Exclusivo Nowo dá 15 argumentos para convencer regulador a aprovar fusão com a Vodafone

Em risco de encerrar se não encontrar um novo investidor, a Nowo dá 15 argumentos para tentar convencer a Autoridade da Concorrência (AdC) a aprovar a venda da operadora à Vodafone.

A Nowo admite encerrar se a venda à Vodafone não for viabilizada pela Autoridade da Concorrência (AdC), avançou o ECO em exclusivo na manhã de domingo, com base em declarações do presidente do Conselho de Administração, Miguel Venâncio. Esse é um dos cenários, mas a operadora continua convencida de que o regulador vai emitir “uma decisão positiva”, evitando o possível despedimento de 140 trabalhadores diretos e um impacto em 360 indiretos, indica a empresa num comunicado a que o ECO teve acesso.

“A Nowo vem afirmar que espera uma decisão positiva por parte da AdC, permitindo assim avançar com o negócio com a Vodafone tendo em conta o novo pacote de remédios apresentado por esta. Este é um desfecho há muito esperado pela Nowo, que considera que esta operação é crítica e chave para a continuidade e sucesso da operação em Portugal”, lê-se no documento, partilhado com o ECO no sábado à noite.

Na nota, que deverá ser divulgada à restante imprensa, fonte oficial da operadora de telecomunicações diz que a AdC “colocou obstáculos à sua aprovação ao considerar” que o primeiro pacote de compromissos era insuficiente. Em causa estava a proposta da Vodafone de ceder 40 MHz de espetro da Nowo à concorrente Digi para 5G, dando-lhe ainda acesso grossista à sua rede de fibra ótica.

O documento aponta ainda uma série de argumentos para, nesta reta final, tentar convencer a AdC a viabilizar a compra, numa altura em que, de acordo com o transmitido por Miguel Venâncio, a decisão do regulador deverá ter de ser tomada até ao final de fevereiro, isto é, a próxima quinta-feira:

  • A quota de mercado da Nowo “não é expressiva” e representa menos de 2% no móvel e 2,8% no fixo. “Com a consolidação deste negócio, a quota de mercado da Vodafone permaneceria menor que as restantes operadoras já consolidadas no mercado”.
  • A Nowo “não pode ser considerada uma força competitiva importante no mercado português “dada a sua dimensão e delicada situação financeira”.
  • A concretização do negócio “seria benéfica para os clientes Nowo” porque “permitiria realizar uma migração dos seus serviços para a rede moderna de fibra ótica da Vodafone e através de sinergias da operação”.
  • O negócio permitiria à Vodafone “realizar novos investimentos” em “desdobramentos” da sua rede de fibra ótica nas áreas em que a Nowo está presente, que são “zonas maioritariamente rurais onde até agora não há praticamente concorrência”.
  • A Nowo deixou de contar com o apoio do seu acionista, a MásMóvil: com a aprovação pela União Europeia da fusão Orange/MásMóvil, a Nowo “neste momento depende de si mesma”.
  • A Nowo “tem vindo a perder quota de mercado”, porque “disponibiliza rede de cabo incapaz de competir com as modernas redes fixas de fibra ótica”. “Nos últimos quatro anos perdeu cerca de 30% dos seus clientes fixos, neste momento mantém apenas um terço do máximo de clientes que poderia ter sendo esta uma informação que terá sido partilhada desde o início com a AdC”, diz no comunicado.
  • O chumbo da operação pode levar ao despedimento de 500 pessoas: “Existe uma grande preocupação por parte dos mais de 500 colaboradores diretos e indiretos que dependem do projeto Nowo e que têm total conhecimento da situação atual e onde esperam o melhor desfecho”, aponta fonte oficial.
  • A integração da Nowo na Vodafone daria impulso à concorrente Digi. Na ótica da Nowo, a Digi tem tido “um histórico sucesso baseado em baixos preços em outros mercados europeus” e, com o leilão do 5G, a Nowo e a Digi “ficaram com uma posição menos relevante devido à quantidade reduzida de espetro que cada uma adquiriu”. Com a aprovação do negócio, “seria uma oportunidade única de poder melhorar de forma imediata […] a situação de partida do operador que, neste momento, está mais capacitado para aumentar a concorrência em Portugal”.
  • Os remédios permitiriam “que a Digi disponibilizasse espetro necessário para acelerar a sua escalabilidade”.
  • Portugal beneficiava da “vantagem” e do “fator diferenciador” de “contar de imediato com quatro operadores fortes com a sua própria rede móvel e com espetro suficiente para uma concorrência eficiente”, entende a Nowo.
  • Sem aprovação do negócio, os remédios que reforçariam a Digi “seriam perdidos”, o que “iria claramente em contraposição a uma maior concorrência no mercado português”.
  • Nem a Anacom se opôs à operação se houvesse compromissos, recorda a Nowo: “A Anacom, nas suas primeiras observações e recomendações, considerou razoável a integração sempre que se aplicassem as condições adequadas, em particular, a devolução do espetro 5G que foi licitada na primeira fase do último leilão 5G e a sua aplicação como ‘remédios’ para potencial a competitividade de um novo concorrente.”
  • O mercado português não tem capacidade para cinco operadores, afirma a Nowo: “Um mercado relativamente pequeno como o mercado português só permite a presença de um número limitado de operadoras com uma relevância e presença mínimas. […] Em Portugal, a AdC não pode pretender que haja cinco operadoras com rede móvel própria para 10,5 milhões de habitantes”, atira a Nowo.
  • Enquanto isso, em Espanha, há três operadores para 48,5 milhões de habitantes.
  • Todo o mercado “seria beneficiado”, conclui a Nowo: “Os operadores, Digi, Vodafone, os profissionais da Nowo e os seus clientes” iriam “passar a ter acesso a uma rede e serviços melhores e uma maior concorrência”, argumenta a empresa.

Este domingo, após a publicação da notícia sobre o possível encerramento da Nowo em Portugal, o ECO colocou questões à AdC, nomeadamente se tem tido em conta na sua análise esse cenário, o que levaria ao desaparecimento da pressão de concorrência que o regulador quer proteger. Encontra-se a aguardar resposta.

Esta foi a primeira vez que que um responsável da Nowo se pronunciou publicamente sobre esta operação. Em exclusivo ao ECO, o gestor, que já foi presidente executivo, não deixou margem para dúvidas: aconteça ou não a venda à Vodafone, a MásMóvil “vai desinvestir” e não será “o parceiro industrial da Nowo em Portugal”. Sem um novo investidor, o fim da Nowo é uma possibilidade real: “Ainda não temos os cenários fechados, mas esse é um dos cenários que poderá vir a acontecer, que é, sim, o encerramento da Nowo em Portugal”.

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