May vence mas sem maioria absoluta

Theresa May confirma vitória mas os conservadores perdem a maioria absoluta na Câmara dos Comuns. Corbyn pede demissão da líder opositora.

314 lugares. Dez dias antes do início das negociações para o Brexit, Theresa May conseguiu nas eleições britânicas desta quinta-feira menos lugares do que os conseguidos nas eleições de 2015, e que não chegam para obter uma maioria absoluta. Os conservadores estão em contagem decrescente para se sentarem em Bruxelas a negociar a saída da União Europeia.

Os trabalhistas de Jeremy Corbyn terão, em contrapartida, conseguido o melhor resultado dos últimos anos e ficaram com 266 lugares no Parlamento, resultado confirmado depois das primeiras projeções. O líder trabalhista já pediu a demissão da líder conservadora e assegurou que o partido irá tentar formar governo em minoria.

Theresa May, fica aquém daquele que era o seu objetivo — ampliar a maioria que já tinha no Parlamento. Os lugares obtidos na Câmara revelam a decisão de convocar eleições antecipadas uma má opção. Os 331 deputados que tinha no Parlamento podem vir a ser reduzidos (a acreditar nesta sondagem perde 17 lugares) e ficar mesmo aquém do necessário para a maioria absoluta (326 lugares).

Os resultados que estão a ser lidos com toda a cautela, apesar da tradição no Reino Unido não ser de grandes erros nas sondagens, mas apontam para já uma recuperação dos trabalhistas que poderão ter conquistado mais 34 lugares no Parlamento, face aos 232 que tinham na atual composição do Parlamento.

Este desempenho pode ser um reflexo de uma campanha eficiente levada a cabo por Jeremy Corbyn, que nos últimos dias conseguiu capitalizar com ataques aos cortes que Theresa May fez nas forças policiais, uma opção que se pode ter revelado desastrosa quando colocada no contexto dos ataques terroristas que infligidos no Reino Unido.

Primeiras reações

Logo após as primeiras projeções, na noite de quinta-feira, os trabalhistas emitiram uma primeira reação aos resultados. Em comunicado disseram que se a projeção for “minimamente correta, será um resultado extraordinário”. “O Labour terá percorrido um longo caminho para derrotar as esperanças de uma maioria conservadora. Nunca houve tal reviravolta no decurso de uma campanha. Parece que os Tories foram castigados por terem dado o povo britânico como garantido. Os trabalhistas fizeram uma campanha honesta e positiva – não embarcámos em ataques pessoais”, refere o mesmo comunicado.

Depois, já com 26 lugares apurados para a Câmara dos Comuns — 15 para os trabalhistas e oito para os conservadores — o próprio Jeremy Corbyn emitiu um pequeno comunicado no qual sublinha que a sua campanha mudou “a face da política britânica”. “Gostaria de agradecer a todos os membros e apoiantes [do Partido Trabalhista] que trabalharam tão intensamente nesta campanha, desde a campanha porta-a-porta até às redes sociais, e a todos os que votaram num programa que oferece uma mudança real ao nosso país. Seja qual for o resultado final, já mudámos a face da política britânica”, disse o líder trabalhista.

Numa atualização, às 2h28 da manha depois já estavam fechados mais de 100 dos 650 lugares no Parlamento, o Partido Trabalhista elegeu 70 deputados, o Partido Conservador já tinha garantido 54 assentos parlamentares e o Partido Nacional Escocês elegeu oficialmente 11 lugares na Câmara dos Comuns e o Partido Unionista Democrático também já tem três deputados.

 

Mercados reagem em queda

Os mercados estão a reagir a esta primeira sondagem à boca das urnas com uma quebra do euro (0,11% face ao dólar), mas também da libra. A moeda britânica perdeu mais de dois cêntimos contra o dólar imediatamente depois da divulgação do resultado desta sondagem, caindo de 1.2955 para 1.2752. Segundo a Associated Press, os investidores estão preocupados com o fim da maioria absoluta dos Conservadores, que têm de negociar com a União Europeia os termos do ‘Brexit’. A libra também perde face ao euro.

Esta primeira sondagem, levada a cabo junto de mais de 20 mil pessoas, em 144 assembleias de voto por todo o Reino Unido, revela ainda que o Partido Nacional Escocês desce ficando com 34 lugares na Câmara dos Comuns, o que pode comprometer a campanha independentista da Escócia.

os liberais democratas sobem oito lugares, conseguindo conquistar 14 lugares no Parlamento. Este era apontado como o partido com o qual Theresa May poderia ter de fazer uma coligação, em caso de necessidade, apesar de ambas as formações terem posições distintas em relação à negociação do Brexit. O líder do partido, Tim Farron, sempre disse que era contra uma coligação, por isso, esta pode ser uma solução difícil.

“Tim Farron deixou muito claro. Disse não há pactos, acordos ou coligação. Temos os nossos dedos queimados pela coligação. Não preciso de lho dizer. Considero muito, muito difícil ver como Tim Farron voltar atrás naquilo que já disse”, disse o antigo líder do partido Menzies Campbell, à BBC.

Com o atual desenho que sai desta primeira sondagem tudo pode estar em aberto, com a possibilidade de uma “coligação do caos”. Isto porque o partido de May tem exatamente os mesmos lugares de uma eventual junção/coligação entre trabalhistas (266), o Partido Nacional Escocês (34) e os Liberais Democratas (14), ou seja, 314 lugares. Alguns analistas consideram contudo que o modelo da “geringonça” portuguesa não é replicável no Reino Unido, tal como não foi em Espanha.

Outra das curiosidades que esta primeira sondagem à boca das urnas revela é que o Ukip, de Nigel Farage, perde o único deputado que tinha.

Os analistas antecipam uma noite longa, tendo em conta que os resultados finais só deverão ser conhecidos entre as três e as seis da manhã. Contudo, os primeiros resultados definitivos começaram a ser conhecidos às 23H00. Mas em cima da mesa paira a dúvida se Theresa May se demite, já que estas eleições não eram necessárias, mas foram realizadas porque a primeira-ministra queria reforçar a sua posição para negociar a saída do Reino Unido.

De acordo com o Financial Times, os nomes que poderão suceder a May na liderança dos Tories são Boris Johnson, Amber Rudd, David Davies e Michael Fallon.

Esta discussão vai ganhando peso à medida que várias figuras de peso na vida política britânica pressionam a saída da primeira-ministra. É o caso de George Osborne, ex-ministro das Finanças britânico de David Cameron, ou seja, um trabalhista. Osborne considerou estes primeiros resultados como “catastróficos”, numa entrevista à ITV (conteúdo em inglês). Já o ministro sombra de Osborne, o trabalhista John McDonnell também defendeu, na mesma estação de televisão, que May sai “altamente beliscada” por este resultado. Uma posição partilhada também pelo ex-ministro dos Negócios Estrangeiros Jack Straw que classificou May de “líder fraca e trémula” o que é “um desastre para o Partido Conservador e para Theresa May”, citado pelo The Telegraph.

As urnas abriram às 7H00 (de Lisboa) e encerraram às 22H00. Registaram-se para votar 46.900 milhões de eleitores, mais cerca de um milhão do que em 2015. Ao todo, concorreram 3.303 candidatos em 650 círculos uninominais, distribuídos por Inglaterra (533), Escócia (59), Irlanda do Norte (18) e País de Gales (40).

Artigo atualizado às 7h25 de sexta-feira.

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