Salário médio sobe para 1.090 euros mas perde 25 euros para a inflação

No primeiro trimestre, o ordenado médio líquido cresceu 6,3%, mas, considerando o impacto do índice de preços, baixa para 3,9%, o que se traduz num vencimento real de 1.065 euros.

Os salários estão a crescer, mas o índice de preços ainda “come” quase metade do aumento. Nos primeiros três meses do ano, o vencimento líquido dos trabalhadores por conta de outrem atingiu os 1.090 euros mensais, um incremento de 65 euros, o que representa uma subida de 6,3% em relação ao mesmo período de 2023. Mas a inflação de 2,3%, registada em março, ou seja, no mês em que termina o trimestre, continua a castigar as subidas salariais.

Assim, e em termos reais, o ordenado médio deu um salto de apenas 39,99 euros ou de 3,9% para 1.064,99 euros. Ou seja, o impacto do índice de preços retirou 25,07 euros ao aumento inicial de 65 euros, o que significa que quase 40% desse incremento foi absorvido pela inflação, segundo os cálculos do ECO com base nos novos dados publicados, esta quarta-feira, pelo INE, juntamente com as estatísticas do emprego do primeiro trimestre.

Ainda que o aumento dos preços tenha desacelerado significativamente, os salários dos trabalhadores continuam a sofrer perdas, depois de terem sido duramente castigados no ano passado. Em termos médios, em 2023, os ordenados líquidos, isto é, já depois dos descontos para a Segurança Social e da retenção na fonte em sede de IRS, cresceram somente 2,97% para 1.041 euros, quando a inflação média anual foi de 4,3%, quase mais 50% do que o aumento das remunerações, tal como o ECO noticiou.

Isto significa que mesmo com um incremento de 30 euros, o ordenado médio líquido perdeu, no ano anterior, 13,47 euros pelo impacto do agravamento dos preços. Para neutralizar este efeito, era preciso que o vencimento médio mensal aumentasse 43,47 euros para 1.054,47 euros.

O primeiro trimestre de 2024 trouxe, no entanto, uma melhoria, uma vez que o salário médio subiu 6,3%, acima da inflação, de 2,3%, o que se traduziu num ganho real, de 39,99 euros.

Maiores aumentos para Forças Armadas, administrativos e pessoal dos lares

Analisando a variação das remunerações médias líquidas por grupos de profissões, o INE mostra que, no primeiro trimestre do ano, a classe das Forças Armadas continua a beneficiar do maior incremento salarial. A folha de vencimento destes profissionais subiu de 1.221 euros para 1.376 euros, um aumento de de 155 euros, o que corresponde a um crescimento de 12,7%, em termos homólogos.

Mas, em termos reais, e descontando o impacto da inflação de 2,3%, o impulso no ordenado foi inferior, de 123,35 euros ou de 10,1%, o que se traduz numa remuneração média líquida de 1.344,35 euros. Ou seja, 31,65 euros foram absorvidos pelo aumento do índice de preços no consumidor (IPC).

No ranking dos maiores aumentos, surge, em segundo lugar, o pessoal administrativo. Estes trabalhadores auferiam, em média, 942 euros, um crescimento de 7,5%, o que se traduz em mais 66 euros, no final do mês, comparativamente com o ordenado de 876 do primeiro trimestre de 2023.

Mas se adicionarmos o efeito da inflação, o aumento salarial destes profissionais é menos expressivo: baixa de 66 euros ou 7,5% para 44,33 euros ou 5,1%, o que perfaz um ordenado real de 920,33 euros. Neste caso, a subida dos preços retirou 21,67 euros mensais aos administrativos.

Os trabalhadores de lares de idosos, seguranças e vendedores também tiveram um impulso salarial de 7,5%. Entre janeiro e março, o ordenado médio líquido atingiu os 834 euros, o que representa mais 58 euros face aos 776 euros que auferiam no primeiro trimestre do ano passado.

Descontando o impacto do custo de vida, o ganho destes profissionais foi mais modesto, traduzindo-se num incremento de 38,82 euros ou de 5%, o que perfaz um vencimento médio líquido de 814,82 euros, ou seja, menos 19,18 euros por mês.

Os trabalhadores não qualificados registaram aumentos de 7,4%. Auferiam 685 euros, um crescimento de 47 euros em relação ao ordenado de 638 euros do primeiro trimestre do ano passado. Mas a inflação retirou 16 euros mensais a este ganho. Feitas as contas, estes trabalhadores recebiam 669,24 euros.

Técnicos, gestores de topo, professores e médicos com menores aumentos

Em sentido oposto, os grupos profissionais com aumentos salariais menos significativos, em termos homólogos, foram os técnicos de nível intermédio, tendência que se mantém desde o ano passado. Entre janeiro e março, a folha de vencimento média alcançou os 1.150 euros, uma subida de 4,4% ou de 48 euros. Contabilizando o impacto do IPC, o incremento salarial recua para 2% ou 21,55 euros, o que perfaz um ordenado de 1.123,55 euros.

Os gestores de topo de empresas e representantes do poder legislativo e os profissionais das atividades intelectuais e científicas, onde se enquadram os professores e médicos, completam o pódio dos trabalhadores com crescimentos salariais mais residuais.

Os ordenados dos gestores de topo e dos políticos subiram 4,5% ou 80 euros para 1.865 euros mensais. Descontando a inflação, a subida passa para 2,1% ou 37,1 euros, que resulta num vencimento real menor, de 1.822,1 euros.

No caso dos professores e médicos, o incremento das remunerações foi de 5,4% ou de 77 euros, totalizando um vencimento líquido de 1.495 euros, em termos médios. Mais uma vez se aplicarmos o efeito do aumento dos preços, o impulso salarial recua para 3% ou 42,61 euros, o que dá um ordenado real líquido de 1.460,61 euros.

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