal que tem um âmbito mais restrito. Nós aqui vemos inclusive a que tipo de apoios é que as empresas podem recorrer.
O facto de estarmos em ano de eleições não pode pôr em causa o papel da InvestBraga?
Partindo do princípio de que não sabemos o que acontece nas eleições, o povo aí é soberano e, portanto, os leitores decidirão aquilo que decidirem,. Acho que em Braga é inequívoco o trabalho que a InvestBraga tem feito. Aliás, a InvestBraga nunca teve uma intervenção política — essa é, de resto, uma das vantagens. E ser aqui uma agência que está à procura de trazer mais emprego, mais investimento e mais exportações. A perceção que tenho é que efetivamente, em Braga, há um reconhecimento do trabalho que é feito e que é visto como um pilar importante do crescimento de que a cidade está a ter. E das dinâmicas que têm vindo a ser criadas nestes três anos e tal.
Um dos pontos altos da semana de Economia é o Fórum Económico de Braga, que conta com a participação dos presidentes do Santander, BCP e Novo Banco. A questão do financiamento é uma preocupação?
A questão do financiamento é importante e temos de saber que, para as startups ,estamos a falar de um financiamento diferente daquele que as empresas instaladas procuram. No caso das startups estamos a falar em capital de risco, em capital semente, os business angels.
Até porque os empreendedores não devem ir à banca.
É usar o mecanismo errado para o problema. Quando se diz que a banca não apoia os empreendedores, não é a missão da banca apoiar com empréstimos negócios com o nível de risco e na fase inicial que estão muitos dos empreendedores. Não é o instrumento certo. Para isso é que existem as capitais de risco, as business angels e outro tipo de modelos de financiamento. Mas depois, há também um problema de financiamento das empresas instaladas: os empresários continuam a achar que o único modelo de financiamento é a banca, e não se olha para as obrigações, para obrigações grupadas ou para o mercado de capitais. Há um conjunto de outros instrumentos como o quase capital, o private equity: espero que no fórum se fale também um pouquinho desses modelos de financiamento alternativos que, cada vez mais, devem ser olhados por todos.
As empresas queixam-se de que é caro recorrer ao mercado de capitais…
Não é seguramente para uma startup e para uma empresa média. Mas já existem mercados alternativos, muitas vezes o custo é o custo da transparência, do ‘reporting’, etc. … mas temos ‘private equity’ e isso é uma possibilidade para as empresas que, muitas vezes, já estão muito endividadas e não conseguem financiamento na banca. Depois entramos noutra dinâmica: as empresas não quererem ceder uma parte do capital a uma entidade terceira quando, se calhar, é a forma mais eficiente e até mais positiva para o futuro da empresa. Espero que no fórum se possa falar um pouco sobre estas dinâmicas e começar a abrir a porta para este modelo de capital, o usado pelas economias mais evoluídas.
O ministro da Ciência, da Tecnologia e Ensino Superior estará presente no evento “Software de Braga para o mundo”. A ideia é que as áreas da ciência e da tecnologia sejam cada vez mais importantes no panorama nacional?
Braga é reconhecida há muitos anos como o centro de excelência do país no software. Vamos ouvir as empresas que trabalham nessa área, desde a Primavera, a Accenture, a Bosch, a OutSystems. Serão quatro sessões todas em sequência e, na última, contamos com a presença do ministro Manuel Heitor que nos vai falar de talento.
Um tema tanto mais pertinente na medida em que as empresas se queixam da falta de engenheiros. Vocês têm tido essas queixas?
As empresas já se queixam disso há 10 anos porque já se sabia o que ia acontece. Agora é importante perceber como reagir, um pouco em cima da hora. O Ministro vai cá estar para falar da estratégia que o Governo tem. E demonstrar como é que a InvestBraga e a Universidade do Minho estão a resolver o problema com o Qualifica IT. Já sabemos o que vai sair das Universidades e isto é aquilo com que vamos contar adicionalmente. Queremos fazer isto em grande volume e continuar a fazê-lo para que os investidores possam olhar para Braga como grande oportunidade para investir.
