Going public? Intersections and roundabouts

  • Francisco Martins Caetano
  • 29 Maio 2017

Porque é que o Spotify (ou qualquer outra start-up) “renuncia” a levantar o dinheiro que uma oferta pública de subscrição (OPS) permitiria?

No passado dia 24 de Maio decorreu mais um Via Bolsa na qual foi tratado o tema do financiamento através do mercado de capitais e a reestruturação dos mercados Euronext existentes, designadamente com a autonomização de um novo mercado para start-ups e PME, o Euronext Access+.

Aproveitando esse evento e, bem assim, as notícias que têm vindo a público sobre a forma peculiar que um potencial IPO do Spotify poderá assumir, decidimos escrever sobre esse evento-objectivo (muitas vezes irreal) da vida de um start-up e dos empreendedores.

De uma forma demasiado simplista, a expressão going public significa a admissão à cotação num mercado regulamentado de uma empresa.

Este evento na vida de uma empresa representa um passo importante porque permite às empresas levantar capital na esperança de expandir o seu negócio mas, ao mesmo tempo e talvez até mais importante, permite aos investidores aproveitar esse evento como uma estratégia de saída ou simplesmente para fazer algum cash-in.

A estrutura que se espera que o IPO do Spotify assuma (diferente do modelo habitualmente utilizado por start-ups que já deram o salto) confere-lhe um carácter especial. De facto, as notícias que têm vindo a público levam-nos a crer que a administração do Spotify pretende fazer uma oferta pública de venda (OPV) e não uma oferta pública de subscrição (OPS).

Ou seja, em vez de serem emitidas novas acções (como acontece numa OPS) com o equivalente encaixe financeiro para a sociedade, o que acontece é uma transmissão das acções já emitidas para os investidores que manifestaram a vontade de subscrever a OPV.

Na verdade, uma OPV permite atribuir um prémio aos accionistas que o eram antes da OPV. De facto, as principais vantagens financeiras de uma OPS são habitualmente absorvidas não por aqueles accionistas mas pelos investidores institucionais que adquirem as acções ao seu initial offering price e que as transacionam no dia seguinte (já depois de terem sido admitidas à cotação) com um ganho significativo (dados históricos demonstram uma valorização média de entre 5% e 20% no primeira dia de negociação).

Mas esta forma de IPO, por não “implicar” a emissão de novas acções, levanta uma outra dúvida: porque é que o Spotify (ou qualquer outra start-up) “renuncia” a levantar o dinheiro que uma OPS permitiria? Os fundos decorrentes dessa OPS seguramente compensariam os fees dos financial advisors e permitiriam expandir a actividade da start-up e pagamento eventuais passivos financeiros que a start-up possa ter.

Cabe perguntar: não quer o Spotify dinheiro? Talvez não. De facto, tudo aponta para que o Spotify ainda tenha uma almofada financeira confortável decorrente dos mil milhões de dólares que angariou com uma emissão de dívida convertível em Março de 2016.

Pegando no exemplo do Spotify, se uma start-up não precisa do dinheiro e atribui aos seus investidores iniciais uma estratégia de saída (atribuindo, igualmente, dar liquidez aos colaboradores da start-up detentores de stock options), talvez faça sentido utilizar-se uma OPV e não uma OPS.

Esperemos para ver se e quando o Spotify irá fazer o seu stock market debut e se a sua estratégia irá ou não ser seguida por outros tech unicorns (Uber, Airbnb e Dropbox).

Nota: Por decisão pessoal, o autor não escreve de acordo com o novo acordo ortográfico.

  • Francisco Martins Caetano

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