Botton chama elites portuguesas à responsabilidade. “Não são especialmente assertivas”
Líder da gigante industrial Logoplaste aponta o dedo à falta de assertividade das elites económicas, afirmando que “continua a haver muita promiscuidade entre as empresas e o Estado” português.
Angustiado com o estado “lamentável” do ambiente político e económico em Portugal, Filipe de Botton, chairman executivo da Logoplaste, sublinha que “a responsabilidade recai sobre as supostas elites portuguesas, que não são especialmente assertivas”, dizendo mesmo que “falta coragem nas empresas” nacionais.
“Lamentavelmente, a nossa suposta elite, que tem acesso à comunicação para divulgar o que pensa, não é assertiva. E continua a haver muita promiscuidade entre as empresas e o Estado. Somos responsáveis pelo que está a acontecer no país porque não nos afirmamos. E somos responsáveis pelo que vamos deixar aos nossos filhos e aos nossos netos”, apontou.
Numa intervenção durante a 6.ª edição da Fábrica 2030, uma conferência organizada pelo ECO na Super Bock Arena – Pavilhão Rosa Mota, no Porto, Filipe Botton apontou que “a burocracia é um drama” em Portugal e reconheceu que isso é difícil de explicar a investidores estrangeiros que equacionem investir no país.
Continua a haver muita promiscuidade entre as empresas e o Estado. Somos responsáveis [as elites empresariais] pelo que está a acontecer no país porque não nos afirmamos.
A um mês das eleições legislativas, o empresário aconselhou o próximo Governo a “ser pragmático” e a executar aquilo que “está mais do que estudado”. Por outro lado, salientou que é preciso “voltar a dignificar a função governativa — atualmente não é minimamente dignificante” e defendeu que “o primeiro-ministro devia ganhar 20, 30 ou 40 mil euros por mês”.
Crítico do fim das Parcerias Público-Privadas (PPP) no setor da saúde, que eram “mais rentáveis e prestavam um melhor serviço” às populações, nas palavras do chairman executivo da Logoplaste, lamentou que “em Portugal há cada vez menos dinheiro — e o que há é para abater dívida e não para investir”.
Por outro lado, o responsável da Logoplaste lamentou que “em Portugal não [haja] Justiça”. “Não é só o acesso, como é mais forma do que conteúdo. Consigo fazer da Justiça o que quero. Há pessoas há mais de dez anos a enrolar a nossa Justiça. Isso é gravíssimo”, acrescentou, defendendo um modelo “mais anglo-saxónico e menos napoleónico”.
Por fim, partilhando o palco com Carlos Mota Santos, com Miguel Stilwell d’Andrade e com Ana Figueiredo, frisou na mesma conferência que “não há uma política de imigração em Portugal”, apontando-o como um “tema importantíssimo, mas em que estamos a concorrer com outros países”.
E deu até o exemplo do chamado regime fiscal para residentes não habituais, que “devia ser aplicado a engenheiros para a Mota-Engil e a técnicos para a Altice ou para a EDP”, em referência aos gestores presentes esta manhã no Super Bock Arena. “Em Portugal não se discutem os temas [que importam]. Não são as mensagens dos WhatsApp e as mentirinhas do dia-a-dia que interessam”, concluiu.
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