Depois deste evento, o país vai olhar para Braga de maneira diferente?
Nos últimos anos temos conseguido abandonar a imagem de uma cidade que era muito fechada em si e que era pouco conhecida no país. O que esperamos é que, no fim desta semana, seja reconhecido o que as empresas e o tecido económico de Braga estão a fazer pelo país, sobretudo face a aumentos de exportações tão significativos. As empresas merecem esse reconhecimento. Repare-se nos centros de excelência que aqui estão a ser criados, por exemplo, na área do automóvel e da eletrónica. Dos cinco players de futuro no setor automóvel Braga tem dois: a Bosch e a Delphi. As duas já exportam, em conjunto, mais de mil milhões de euros e, em 2020, de certeza que irão dobrar este volume de exportações. O que queremos é que as empresas que estão a pensar expandir os seus negócios, e a criar novas áreas de produção possam olhar para Braga como uma das opções. Cá estaremos na InvestBraga para os receber.
São mais de 110 startups apoiadas nestes três anos. Isto quer dizer 14 milhões de euros investidos nestas startups o que, a nível nacional, é um número muito interessante.
Não é possível falar da InvestBraga sem falar da Startup Braga. Que balanço é que é possível fazer?
Estamos a lançar um relatório para publicar nos próximos dias. Por um lado, um dado muito claro: são mais de 110 startups apoiadas nestes três anos. Isto quer dizer 14 milhões de euros investidos nestas startups o que, a nível nacional, é um número muito interessante. Investimento realizado por investidores privados e algum investimento europeu. Outro dado interessante é que um número significativo destas startups já vende cerca de 12 milhões de euros sendo que, metade é para exportar. São números com algum relevo, a que se soma a criação de mais de 300 postos de trabalho.
A Startup Braga tem startups que não são da região?
Não temos só startups de Braga. Diria que o reconhecimento que a Startup de Braga vem recolhendo ao longo dos anos, em particular o programa de aceleração, faz com que, por exemplo, nesta edição que termina no dia 30 de maio, 75% das startups não sejam de Braga. Um dos objetivos que temos é atrair startups de fora para que possam, no futuro, instalar-se em Braga. Depois, temos ainda alguns números: a média de idades das nossas startups é de 31 anos. Não são os millennials que acabaram de sair da universidade ao contrário do que se pensava. Muitos têm já experiência profissional. Outro dado importante para nós é que, neste relatório que estamos a elaborar, é visível que as startups que passaram pelo nosso programa de aceleração vendem mais e recebem mais financiamento do que que as que não passaram.
Nunca defendi, nem quando estava no Governo, que o empreendedorismo vai defender todos os problemas do país, porque não vai seguramente.
A crise económica potenciou o aparecimento de empreendedores…
Diria que a crise económica não só potenciou o aparecimento de empreendedores mas, acima de tudo, potenciou uma mudança de paradigma: abertura ao mundo. Não advogo que é positivo ter havido a crise, mas houve — e é indesmentível — um facto novo: o das pessoas terem sido obrigadas a sair da zona de conforto — algumas mais positivamente e outras, infelizmente, não tão positivamente –, e terem olhado para o empreendedorismo como uma forma de solucionarem e até apostarem nas suas carreiras. Agora, não sou dos que defendem — nem nunca defendi, nem quando estava no Governo –, que o empreendedorismo vai defender todos os problemas do país, porque não vai seguramente. E para muitos vai ser uma infelicidade e um insucesso. Temos é de saber lidar com isso e perceber que quem falhar, porque tentou e não conseguiu, não tem de ser penalizado. Isso é também uma mudança.
Diria que o empreendedorismo está diferente do que estava há anos?
Está seguramente diferente do que era há seis ou sete anos, disso não tenho dúvidas. E está a evoluir. Agora está a chegar a um nível de maior maturidade e vamos ver casos que nos pareciam de sucesso e que vão falhar. E outros que achávamos que não teriam sucesso e que vão ter.
