Correios faturam menos 91% com Certificados de Aforro e do Tesouro

No 1º trimestre de 2024, os Correios faturaram menos 21 milhões de euros com a comercialização de Certificados de Aforro e do Tesouro, depois de 2023 ter sido um ano recorde para os Correios.

Há vários meses que os Certificados de Aforro estão a perder o brilho na carteira dos portugueses. Desde que a 2 de junho do ano passado o Governo reviu em baixa a remuneração dos Certificados de Aforro, com a emissão de uma nova série, que as famílias reduziram significativamente o interesse por estes títulos de dívida do Estado desenhados para o retalho.

Isso é visível pela forte queda do volume de subscrições desde então, mas também pela significativa correção do montante global de comissões cobradas pelos CTT – Correios de Portugal na comercialização de Certificados de Aforro e Certificados do Tesouro na sua rede de lojas.

Só no primeiro trimestre deste ano, os Correios, que são ainda o principal veículo de venda destes produtos, tiveram uma queda homóloga de 91,1% da faturação com a comercialização de Certificados, que se traduziu em menos 21,1 milhões de euros nas suas contas face a igual período do ano passado. Esta correção foi gerada por uma queda homóloga de 96% do valor global de subscrições dos títulos de dívida do Estado, com particular enfoque para os Certificados de Aforro.

Desde 2018 que os CTT faturaram mais de 165 milhões de euros, ou 27,5 milhões de euros por ano, a vender Certificados de Aforro e Certificados do Tesouro nas suas lojas.

A alteração das condições de comercialização em junho de 2023 reduziu a atratividade deste produto [Certificados de Aforro] para o aforrador, devido à redução das taxas de juro, e limitou a capacidade de comercialização, devido à diminuição drástica dos limites máximos de aplicação por subscritor”, justifica os CTT no relatório e contas do primeiro trimestre de 2024, dando nota de uma faturação de “apenas” 2,1 milhões de euros com a venda destes produtos entre janeiro e março.

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A forte queda da receita da comercialização de Certificados de Aforro e Certificados do Tesouro teve, invariavelmente, impacto nas contas do primeiro trimestre dos Correios, que se traduziu numa queda homóloga de 53,9% dos lucros para os 7,4 milhões de euros.

No relatório e contas do primeiro trimestre de 2024, os CTT salientam que “a evolução do resultado líquido consolidado foi significativamente influenciada pelo decréscimo do EBIT recorrente [menos 8,8 milhões, uma taxa de variação homóloga de -34,2%], resultado do desempenho observado nos segmentos de Correio e Serviços Financeiros e Retalho [em que se enquadram os títulos de dívida do Estado]”.

Para os próximos trimestres, dificilmente a tendência dos números relacionados com a comercialização dos Certificados será diferente. E não será apenas pela contínua queda das subscrições de Certificados de Aforro por parte das famílias, que afundam há cinco meses seguidos, mas também pelo aumento da concorrência.

Receita recorde com a venda de Certificados de Aforro

Os Certificados de Aforro e os Certificados do Tesouro não são produtos menores nas contas dos Correios. Desde 2018 que os CTT faturaram mais de 165 milhões de euros, ou 27,5 milhões de euros por ano, a vender Certificados de Aforro e Certificados do Tesouro nas suas lojas.

Só em 2023, as receitas dos Correios com estes produtos financeiros atingiu o valor recorde de 44,4 milhões de euros. E 81% deste montante foi gerado somente no primeiro semestre do ano, no decorrer da forte procura por Certificados de Aforro da Série E que, como resultado da escalada galopante da Euribor a 3 meses neste período, a taxa de juro base dos Certificados atingiu o valor legalmente máximo de 3,5% entre março e maio (último mês de comercialização).

Através da concorrência [podemos] controlar melhor os custos anuais que pagamos aos CTT pela distribuição dos Certificados de Aforro.

Miguel Martín

Presidente do IGCP, numa audição parlamentar de 8 de fevereiro de 2023

Mas para o Tesouro, os Correios também não são um fornecedor menor. Segundo os relatórios e contas dos CTT, entre 2018 e o primeiro trimestre deste ano, atuando como intermediários, os Correios ajudaram o Estado a financiar-se junto dos particulares em quase 36 mil milhões de euros através da comercialização destes títulos de dívida do Estado.

No entanto, esta ligação quase umbilical entre o Estado e Correios – que ainda são responsáveis por mais de 80% das subscrições de Certificados de Aforro e Certificados do Tesouro – poderá ter os dias contados.

Desde 14 de março que o Banco Big tornou-se no primeiro banco a comercializar títulos de dívida do Estado desenhados para o retalho, após o Governo ter alargado os canais de distribuição dos produtos de dívida do Estado com a suspensão da Série E e a criação da Série F.

Para a Agência de Gestão da Tesouraria e da Dívida Pública (IGCP), a perspetiva é que possam juntar-se mais instituições financeiras ao Big a comercializar Certificados de Aforro e Certificados do Tesouro, para que, dessa forma, o Estado possa reduzir os custos com a sua distribuição, tal como confirmou Miguel Martín numa audição parlamentar de 8 de fevereiro de 2023.

“Através da concorrência [podemos] controlar melhor os custos anuais que pagamos aos CTT pela distribuição dos Certificados de Aforro”, referiu o presidente do IGCP no Parlamento.

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