O preconceito começa nas mulheres?
Na advocacia nem sempre os números são traduzidos de forma igualitária na progressão de carreira, no equilíbrio entre género nos cargos de topo e na conciliação da vida profissional com a pessoal.
Foi no ano de 2006 que pela primeira vez a classe da advocacia contabilizou mais mulheres do que homens: 12.996 advogadas face aos 12.720 profissionais do sexo masculino.
Desde então que o sexo feminino tem dominado a classe, com exceção do ano de 2008. Atualmente, dos 33.937 advogados, 18.802 são mulheres (cerca de 56%) e 15.135 são homens. Recorde-se que a advocacia esteve durante vários anos restringida às mulheres e só em 1918 é que viram assegurado o seu direito de acesso à profissão.
Apesar destes dados quantitativos demonstrarem um progressivo domínio da mulher na advocacia, nem sempre os números são traduzidos de forma igualitária na progressão de carreira, no equilíbrio entre género nos cargos de topo e na conciliação da vida profissional com a pessoal.
“Infelizmente ainda faz sentido comemorar o Dia da Mulher. Porque ainda há algum preconceito que importa realçar e muitas vezes nasce das próprias mulheres. E mais: conseguimos pôr com muita facilidade as mulheres no mercado de trabalho mas ainda não conseguimos meter os homens com essa facilidade no mercado familiar”, defende Sofia Egídio, general counsel da Indico Capital Partners. “A grande diferença seja a nível remuneratório e de evolução de carreira é na parentalidade, é quando nasce o primeiro filho”, refere.
Teresa Brito da Silva é mais otimista. “O preconceito está a melhorar muito com as gerações mais novas, está-se a esbater. A nova geração vai-nos ensinar muito e já nos está a ensinar muito”, considera a sócia da Abreu e membro da direção da ASAP. Quanto à licença de parentalidade, a advogada admite que, “neste momento, ainda não temos homens a pedir licença da parentalidade. Mas vai acabar por acontecer e a Abreu vai permitir”, lembrando que a Abreu Advogados “é uma sociedade com muitas mulheres, teve a primeira mulher como presidente do CA, tem uma managing partner que com certeza irá renovar o mandato”.
As mulheres “são as piores inimigas das próprias mulheres”, considera Tânia de Almeida Ferreira, sócia da CCA. E explica porquê. “Foi muito difícil para a minha geração desbravar um caminho que foi de homens. E o que se notou é que mulheres que deram o seu melhor, chegarem lá e passaram a ser one of the guys e não uma mulher, dificultando assim o acesso das mulheres para proteger esse estatuto”, lamenta. “Gostava muito que o dia da mulher fosse visto como um dia de memória e não como dia preenchido como um conjunto de reivindicações. Gostava muito que fosse isso e não as flores e os chocolates”, disse ainda.
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