Capitais de risco querem reforço do Consolidar do Banco de Fomento
"O pipeline está a ser dinamizado e monitorizado de forma muito próxima, para assegurar uma gestão eficiente e eventuais reafectações”, avançou ao ECO fonte oficial do Banco de Fomento.
As capitais de risco querem mais fundos no âmbito do programa Consolidar. Para já vão concorrer ao reforço previsto nas regras, no final deste ano, mas admitem ter um pipeline de projetos suficientemente forte para receber mais do que o inicialmente previsto. Muitos gostariam que houvesse uma transferência de verbas de programas que apresentam uma execução mais baixa, como o Venture Capital ou o Deal-by-Deal, para o Consolidar. O ECO sabe que essa é uma hipótese que a administração do Banco de Fomento vê com bons olhos, mas não para já. A pressão para executar as verbas do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) poderá ser determinante na decisão.
Este programa arrancou no terreno com a escolha de 14 capitais de risco, em setembro de 2022, mas, entretanto, o leque foi reduzido para 11. Contudo, a meta continua a ser a mesma – injetar 500 milhões de euros em PME e mid caps até 31 de dezembro de 2025. Quando foi lançado a dotação inicial era de 250 milhões de euros, mas em setembro de 2022 foi duplicada tendo em conta a procura significativa – 33 propostas que ultrapassavam os 1.300 milhões de euros. E nas regras está expresso que “a dotação pode ser revista, a qualquer momento, pela entidade gestora do Fundo de Capitalização e Resiliência (FdCR), constituído com verbas do Plano de Recuperação e Resiliência.
As 11 capitais de risco já receberam 483,8 milhões de euros do FdCR aos quais se comprometem juntar 263 milhões de capital privado. As regras determinam que o fundo pode ter no máximo uma comparticipação de 70%. Mas também admitem que “o investimento do FdCR no fundo de capital de risco pode aumentar até uma vez e meia o montante inicialmente investido pelo FdCR, até um máximo de 60 milhões de euros”.
Para isso é necessário que 60% do montante subscrito no fundo de capital de risco esteja investido em empresas até 31 de dezembro deste ano.
Várias capitais de risco contactadas pelo ECO garantem estar em condições de o fazer. A última atualização do Consolidar, de 3 d ejunho, revela que só foram investidos nas empresas 57,97 milhões de euros do FdCR e 59,34 milhões de investimento privado. Mas há negócios que já estão em fase de closing e de due dilligences.
“Temos tudo a postos para fechar algumas operações que poderão rondar os 15 a 20 milhões de euros”, contou ao ECO, Miguel Herédia, partner da Growth. Em causa estão dois grupos portugueses: um de grande dimensão na área do retalho e outro na área da educação. “Além disso, estamos com mais um investimento na área da medicina em Espanha e estamos a analisar oportunidades na área de IT”, acrescentou o responsável.
Já Miguel Miranda, diretor executivo da Touro, revelou ao ECO que está prestes a concluir três aquisições que serão incorporadas na S317 Consulting, uma empresa de serviços de consultoria e engenharia de gestão que trabalha com o Banco Mundial e com a EDP, por exemplo. A operação deve estar concluída em junho ou julho e tem o objetivo de tornar a empresa “na maior consultora de sustentabilidade em Portugal”. Recordando que o seu fundo é industrial avança que tem na calha outros negócios: um na área da cartonagem e papel e outros na área da metalomecânica associada à construção e infraestruturas, à mobilidade elétrica e ainda na área da eficiência energética nos edifícios.
A HCapital fechou “esta semana o investimento numa nova empresa”, disse ao ECO Isabel Duarte Lima. “Iremos anunciar nos próximos dias e temos mais três ou quatro operações em fase adiantada de negociação, algumas com perspetiva de conclusão até ao final do mês em curso”, acrescentou a sócia fundadora da capital de risco. Já a Horizon fechou um negócio, a semana passada, no setor têxtil, disse ao ECO, Sérgio Monteiro, sem querer avançar para já os detalhes da operação.
Também António Esteves está na fase de closing do seu sexto investimento no âmbito do Consolidar. Sem querer levantar a ponta do véu, o fundador e CEO da Fortitude Capital avançou apenas que será também na área do imobiliário.
A Core Capital está igualmente “numa fase muito avançada” de closing de duas operações, uma na área da logística e outra da indústria agroalimentar. No pipeline há um terceiro investimento na área da saúde que teve um volte face com os acionistas e que teve de ser renegociado.
Além do pipeline forte apresentado no Consolidar, a transferência de dotações entre programas é defendida pela maioria das capitais de risco pelo maior apetite dos investidores privados em apostar na consolidação e crescimento empresarial, em detrimento da aposta em startups e capital de risco.
