EDP e americana Rondo lançam baterias para produzir calor industrial sem emissões
A EDP está em conversações com cerca de 10 potenciais clientes a nível europeu, pelo menos um deles português.
O hidrogénio verde já não é a única tecnologia emergente que pode ajudar a indústria a descarbonizar. A EDP aliou-se a uma empresa americana, a Rondo Energy, para lançar uma nova tecnologia, as baterias térmicas, que permite produzir calor, em grande escala, com base em energias renováveis. Indústrias alimentares, químicas e grandes complexos industriais, com processos que requerem muita energia térmica – ou seja, calor – são possíveis interessados. Pelo menos um dos 10 clientes europeus que estão de momento em negociações com a elétrica para aplicar esta solução é português.
A EDP e a Rondo vão fornecer a clientes industriais baterias térmicas que serão alimentadas por eletricidade renovável, e que podem ser um “substituto simples” para caldeiras a gás tradicionais.
De acordo com Vera Pinto Pereira, administradora executiva da EDP, a empresa está em contacto com oito a 10 clientes espalhados pelos mercados europeus onde a EDP comercializa energia – Portugal, Espanha, França, Itália, Polónia, Alemanha, Bélgica e Luxemburgo. Os primeiros projetos devem entrar em operação em 2025.
A eletricidade que alimenta as baterias terá origem tanto em projetos solares descentralizados, instalados junto às baterias térmicas, como em contratos de longo prazo (PPA), associados a ativos eólicos e solares da EDP. Neste sentido, associada à instalação das baterias no universo de até 10 clientes, que corresponde a 2 gigawatts de armazenamento, serão construídos parques solares e eólicos com uma capacidade total de 400 megawatts.
As baterias térmicas da Rondo capturam energia elétrica renovável, que é intermitente, mas convertem-na em calor contínuo de alta temperatura, explica a EDP. Têm também a opção de armazenar eletricidade renovável em excesso, na forma de calor, mas que pode ser consumida como eletricidade, ou mesmo ser injetada na rede. Desta forma, a EDP vai ser pioneira oferecer contratos de fornecimento de calor e energia renovável.
Alternativa ao hidrogénio verde, mas “há espaço para ambos”
Até ao momento, as grandes indústrias tinham no hidrogénio verde a principal promessa para a descarbonização da sua atividade, no que toca a processos com elevadas necessidades caloríficas. No entanto, “há espaço para ambos”, indica Vera Pinto Pereira.
Para já, é difícil calcular qual destas duas soluções será economicamente mais competitiva, ou se existirão poupanças na aplicação das baterias térmicas face ao uso de caldeiras. Depende da evolução dos preços do gás e do dióxido de carbono, indica a administradora. A grande vantagem, diz, é a estabilidade nos preços energéticos, decorrente dos PPAs e da redução da dependência do gás, uma fonte energética mais instável.
“A tecnologia da Rondo abre uma grande oportunidade de negócio para a descarbonização dos nossos clientes com altas necessidades energéticas e que usam calor nas suas instalações industriais. Ao trabalhar com a Rondo, podemos responder às necessidades de energia com eletricidade renovável e calor de uma forma mais limpa, acessível e confiável. Esta parceria abre mais uma via de descarbonização que a EDP quer liderar na Europa”, afirma Vera Pinto Pereira, administradora executiva da EDP.
A cooperação entre a EDP e a Rondo começou em 2023, através do Free Electrons, um dos programas de inovação da EDP, que procura soluções de empresas de energias limpas inovadoras. Atualmente, a Rondo opera “o sistema de armazenamento de energia mais eficiente e de temperatura mais alta do mundo”, na Calgren Renewable Fuels em Pixley, Califórnia. Ao trabalhar com o seu parceiro Siam Cement Group (SCG), a Rondo está a expandir a capacidade de produção de 2 gigawats-hora (GWh) por ano para 90 GWh/ano, liderando esta indústria.
Esta parceria desbloqueia um novo mercado, ao substituir progressivamente os combustíveis fósseis queimados para produzir calor industrial, que atualmente liberta 15% do dióxido de carbono mundial.
A produção de calor industrial com energia renovável a nível global é uma oportunidade de cerca de 7 terawatts-hora (TWh). Segundo o recente estudo da SystemIQ sobre calor industrial, a implementação de baterias térmicas pode reduzir as emissões mundiais de gases com efeito de estufa em 20% e eliminar a combustão de gás fóssil em até 40%, indica a EDP.
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