Operação Maestro. Têxtil enfrenta prejuízos “gravíssimos” e pode perder centenas de milhões nas exportações

O fim dos apoios nas campanhas de promoção no setor têxtil poderá refletir-se numa quebra significativa do volume de negócios ao nível das exportações, avisa a associação do setor.

A Operação Maestro, que investiga um esquema de fraude nos fundos comunitários que terá lesado o Estado português em cerca de 40 milhões de euros e que terá o empresário Manuel Serrão como principal mentor, paralisou a Associação Selectiva Moda (ASM) e deixou as empresas do setor têxtil português sem apoios para a participação em feiras e campanhas de promoção internacional. Uma situação que traz prejuízos financeiros “gravíssimos” e que pode tirar centenas de milhões de euros às exportações do setor.

A Associação Seletiva Moda assume um papel particularmente importante na dinamização da promoção das empresas têxteis nacionais, na medida em que aprova projetos de empresas financiados pela União Europeia, com vista à promoção nacional e internacional da indústria têxtil e do vestuário. A associação apoia as empresas através da comparticipação de uma importante fatia dos custos associados à participação em feiras, ajudas que já não chegam às empresas na sequência da Operação Maestro.

“As empresas estavam abrangidas num determinado projeto, com determinadas despesas orçamentadas e perderam todos os apoios que tinham da Associação Seletiva Moda. Não vão ter os apoios de 50% dos custos da feira. Não terão apoio nenhum”, explica ao ECO Mário Jorge Machado, presidente da Associação Têxtil e Vestuário de Portugal (ATP). O dirigente associativo destaca que “esta operação vai acarretar gravíssimos prejuízos financeiros para as empresas”.

As empresas perderam todos os apoios que tinham da Associação Seletiva Moda. Não vão ter os apoios de 50% dos custos da feira. Não terão apoio nenhum.

Mário Jorge Machado

Presidente da Associação Têxtil e Vestuário de Portugal (ATP)

Sem as ajudas da ASM, as empresas são confrontadas com uma duplicação dos custos para participarem em campanhas que servem como montra para os seus serviços no exterior. “Uma empresa que tinha previsto no seu orçamento gastar 40 ou 50 mil euros para participar em feiras este ano, de repente vai ter de ter 100 ou 150 mil euros, porque não vão ter os apoios que iriam ter”, calcula o presidente da ATP, que, perante a situação de impasse que se vive na Selectiva Moda, se candidatou para apoiar a internacionalização do setor no próximo ano.

 

O salão Modtissimo tem duas edições por ano. A última aconteceu a 21 e 22 de fevereiro na ExponorModtissimo

Além da candidatura para apoiar estas ações lá fora, a ATP vai também organizar a próxima edição do mais antigo salão têxtil da Península Ibérica, com data marcada para os próximos dias 12 e 13 de setembro na Exponor (Matosinhos), de modo a ajudar as empresas a ultrapassar as dificuldades que enfrentam desde que rebentou o caso que motivou 78 buscas e implicou vários empresários.

Enquanto aguarda a apreciação da candidatura aos apoios à internacionalização para o próximo ano, Mário Jorge Machado destaca a importância destas ações de promoção para o setor têxtil, um dos mais exportadores da economia nacional.

“O setor exporta perto de 6.000 milhões de euros. Os apoios que chegavam em termos de participação, incentivos para participação em feiras, são na ordem de quatro ou cinco milhões por ano”. Um valor que qualifica como claramente insuficiente, de “0,0001%”. “Os incentivos para este setor são para as feiras. Vivemos do mercado internacional e não para o mercado nacional, 80% do volume de negócios do setor é gerado na exportação”, completa.

“Não havendo campanhas de promoção nem feiras, pode haver um impacto que pode chegar às centenas de milhões de euros em termos de exportações portuguesas e na diminuição de volume de negócios“, avisa o empresário nortenho.

O presidente da ATP lembra ainda o forte crescimento registado pelo setor ao nível da internacionalização nos últimos anos, fruto do investimento feito pelo setor, com “as marcas que querem uma produção mais sustentável a deslocalizar compras para Portugal”, com impacto no volume de negócios. “Não adianta fazer bem, tem de se mostrar o que se está a fazer“, atira.

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