Miguel Miranda exemplifica com os dois fundos que a Touro tem: um no âmbito do Consolidar do BPF e outro, um fundo Sifide, criado para responder ao interesse do mercado, mas que não se candidatou ao programa de Venture Capital do Banco de Fomento. “No Consolidar temos um pipeline maior que a extensão do fundo pode suportar. Houvesse mais dotação e tenho empresas onde alocar”, diz perentório o diretor executivo. “Mas, do lado do capital de risco e dos investimentos em startups há muita concorrência, há muitos fundos dessa natureza que nem sabem onde alocar o dinheiro, para além das dificuldades em levantar capital. O mercado é pequeno, as taxas de juro aumentaram e os investidores são conservadores e têm medo de arriscar”, acrescenta.
Martim Avillez Figueiredo, cuja capital de risco foi selecionada para o Consolidar e para o Venture Capital, reconhece que há mais apetite por parte dos investidores relativamente ao primeiro programa e tendo em conta a dimensão do seu pipeline veria com bons olhos a transferência de verbas entre programas. “Temos mais oportunidades ativas e muito interessantes. Não seria exigente investir mais 25 a 40 milhões. Há oportunidades e há maior capacidade de levantar dinheiro privado para este contexto de capitalização, crescimento e consolidação nas PME nacionais, em particular na nossa indústria transformadora, por oposição por exemplo ao universo das startups”, disse senior partner da Core Capital.
O ECO tentou contactar Marco Lebre da Crest Capital, que também está em ambos os programas, mas não foi possível até à publicação deste artigo.
Presentemente, o Programa de Venture Capital, que tem uma dotação de 400 milhões de euros, só tem 4,94 milhões de euros investidos em empresas, contra a dotação e o programa de co-investimento Deal-by-Deal, que conta com 200 milhões e tem 9,99 milhões investidos. Desempenhos que alimentam o argumento de transferência de verbas.
O Banco de Fomento recorda que “os fundos de capital de risco ainda se encontram em fase de subscrição de capital” e preveem-se “duas etapas de verificação de metas de execução”. “A primeira ocorrerá em junho de 2024 e a segunda em março de 2025”, especificou fonte oficial do banco. “O cumprimento dos objetivos definidos nestas metas permitirá aos fundos de capital de risco candidatarem-se a um reforço da comparticipação do Fundo de Capitalização e Resiliência (FdCR)”, acrescenta a mesma fonte.
“Desta forma, é essencial assegurar que o programa disponha da dotação necessária para acolher os possíveis reforços dos fundos, evitando assim descativar as verbas que possam ficar disponíveis decorrentes do referido processo de subscrição de capital em curso pelos fundos de capital de risco”, sublinha a mesma fonte.
É essencial assegurar que o programa disponha da dotação necessária para acolher os possíveis reforços dos fundos, evitando assim descativar as verbas que possam ficar disponíveis decorrentes do referido processo de subscrição de capital em curso pelos fundos de capital de risco.
Assim, uma qualquer reafetação de verbas poderá só ser decidida posteriormente.
O Banco de Fomento garante que pode, “com facilidade”, e desde que tenha “aprovação prévia da Estrutura de Missão Recuperar Portugal, fazer reafetação de verbas” entre os programas de investimento direto, ou seja, recapitalização estratégica e Deal-by-Deal. “Por esse motivo o pipeline está a ser dinamizado e monitorizado de forma muito próxima, para assegurar uma gestão eficiente e eventuais reafetações”, garantiu fonte oficial.
“Todos estes fatores são tidos em consideração pelo BPF com vista a assegurar uma gestão responsável e eficiente das dotações disponíveis dos referidos programas, tendo como objetivo maximizar a aplicação das verbas do FdCR no âmbito do PRR”, conclui a mesma fonte.
Mas apesar da pressão para executar as verbas do PRR poder forçar a reafectação de verbas entre programas, nem todas as capitais de risco vêm esta opção com bons olhos. “Não consideramos que essa seja uma prática correta de mercado”, disse ao ECO Isabel Duarte Lima, porque “acaba inevitavelmente por ter impacto também na componente privada de capital”. “O que é razoável é avançar-se com um novo fundo uma vez que este esteja concluído”, defende a acrescentou a sócia fundadora da HCapital.
“Levantar capital é difícil para todos”, reconheceu o responsável de uma capital de risco que preferiu não ser identificado. Mas “este tipo de programas distorce muito o mercado e introduz dúvidas para a capitalização de empresas e o capital de risco”, acrescenta, justificando assim a sua oposição a um eventual reforço do Consolidar.
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