Galp valoriza 2,36 mil milhões numa sessão. Analistas veem “clara mais-valia” na Namíbia e venda de parte da participação
O valor da Galp no mercado disparou após a empresa relatar o "importante" potencial comercial de um projeto na Namíbia. Analistas veem boas perspetivas mas destacam também alguns riscos.
A Galp fechou esta segunda-feira com uma subida de 2,36 mil milhões na capitalização bolsista para 13,83 mil milhões, segundo dados da Euronext Lisbon. Os analistas veem a notícia que a exploração petrolífera no campo Mopane na Namíbia é uma potencial “importante descoberta comercial” como uma “clara mais-valia” para a empresa, e veem também potencial na eventual venda de parte da participação da empresa no projeto. No reverso da moeda, está o risco de quebra dos preços do petróleo.
No domingo, a Galp enviou uma nota à Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM) a dar conta da conclusão da primeira fase da campanha de exploração de um bloco na Namíbia. Os trabalhos “potencialmente posicionam” este projeto como “uma importante descoberta comercial”, afirmou a empresa no comunicado. Esta segunda-feira, o valor da ação disparou 20,64% para os 19,35 euros, elevando a capitalização bolsista para os 13,83 mil milhões de euros.
O Caixa – Banco de Investimento (CaixaBI), na voz do diretor adjunto Carlos Jesus, afirma que ainda não consegue avançar um valor concreto, mas que irá incorporar uma avaliação do projeto da Namíbia no futuro e que esta “será aditiva em termos de valor”. Adianta que “a magnitude de hidrocarbonetos in situ perspetivam um valor que deverá ser significativo em termos absolutos para a Galp“, prevê.
Da parte do Banco Carregosa, o responsável de trading João Queiroz indica que “estas descobertas de hidrocarbonetos podem ter um impacto muito positivo no valor de uma empresa de exploração e produção, devido ao potencial de esperadas receitas futuras”. Neste caso, reconhece um “alto potencial de comercialização”, que relaciona com a perspetiva de um aumento “significativo” das vendas de crude, com o potencial de expansão das respetivas operações e com a atração de mais investidores e parceiros globais. Os ganhos de escala e eficiência também são argumentos a favor.
Mário Martins, COO da ActivTrades Brasil destaca que a descoberta “potencia lucros futuros ao mesmo tempo que reduz risco no projeto“, sendo “expectável que possa ocorrer uma reavaliação em alta dos títulos da Galp”.
“Se a empresa estava avaliada pelo mercado aproximadamente em 10 mil milhões de euros, não parece descabido que uma reserva desta dimensão faça disparar o valor da empresa entre 10-20%, pelo menos no curto prazo”, afirma, por seu lado, Vítor Madeira, analista da XTB. Isto, embora ressalve que “vai depender muito do que a Galp irá fazer com este projeto”.
O analista aponta “uma enorme incerteza” quanto ao futuro da exploração, os cash flows futuros e quanto da sua parcela poderá ser vendida a outras empresas. “Contudo, em qualquer dos casos, isto será uma mais-valia clara para a Galp“, considera.
No entanto, como possíveis desafios, Queiroz realça ainda a possível necessidade de mais capital do que o inicialmente estimado ou a eventual quebra das cotações do crude nos mercados internacionais. “O risco dependerá da confirmação das reservas ao longo dos tempos, para além do preço do petróleo no futuro”, reforça Mário Martins.
Por outro lado, a empresa enfrenta riscos como o aumento da regulação decorrente da agenda da “transição energética”, que poderá impactar os custos de produção ou mesmo limitar a produção, continua o responsável de trading do Banco Carregosa. Por fim, vê como uma sombra os riscos geopolíticos inerentes à geografia.
Venda de metade da participação pode ser “catalisador positivo”
De acordo com a Reuters, a Galp já lançou a venda de metade da sua participação de 80% no bloco de exploração ao largo da Namíbia (os parceiros NAMCOR e Custos detêm fatias de 10% cada). A informação é dada com base em três fontes do setor familiarizadas com o assunto. Os analistas olham para esta opção como positiva.
“Uma alienação parcial pode ser uma opção razoável, especialmente considerando o custo de desenvolvimento, e seria um catalisador positivo para a ação“, escreve o analista Massimo Bonisoli. Para João Queiroz, a venda pode ser uma “decisão inteligente” se permitir “um adequado valor de realização”, uma vez que, além de partilhar o risco com outros parceiros, a operação pode gerar capital que pode ser utilizado para financiar a operação, “adicionando mais equilíbrio e robustez financeira”.
Apesar de, pela ausência de dados disponíveis, a XTB não conseguir afirmar qual a melhor opção no que toca à futura posição da Galp neste projeto, “um cenário onde a Galp vende metade da sua porção da exploração e fica com a outra metade pode aumentar as suas receitas futuras, e ainda fica com capital para, por exemplo, abater dívida, recomprar ações, investir noutros projetos ou distribuir em dividendos pelos acionistas“. Esta casa de investimento vê três possíveis cenários: a petrolífera explorar na totalidade e receber os rendimentos ao longo de vários anos; vender a exploração e receber já o capital em desconto ou vender uma parte e explorar uma outra parte, o cenário aqui em causa.
O diretor adjunto do CaixaBI recorda que a possibilidade de venda já era antecipada, dada a percentagem elevada que a Galp detém no ativo. Defende que “a decisão deverá enquadrar-se na estratégia global da empresa em prosseguir com investimentos que sejam relevantes em termos de transição energética“. Sobre a conjugação de ambas as realidades – o potencial desta reserva e a transição energética na qual a empresa tem vindo a investir –, Carlos Jesus considera que, “caso esta descoberta seja aditiva de valor e monetizada a curto ou médio prazo, poderá proporcionar à empresa mais fundos para aprofundar os seus investimentos em termos de transição energética”.
A ActivTrades sublinha que quando ocorre uma descoberta efetiva numa jazida de petróleo, “a empresa rentabiliza imediatamente uma parcela substancial do seu investimento, daí que a venda de parte da exploração pode ser interessante”. Isto porque a empresa não só reduz o capital investido mas “especialmente porque reduz o risco, visto que mesmo que o mundo não caminhe para uma mobilidade verde a uma velocidade acelerada, certamente não caminha para mais dependência de petróleo“. Neste sentido, a casa de investimento prevê que as necessidades do ativo num futuro a 10 anos deverão ser inferiores às de hoje, e consequentemente o preço deverá corrigir de acordo com isso.
Para João Queiroz, do Carregosa, “as políticas ambientais e o progresso na transição para energias renováveis devem continuar a influenciar a perceção do mercado sobre a sustentabilidade dos negócios da Galp a longo prazo”, assinalando que a atividade da empresa “continua a deter uma relevante correlação com os fenómenos atmosféricos e de eventuais situações extremas climáticas“.
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