Um quinto dos jovens que trabalham por conta própria dependem de um único cliente
Jovens que trabalham por conta própria estão mais expostos a dependência económica e organizacional do que colegas mais velhos. Um quinto têm só um cliente ou, tendo vários, um é dominante.
É mais frequente os jovens, que trabalham por conta própria, estarem dependentes de um único cliente do que os profissionais mais velhos. De acordo com os dados divulgados esta semana, um quinto dos portugueses com menos de 35 anos que trabalham de forma independente tinham apenas um cliente ou, tendo vários, um deles garantia-lhes, pelo menos, 75% dos rendimentos.
Vamos por partes. No total, no último ano havia 92,4 mil jovens (pessoas com 16 a 34 anos) a trabalhar por conta própria em Portugal. Desses, quase oito em cada dez tinham vários clientes e, portanto, não estavam economicamente dependentes de nenhuma entidade contratante.
No entanto, quase 21% dos jovens independentes estavam na situação inversa, isto é, tinham apenas um cliente ou, tendo dois ou mais, um deles era dominante. Em causa estão 19 mil indivíduos, revelam os dados publicados pelo Instituto Nacional de Estatística (INE).
Nas várias faixas etárias, é entre os jovens que a dependência económica é mais frequente, em termos relativos (peso de pessoas nessa situação no total de trabalhadores por conta própria com essa idade).
Quase 21% dos trabalhadores independentes jovens em dependência económica
Fonte: INE
Assim, enquanto um quinto dos menores de 35 anos estavam nessa situação, só 10,8% dos trabalhadores independentes com 35 a 64 anos estavam em dependência económica. E entre os mais velhos (65 a 89 anos), a fatia era de 14,3%.
Aliás, o peso da dependência económica registada entre os trabalhadores por conta própria jovens era mesmo superior à média apurada para o conjunto do mercado de trabalho (12,6%).
E também é entre os jovens que a dependência organizacional era mais frequente, isto é, era entre os trabalhadores mais novos que era maior a fatia de situações em que os clientes determinam o horário de trabalho.
Quase 16% dos jovens por conta própria veem horários determinados por clientes
Fonte: INE
Em concreto, enquanto 15,5% dos trabalhadores dos 16 aos 34 anos estavam em dependência organizacional face aos seus clientes, 12,4% dos trabalhadores dos 35 aos 64 anos estavam nessa situação e 8,6% dos trabalhadores dos 65 anos 89 anos.
Em declarações ao ECO, Frederico Cantante, professor universitário e investigador no CoLabor, sublinha que os dados da dependência dos jovens não são surpreendentes, já que, em geral, é entre esses trabalhadores que os níveis de precariedade são mais elevados.
O especialista exemplifica, dizendo que, considerando as formas “clássicas de precariedade”, a incidência de contratos a termo entre os mais jovens supera a registada nos demais grupos etárias. “Interpreto este resultado [dos trabalhadores por conta própria] quase como uma analogia“.
Frederico Cantante assinala, além disso, que Portugal compara mal com os demais países, no que diz respeito à precariedade, sendo que, considerando apenas os jovens, “compara ainda pior”, atira.
A explicar este cenário, identifica, está a lei laboral, que “é permissiva” em certos casos, mas também o perfil da economia, com elevado protagonismo de setores (como o turismo) onde os contratos a termo são mais frequentes.
Dependência económica mais frequente na agricultura
Menos de 54 mil trabalhadores por conta própria atuam no setor da agricultura, produção animal, caça, floresta e pesca, mas mais de 44% (53,6 mil indivíduos) têm só um cliente ou, tendo vários, há um que domina, no que diz respeito aos rendimentos que gere. Este é o setor onde a dependência económica é mais frequente entre os trabalhadores por conta própria.
Em contraste, nos serviços, quase 485 mil trabalhadores fazem-no de forma independente, mas só 8,7% (42,2 mil indivíduos) estão em dependência económica, sendo o setor onde essa situação é menos frequente, em termos relativos.
E na indústria? No total, há 160,5 mil indivíduos a trabalhar por conta própria, dos quais 22 mil em dependência económica. É o equivalente a 13,7%, mostram os dados publicados pelo INE.
Quanto às habilitações literárias onde a dependência económica é mais frequente, há que notar que quem completou o ensino secundário ou pós secundário está em destaque. Cerca de 14,2% dos trabalhadores por conta própria com estas habilitações tinham apenas um cliente ou, tendo vários, um era dominante.
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