E esta eventual retoma económica pode prejudicar o movimento do empreendedorismo?
Seguramente um aumento do emprego em áreas como as engenharias vai criar pressão sobre estas empresas porque vai haver maior concorrência. Mas isso é verdade aqui como em qualquer outro sítio. O que diria é que aquilo que as startups têm de fazer são projetos ambiciosos, que mostrem valor e que, acima de tudo, acelerem o seu crescimento para poderem reter e até contratar mais pessoas. De resto, as startups que se souberem posicionar podem ter o futuro assegurado porque os millennials têm necessidades muito diferentes e, portanto, haverá mercado para quem as souber satisfazer.
Como é que avalia a situação económica do país?
Independentemente da sustentabilidade ou não, as notícias sobre a evolução da economia são ótimas, sobretudo porque o país ainda há pouco anos teve de fazer um ajustamento e viu o PIB contrair uma enormidade. Agora está a conseguir recuperar dessa contração e crescer a ritmos, até acima da Zona Euro, é muito importante. São ótimas notícias e temos de estar todos positivos. Na redução de emprego, em Braga tivemos uma das reduções mais significativas, reduzimos cinco mil desempregados, sinal de que está a ser criado emprego. Agora a questão é a sustentabilidade deste crescimento.
Acredita que são números sustentáveis ou é a história a repetir-se?
Não sou analista: para o país é bom que seja sustentável, não podemos cair no risco de termos aqui mais um pico. Felizmente, com um padrão diferente muito mais baseado em exportações e muito menos em investimento público. Esse é um sinal muito positivo, mas também acho que o processo que o país tem percorrido ao longo destes anos é que faz com que isto seja possível: não é um coisa de um ano ou dois, e também não é seguramente só uma questão do Governo de que fiz parte, do trabalho que fez.
Como diria o Presidente da República, o mérito é de todos.
Diria que há aqui méritos que não podem ser deixados para trás como o de algumas das reformas estruturais e que levaram a uma economia mais virada para fora. Em 2011, Portugal exportava à volta de 35% do PIB e hoje estamos nos 41/42%. Isto não se fez de um dia para o outro e, de facto, é uma alteração significativa e estrutural do nosso modelo económico e que eu defendia há muito tempo. O mercado interno não vai crescer, pode crescer um pouquinho por aumento do consumo, mas não vai crescer. É este que temos e portanto Portugal é um ótimo país para fazermos testes, para fazermos produção. Depois temos de vender lá fora e esse é o caminho que as empresas estão a fazer, algumas de forma mais sustentada. Se já estamos no momento em que podemos chegar e dizer que o país vai crescer 2,8% este ano? Não sei…não sou futurologista, como português gostava que o crescimento fosse sustentável. Seria bom para todos.
É bom que não embandeiremos em arco porque há muito para fazer, e as coisas não passam de muito más a muito boas só porque se decide por decreto.
Mas estes indicadores trazem vantagens para as empresas e facilitam o trabalho a quem tenta atrair investimento estrangeiro?
Claro que sim, e todos os dias trabalhamos nisso. Houve momentos em que foi difícil porque a mensagem que tínhamos para passar para fora não era obviamente a melhor. Mas isso obviamente ajuda-nos e tem sido uma mensagem lá fora junto das multinacionais: as coisas estão a evoluir e, de um momento de crise profunda que o país atravessou, estamos agora num momento de tendência positiva e esperamos que seja sustentável. Agora, há muita coisa por fazer e que. Acho que as euforias nunca são boas: é ótimo termos a euforia de sermos campeões da Europa. Mas nestas que envolvem números é bom que não embandeiremos em arco porque há muito para fazer, e as coisas não passam de muito más a muito boas só porque se decide por decreto. Aliás, está provado que a economia não cresce por decreto. A economia cresce devido às empresas porque há confiança e porque se faz o trabalho certo todos os dias.
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Carlos Oliveira: “Empresas de Braga merecem ser reconhecidas pelo contributo que dão às exportações”
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